12 vinhos para celebrar a grande noite de Natal em família
O jantar de Consoada é o momento ideal para celebrar todos os vinhos de todo o país – espumantes, brancos, tintos ou generosos. Numa noite tão especial, vale a pena ter cuidados básicos nas escolhas.
O peru assado não está nada mal: a ave tem textura delicada e se não for carregado com sal ou especiarias é um prato que cresce ao lado de um vinho tinto com taninos sedosos e ainda com uma boa expressão dos aromas da fruta. Mas, não restem dúvidas, no jantar da Consoada a tradição de uma boa parte do país cumpre-se com um dos melhores pratos que há para se apreciar um grande tinto ou até um branco com corpo e alma. Um bacalhau e batatas cozidas, couve penca e regado com um azeite de qualidade cria as condições ideais para se apreciar um bom vinho. Os sabores do prato são suaves, a gordura do bacalhau e o azeite criam uma patine na boca que convida à intromissão dos taninos dos vinhos tintos e quando os ingredientes do prato coincidem com uma boa escolha para o copo, fica-se mais perto de chegar à harmonização perfeita.
Seja peru, polvo, raia ou bacalhau, o jantar do Natal é aquele dia em que se deve pôr de lado a prudência e a crença no futuro dos vinhos que se guardam em casa. A hora é de escolher o que apetece com poucas restrições racionais – claro que não se vai abrir aquele Douro ou Dão provado há meses e numa fase ainda selvagem. Os que têm a sorte, o poder de compra ou a virtude de saber guardar vinhos, são sem dúvida os mais felizes. Esta é a noite para se pensar em escolhas especiais, principalmente vinhos já com alguns anos de guarda. Mas não há nada que não se resolva com uma ida a uma garrafeira ou a um supermercado. Haverá quem não possa chegar aos vinhos com preços estratosféricos, mas, para nossa sorte, vivemos num país onde se podem comprar vinhos por dez euros ou pouco mais com classe mais do que suficiente para dar brilho à Consoada.
O que é sem dúvida mais importante é considerar o vinho como uma parte fundamental da noite. Não faz sentido apostar tudo na comida e descurar a selecção dos vinhos. Afinal, é nesse jantar que se reúnem pessoas muito especiais para nós, seja a família ou os amigos. Planear o que se vai escolher na cave ou o que se deve comprar na garrafeira é essencial – por isso esta edição lhe deixa aqui algumas sugestões para lhe facilitar a tarefa. E nesse plano, como é evidente, é necessário pensar nos três andamentos da grande noite: o momento em que as pessoas se juntam e esperam pelo jantar, o jantar propriamente dito e as sobremesas. Claro que é também obrigatório pensar no prolongamento deste jogo, até porque essa noite de 24 de Dezembro é por regra longa.
Ora, para começar, há duas opções sensatas: um espumante ou um branco. Um Baga Bairrada ficará muito bem, como será uma boa escolha um Vértice ou um Murganheira. Já quanto aos brancos, não é a hora de vinhos densos e complexos: pelo contrário, o início das hostilidades recomenda um branco com juventude, frescura atlântica e fruta. Um Loureiro dos Vinhos Verdes ficará muito bem. Um Bical da Bairrada também.
No prato principal, seja peru ou bacalhau, a tradição recomenda tintos – até porque, como se usa dizer, “bacalhau é carne”. Se estiver ao seu alcance, escolha-os já com alguma guarda. Não os havendo, um Alentejo jovem passa, regra geral, mais facilmente pelo teste, pela sua natureza mais polida, com a fruta e taninos limados. Mas há Douro ou Dão pensados para ser bebidos jovens que são escolha segura e, muitas vezes, sem ser necessário grande investimento. Um Baga da Bairrada nem tanto, já que a intensidade do seu carácter pode desequilibrar a relação. Um tinto com idade (uns sete ou oito anos depois de garrafa) de qualquer uma destas regiões, ou um Douro ou um Dão, são ideais.
Prefere um branco? Sem problema. Como em causa estão pratos com razoável dose de gordura, escolha-os com estágio em madeira – ganham outro volume de boca e intensidade. Todas as regiões do país dispõem de boas escolhas e preços para todos os gostos. Se achar divertido fazer uma escolha de castas brancas, as soluções são igualmente abundantes. Um Encruzado do Dão é uma boa aposta. Um Alvarinho de Monção e Melgaço nunca desilude, ainda mais se for obra das casas ou enólogos mais conceituados. Há casos em que o Arinto brilha. Mas pode, eventualmente, surpreender os seus pares e viajar até aos magníficos brancos do Pico: são por regra um pouco mais caros, mas um Verdelho ou Arinto da ilha são aposta segura.
