– É a Soraia Ramos!!!
– Não acredito que ela está aqui.
– Ela é a minha cantora preferida!
– Soraia Ramos, vais entrar? Vais falar connosco? Vais?

É hora do recreio na Escola Básica da Quinta de S. João, na Arrentela, margem sul de Lisboa. Há uma visita especial na escola: é "filha" do bairro e um caso sério de popularidade também fora dele.

Com milhões de audições e uma data no Coliseu dos Recreios à porta, Soraia Ramos tanto pode ser encontrada na Arrentela como na Web Summit, onde é apresentada como empreendedora de sucesso. É uma "inspiração", uma voz em crescimento na lusofonia.

"Ela trabalhava na Suíça, na Subway [cadeia de restaurantes de fast food], de segunda a sexta. Levava a malinha dela para lá às sextas de manhã, no final do trabalho ia logo apanhar o avião para vir para cá cantar", conta a amiga Cátia. Soraia tem ambição ("O meu trabalho é seguir as pegadas da Cesária Évora, ao mesmo tempo que levanto a bandeira da lusofonia"), mas os pés bem assentes na terra.

Mariana Duarte passou um dia com a cantora, que acaba de lançar Cocktail, o seu álbum de estreia onde escutamos uma voz portentosa e versátil a driblar, sem vacilar e com janela aberta para o mundo, entre o r&b, a pop, o rap, o trap, a kizomba, o funaná, o afrobeats, o drill e até o sertanejo.

Nelson de Sousa, o produtor: "Mesmo se ela estiver cansada, quando ela entra no estúdio traz sempre energia, está sempre com power. Já cheguei a ligar-lhe às duas da manhã, porque tive uma ideia, e ela veio para cá, de pijama e tudo."

No ano em que o hip hop celebra 50 anos de vida, o rap português festeja 40. Francisco Noronha escolheu 12 discos da história do rap nacional, cartografia possível de uma paisagem múltipla e excitante. E Rodrigo Nogueira conversou com Ricardo Farinha, que escreveu o livro Hip Hop Tuga — Quatro Décadas de Rap em Portugal.

Onde Fica Esta Rua? é uma homenagem singular e minuciosa ao clássico de 1963 Os Verdes Anos de Paulo Rocha. Luís Miguel Oliveira entrevistou João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, que contam a história de uma cidade e de um cinema – e chamam Isabel Ruth.

O best-seller Consentimento, onde a escritora Vanessa Springora quis prender o predador sexual e pedófilo Gabriel Matzneff na sua própria armadilha, foi adaptado ao cinema por Vanessa Filho. Tornou-se um fenómeno entre os jovens franceses. Isabel Coutinho conversou com Springora.

Um trabalho de detective permitiu a Andy Rector mostrar os filmes para televisão dos grandes mestres de Hollywood. O ciclo Hours and Hours, na Cinemateca, é um acontecimento.

Luto, não-pertença, desajuste, velhos fantasmas actuais. É Lorrie Moore em Não Tenho Casa Se Esta Não For a Minha Casa, o regresso de uma das mais notáveis autoras actuais de língua inglesa. Isabel Lucas entrevistou esta americana, "escritora de escritores".

"Quando um país passa por uma guerra civil, ela nunca acaba. O fenómeno Trump continua a ser uma espécie de guerra civil. Há uma parte deste país, há uma parte da Confederação, da Guerra Civil do século XIX, que nunca desistiu e que controlou a narrativa durante muito tempo."

2024 está já aí e Trump pode voltar a ser Presidente.

Também nesta edição:

  • O jazz de Sara Serpa & André Matos vai da família ao mundo
  • Como uma antiga escola de Porto Santo, na Madeira, se tornou centro de arte
  • A estreia em Portugal de dois novos filmes de Yasujiro Ozu

E há mais neste Ípsilon. Boas leituras!


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