Noam e Alma souberam agora da morte da mãe, Keren descobriu que o pai está vivo
“Onde está Elad?”, perguntou Hanna Katzir, uma das primeiras libertadas a saírem da Faixa de Gaza. Ela própria dada como morta há duas semanas, ainda não sabia da morte do marido e do rapto do filho.
Por estes dias, os familiares dos reféns que têm saído de Gaza estão divididos entre a preocupação pelo bem-estar dos libertados, a alegria do reencontro e a agonia das más notícias que se preparam para partilhar com eles.
Ruti Munder, de 78 anos, a filha, Keren, de 55, e o filho desta, Ohad, que fez nove anos longe de casa, chegaram a Israel na sexta-feira à noite: imagens do hospital para onde foram levados mostram Ruti a abraçar a família e a dizer que está bem, mas que sabe que o filho, Roy, foi morto. Noutro vídeo, Keren pergunta pelo pai e descobre que Avraham, de 78, foi raptado. “Então, não foi assassinado”, diz Keren.
Durante o ataque ao kibbutz Nir Oz, as duas mulheres e o pequeno Ohad trancaram-se no abrigo e Avraham ficou noutra divisão. “Quando elas foram levadas, viram que ele não estava lá – era a única coisa que sabiam”, disse ao diário The Guardian Rony Raviv, sobrinha de Ruti.
Raviv contou ao site Ynet, do jornal Yedioth Ahronoth, que a família agonizou a pensar como contaria sobre Roy a Ruti, Keren e Ohad. Mas não foi preciso, Ruti tinha descoberto que o filho morrera durante o massacre de 7 de Outubro a ouvir rádio, no cativeiro, mas quis saber como é que foi morto.
“Nós não sabemos se eles sabem quem morreu, quem está raptado”, disse ao PÚBLICO, antes das libertações, Dina Dror, psicóloga a trabalhar com a organização não-governamental IsraAid, que acompanha os sobreviventes de várias comunidades atacadas pelo Hamas. “As notícias têm de ser dadas com muita sensibilidade, muita gentileza”, sublinhou.
Os irmãos Alma, de 13 anos, e Noam Or, de 17, foram levados de casa, no kibbutz Be’eri, para a Faixa de Gaza com o pai, Dror, que permanece cativo, assim como Liam Or, o seu sobrinho, de 18 anos. Yonat, de 50 anos, mãe de Alma e de Noam, foi morta. Os irmãos foram libertados no sábado, sem saberem da morte da mãe.
“Tivemos de lhes dar a triste notícia”, disse o tio, Ahal Besora, ao site All Israel News, de Jerusalém. À espera de Alma e de Noam, para além dos tios e de outros familiares, estava o seu irmão mais velho, Yahli, a cumprir um ano de voluntariado no serviço nacional, no Norte de Israel, e que, por isso, não estava em casa a 7 de Outubro. Nella, a cadela da família, também os espera.
Dror, cozinheiro e queijeiro na exploração de lacticínios de Be’eri, foi naturalizado português já depois de ter sido raptado – tal como Adina Moshe, libertada na sexta-feira, Dror tinha pedido a nacionalidade ao abrigo da lei dos sefarditas, que permite a naturalização de descendentes dos judeus que foram expulsos da Península Ibérica no final do século XV.
Como aconteceu com Adina e com outro refém, Ofer Calderon, que permanece em Gaza, as autoridades portuguesas agilizaram os seus processos a pedido das famílias, que acreditavam que a nacionalidade poderia contribuir para que fossem libertados.
“Onde está Elad?”, perguntou Hanna Katzir, de 76 anos, que saiu de Gaza com as mulheres da família Munder, no primeiro dia da trégua acordada por Israel e pelo Hamas para a troca de prisioneiros. Hanna estranhou não ver o filho entre os familiares que a esperavam: não sabia ainda que Elad foi raptado e que permanece em Gaza. Mas Hanna também não tinha a certeza do que tinha acontecido com o marido, Rami, assassinado na casa de ambos, durante o ataque.
Para a família Katzir, as últimas semanas têm sido uma montanha-russa. Primeiro, a Jihad Islâmica divulgou um vídeo onde Hanna surgia sozinha. “Estou num sítio que não é meu. Tenho saudades de casa, dos meus filhos, do meu marido, Rami, e de toda a minha querida e amada família”, dizia.
Depois, no início da semana passada, o grupo palestiniano dera conta da sua morte, que teria acontecido devido a “complicações médicas” depois de um ataque da Força Aérea israelita, recorda o jornal The Jerusalem Post. A confirmação de que estava viva só chegou horas depois de o primeiro grupo de libertados ter sido transferido para a Cruz Vermelha.
“Vou tirar as próximas horas para voltar a desfrutar da minha mãe, mas vou voltar rapidamente à luta pelo meu irmão”, disse ao Ynet Carmit Palty-Katzir. “Pelas histórias que a minha mãe me contou, sei como a vida lá é dura e não posso imaginar como estará a ser difícil para ele.”