E chegamos ao momento das sobremesas. Dos doces e dos queijos. Quer dizer, dos grandes Porto, Madeira ou Moscatel, seja de Setúbal ou de Favaios. Também aqui há preços para todas as bolsas, também aqui o critério da idade conta. Um Madeira, um Moscatel e um Porto Tawny são perfeitos para doces típicos da estação, como aletria, doces de ovos ou leite-creme. E um Porto LBV ou Vintage ideal para queijos.
Não tem Vintage na sua cave com, vá lá, 20 ou mais anos de guarda? As novas edições da categoria são hoje mais fáceis de beber enquanto jovens e há vindimas recentes extraordinárias – 2016, 2017, 2019…. São caras? É fácil de resolver: experimente um LBV. Não é o cume da montanha do grande generoso do Douro, mas por cerca de 20 euros consegue-se apreciar um vinho de categoria e com uma natureza muito especial para o espírito da estação.
Já quanto ao serão, as regras cabem mais na subjectividade. Um Porto ficará sempre bem (não se esqueça de servir os tawnies mais frescos), até porque é o vinho de excelência para a conversa e o bom humor. Mas haverá quem prefira tintos ou brancos, sem problemas. Ou até um Late Harvest, menos alcoólico e fácil de agradar a toda a gente. Não importa: sejam quais forem as escolhas, o que conta é que caibam no gosto dos convivas. Para que isso aconteça, tem de haver um pouco de foco e de ponderação. Pensar no que se pretende e escolher em conformidade é por isso uma missão tão nobre como a de escolher o bacalhau.
Nome Quinta dos Carvalhais Reserva Tinto 2019
Produtor Sogrape
Castas Touriga Nacional, Dão, Tinta Roriz e Alfrocheiro Preto
Região Dão
Grau alcoólico 13,5%
Preço (euros) 32.90
Pontuação
Autor Manuel Carvalho
Notas de prova Um bom tinto do Dão é sempre uma aposta segura para um jantar com bacalhau cozido regado com bom azeite. E os Reserva de Carvalhais incluem-se sem dúvida nessa categoria. Se por acaso encontrar ou tiver garrafas com mais anos de guarda, melhor. O tempo é crucial em todos os grandes vinhos e em especial nos tintos do Dão, que aprimoram a sua sedosidade e elegância e aprumam os seus taninos e frescor. Na edição de 2019, um belo ano, o Carvalhais Reserva revela notas florais e fruta preta no aroma, tanino firme e uma acidez vincada, mas bem enquadrada no conjunto. É um tinto com personalidade e garra, simples na aparência mas com imensas subtilezas que vale a pena descobrir – o que se esconde para lá do primeiro impacte gustativo, por exemplo.
Nome Ravasqueira Premium Alicante Bouschet 2014
Produtor Ravasqueira (Sociedade Agrícola D. Diniz S.A.)
Castas Alicante Bouschet
Região Alentejo (IG)
Grau alcoólico 14%
Preço (euros) 66,35
Pontuação
Autor Manuel Carvalho
Notas de prova Este Ravasqueira é um magnífico exemplo do potencial da Alicante Bouschet que, como se sabe, quando a Alicante Bouschet atinge as condições ideais de maturação e é bem trabalhada na adega nos proporciona alguns dos melhores tintos do país. O perfil deste Premium, com madeira ainda muito presente, mas já bem abraçada pela fruta e pela estrutura tânica da casta, leva-nos para uma dimensão mais clássica, com bastante secura e uma precisão que harmoniza a sua fruta, a sua estrutura e o frescor final longo e vivo. É, por isso, um vinho majestoso sem ser excessivo, com um excelente potencial gastronómico, que enche a boca e convida a revolvê-lo na boca. Com nove anos de guarda, é ainda um vinho jovem, mas está já num bom momento de prova.
