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Esta Manta de Retalhos é uma família de famílias (dos vinhos)
Exposição Manta de Retalhos mostra no Porto as fotografias dos membros do Clube de Viticultores do Soalheiro, a conhecida marca de Alvarinho verde produzida em Melgaço. Tem a assinatura dos fotógrafos Kitato e João Bernardino e é uma extensão do livro-homenagem publicado em Setembro.
António Araújo, João Rodrigues, Daniel Fernandes, Adélia Dias, Manuel António Ferreira, Cláudia Soares, Josué Celeiro. Um por um, são cerca de 150. Cada pose, cada postura, cada retrato levará uma identificação, um nome. E cada nome tem uma história. No Clube de Viticultores do Soalheiro, a conhecida marca de vinho verde produzida em Melgaço, e que foi a primeira a plantar um vinha contínua de casta Alvarinho - faz para o ano, tal como o 25 de Abril 50 anos — há famílias, há rostos, há pertença e há identidade. E todas elas estão emolduradas na exposição que esta quarta-feira inaugura na Galeria Fernando Santos, na rua Miguel Bombarda, no Porto. “Não podia ser de outra forma. Tinham de lá estar todos. Identificados”, explica um dos autores das fotografias, Luís Octávio Costa, jornalista do PÚBLICO que no Instagram e noutras obras assina como Kitato.
Esta exposição-homenagem, assinada por Kitato e por João Bernardino, companheiro do Instagram e de muitas incursões matinais (foram eles que cunharam o nome “cerouladas”), foi uma encomenda da família Cerdeira, fundadora da Soalheiro, uma das marcas mais conhecidas no cada vez mais reconhecido mundo dos Alvarinhos. É um mundo circunscrito — só se planta na sub-região Melgaço e Monção — mas é um mundo gigante, no que a notoriedade diz respeito. Porque de cada vez que tragamos um copo de Alvarinho, fresquinho, leve, cítrico, especial, como só o Alvarinho sabe ser, estamos a beber o amor e o labor que cada um destes homens e mulheres empresta às suas vinhas, para depois o saborear em forma de bago, ou de vinho. E eles merecem, por isso, todas as homenagens.
Foi isso que a família Cerdeira, fundadora da marca Soalheiro (por ter plantado a primeira vinha numa parcela de terreno que estava sempre abençoada pelo sol) entendeu fazer a cada um dos produtores e respectivas famílias que, todos os anos, lhes entregam as uvas: uma homenagem que começou num livro, estará em duas exposições, e ficará eternizada numa plataforma na internet para que todos possam consultar.
Quem se dedica a conhecer a história do vinho e dos vinhos, já deve ter ouvido falar do ímpeto que levou João António Cerdeira a tirar “o Ford Escort” da garagem e em ampliar a capacidade produtiva da sua vinha. Mas o que entenderam os seus descendentes, os irmãos Maria João e António Luís (juntamente com a sua mãe, Maria Palmira Cerdeira) foi dar a conhecer as histórias de todos aqueles que contribuem para que o alvarinho Soalheiro continue a impressionar os apreciadores. O Soalheiro é uma família de famílias.
A exposição de fotografia que inaugura esta quarta feira no Porto — e onde ficará até 10 de Dezembro, antes de rumar a Lisboa — resultou do trabalho de quase um ano dos dois fotógrafos e instagrammers. O objectivo era conhecer todos os produtores, o resultado foi rumar pelo menos oito vezes a Melgaço, e com isso, acompanhar as vinhas em todas as suas fases do ciclo produtivo. Apesar de se falar de uma casta, e de uma marca de vinho, a verdade é que neste trabalho fotográfico se fala sobretudo de território, e de pessoas.
João Bernardino escolheu citar Susan Sontag para justificar o seu trabalho: “Fotografar é atribuir importância”. Nas curtas palavras que deixou no livro, referiu que fotografar os viticultores de Monção e Melgaço, “onde quase ninguém vive apenas da uva”, é fazer um retrato sociológico e um mergulho às histórias daqueles dois concelhos. Chegou de todos as visitas embalado com a sensação de pertença e emocionado com o ciclo de vida que se permitiu conhecer — o ciclo da vinha, do outono à vindima. Kitato, que também assina os curtos textos que guardam a historia de cada rosto, sublinha a diversidade de estórias que encontrou, e como é da composição de cada uma delas, cada retalho de campo, cada retalho de vida, faz a manta de retalhos” cuja beleza a todos impressiona. Nem é preciso gostar de vinho.
O lançamento do livro “Manta de Retalhos”, que conta com os prefácios dos professores Álvaro Domingues e Gonçalo Maia Marques, aconteceu no dia 23 de Setembro. Com a inauguração da exposição, a publicação bilingue passa a estar também disponível no site Manta de Retalhos. Pode haver videiras Alvarinho na Califórnia, no Alentejo ou na Nova Zelândia. “Mas são estas as que conservam as origens, a linhagem que as fez daqui desde tempos imemoriais”, escreveu o geógrafo Álvaro Domingues, no prefácio do livro. “E isso não muda”, conclui. Pois não.
Galeria Fernando Santos
Rua Miguel Bombarda n. 526
4050-379 Porto
Horários: Segunda a sexta das 10h às 12h30 e das 15h às 19h; sábado das 15h às 19h; encerra ao domingo