Nome Quinta do Vallado Touriga Nacional 2020
Produtor Quinta do Vallado
Castas Touriga Nacional
Região Douro
Grau alcoólico 14%
Preço (euros) 21,85
Pontuação
Autor Manuel Carvalho
Notas de prova Quando atingem a sua melhor forma, os tintos feitos a partir da Touriga Nacional, principalmente os do Douro e do Dão, dão sempre origem a vinhos irrecusáveis, seja para provadores experimentados ou para principiantes. O aroma deste Vallado, com notas florais e de bosque conjugadas com fruta vermelha madura, são cativadores. O sabor, rico e intenso, e a sua boa estrutura tânica, dão tanto prazer quando se prova a solo, como quando se combina com comida. É, por isso, uma opção para jantar de Natal com poucos riscos para uma mesa onde se sentam regra geral pessoas com diferentes experiências vínicas. Se por acaso conseguir garrafas com mais quatro ou cinco anos de idade, não hesite. Desta casa, vale também muito a pena experimentar o Sousão.
Nome Kompassus Private Collection Branco 2019
Produtor Kompassus
Castas Arinto e Cerceal
Região Bairrada
Grau alcoólico
Preço (euros) 30
Pontuação
Autor Pedro Garcias
Notas de prova Um grande branco da Bairrada, do produtor e oftalmologista João Póvoa. Lote de Arinto e Cerceal, junta grande corpo, fruta suculenta e enorme acidez. A madeira em que estagiou surge muito discretamente, não ofuscando os grandes atributos do vinho. Um branco perfeito para se ligar à gordura do bacalhau.
Nome Adega de Penalva Baga 2020
Produtor Adega Cooperativa de Penalva do Castelo
Castas Baga (vinhas centenárias)
Região Dão
Grau alcoólico 13,5%
Preço (euros) 12,5
Pontuação
Autor Pedro Garcias
Notas de prova Outro grande achado da Adega de Penalva, a cooperativa que talvez apresente a melhor relação qualidade/preço do mercado. Boa parte dos seus vinhos valem até mais do que o que custam. É o caso deste Baga, versão mais delicada. Não é a bomba de muitos Baga da Bairrada. Segue por um caminho mais digestivo, próprio dos tintos do Dão, sem excesso de álcool e carga tânica. Para beber sem medo na ceia de Natal.
Nome Rui Reguinga Tributo Tinto 2021
Produtor Rui Reguinga
Castas Syrah (80%), Grenache (10%), Mouvedre (5%) e Viogner (5%)
Região Dão
Grau alcoólico 14,5%
Preço (euros) 35
Pontuação
Autor Pedro Garcias
Notas de prova O mais “francês” dos vinhos de Rui Reguinga, aqui num tributo ao pai e às suas raízes ribatejanas. Junta Syrah, Grenache e Viognier, duas castas tintas e uma branca, e o resultado é um vinho sedutor, de boa complexidade e de sabor intenso e boa frescura. Nem parece ter 14,5% de álcool. Por ser maduro, os taninos são finos. Mesmo sendo jovem, bebe-se já com enorme prazer.
Nome Aliança Grande Reserva Pinot Noir Brut 2018
Produtor Bacalhôa
Castas Pinot Noir
Região Douro
Grau alcoólico 12,5%
Preço (euros) 36
Pontuação
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova Director de enologia da Bacalhôa Vinhos e mestre na arte de fazer espumantes, Francisco Antunes costuma dizer que os momentos mais indicados para o consumo do espumante são “antes, durante e depois das refeições”. E tem toda a razão. Claro que, por questões de perfil, nem todos os espumantes conseguem fazer boa figura entre um pastel de bacalhau (ou bolinho, pronto) e um pudim do Abade de Priscos. Mas este Aliança Grande Reserva Pinot Noir Brut 2018 é, de facto, um todo-o-terreno. Contido nos aromas, mas com umas notas tostadas e marinhas, tem uma mousse envolvente, fina, fresca e desafiante. Apetece estar sempre a bebericá-lo.
Nome Chão de Lava Pahoehoe 10 anos
Produtor Insula Vinus
Castas Verdelho
Região Açores (DO Pico)
Grau alcoólico 20%
Preço (euros) 150
Pontuação
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova Como pivot da revolução que ocorreu nos últimos anos nas vinhas do Pico, Paulo Machado, responsável da Insula Vinhos e enólogo noutros projectos, perseguia há muito tempo um licoroso que se diferenciasse de tudo o que já existia, por via da redução considerável do nível de doçura. E vai daí este Insula Chão de Lava Pahoehoe 10 anos é, pela secura (30 gramas de açúcar), um vinho desafiante para o início de refeição. Sem nada a acompanhar porque ele, por si, é uma festa com sabor a Pico. Notas de iodo, de algas, de manteiga ou de casca de laranja são detectadas no nariz. Na boca, salinidade, especiarias, frutos secos e aquela secura que impressiona e encanta. Já agora, Pahoehoe significa lajido em havaiano (a malta do Hawai sabe muito sobre vulcões). 150€ (0,375l).
Nome Dona Matilde Vinha do Pinto 2021
Produtor Quinta Dona Matilde
Castas Field blend (vinha velha)
Região Douro
Grau alcoólico 14,5%
Preço (euros) 50
Pontuação
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova Para os devidos efeitos, a marca Vinha do Pinto, da Quinta Dona Matilde, ficará para a história como o primeiro vinho do Douro na categoria Reserva (nível II do IVDP) que não passa por barrica. Foi assim em 2019 e é assim agora com a nova colheita de 2021. Não é que a família Barros tenha algum preconceito com as barricas. Longe disso. Mas, neste caso, pretende que os consumidores sintam a riqueza e a complexidade das uvas de uma vinha do Douro com mais de 90 anos, sem qualquer interferência da madeira. Donde, temos notas de frutos, de bosque e de ervas aromáticas. Na boca, destaque para a mineralidade e o carácter vegetal. Tinto guloso e didáctico.
Nome Quinta das Bágeiras Grande Reserva Rosé Bruto 2018
Produtor Quinta das Bágeiras
Castas Baga
Região Bairrada
Grau alcoólico 13%
Preço (euros) 40
Pontuação
Autor José Augusto Moreira
Notas de prova Em noite de tradição e família, dificilmente se encontrará um espumante tão adequado para a celebração. Tanto o produtor, Mário Sérgio Nuno, como os vinhos da Quinta da Bágeiras são em si mesmos uma homenagem à família e tradição, ainda com a vantagem de que este é também um dos nossos melhores espumantes. Com a frescura frutada que só a casta Baga e a Bairrada conseguem transmitir, um sabor que longamente conquista o palato. Um espumante que respeita a uva e o vinho. Com notas cítricas, algum mel, mas também notas de fruto seco, biscoito e padaria. A bolha fina e elegância do tempo em garrafa potenciam a secura e sabor que lhe prolongam o final de boca. Na mouche!
Nome Fonte do Ouro Dão Nobre 2019
Produtor Boas Quintas
Castas Encruzado, Arinto e Cerceal
Região Dão
Grau alcoólico 13,5%
Preço (euros) 70
Pontuação
Autor José Augusto Moreira
Notas de prova Um branco mesmo nobre e sumptuoso, e como tal adequado às festas da Consoada. A designação Dão Nobre é apenas atribuída aos vinhos de excelência e tem sido – e bem – usada pela região com a justificada parcimónia. Com a assinatura de Nuno Cancela de Abreu, é feito com uvas de Encruzado, criadas em vinhas de Mortágua, coladas à serra do Buçaco e beneficiando do microclima gerado pela albufeira da Aguieira. A nobreza vem-lhe das entranhas, o aroma fino, a suavidade do fruto maduro, o toque floral, num ambiente de elegância e virtuoso equilíbrio. É um branco de grande classe, gordo e glicerinoso, com estrutura, complexidade e frescura, mesmo a pedir o bacalhau, azeite e couves da noite de Natal.
Nome José de Sousa Mayor 2018
Produtor José Maria da Fonseca
Castas Aragonês, Grand Noir e Trincadeira
Região Alentejo (Reguengos de Monsarraz)
Grau alcoólico 14,5%
Preço (euros) 23
Pontuação
Autor José Augusto Moreira
Notas de prova Um tinto fresco e elegante, que remete para a tradição e os natais do Alentejo. É um primor de enologia este vinho que Domingos Soares Franco engarrafa na histórica adega José de Sousa Rosado Fernandes, num estilo que honra os históricos Tinto Velho, um prodígio de equilíbrio e vida longa. Conjugando as técnicas ancestrais e processos modernos, parte do mosto fermenta em talhas de barro com um terço do engaço e o restante em lagares. A criação finaliza com nove meses de estágio em barricas novas. Um vinho de grande equilíbrio, fresco e elegante, expressivo na fruta, fino na textura, profundo e apelativo no palato. Um tinto de Natal, que honra o passado dos grandes vinhos do Alentejo.