As prendas que chegam engarrafadas: 12 vinhos para oferecer no Natal

O vinho como prenda é um valor com enorme carga afectiva porque se baseia em sensações. Mas pode igualmente ser visto como um valor patrimonial, destinado a crescer com o tempo.

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Na última Fugas especial Vinhos, sugerimos 12 vinhos para oferecer neste Natal Annie Spratt / Unsplash
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É um quebra-cabeças a que quase ninguém escapou, pelo menos uma vez na vida: o que oferecer no Natal àqueles amigos ou familiares que lêem livros esquisitos, têm todos os discos da música de que gostam, vestem roupas estranhas ou têm uma casa onde não cabe nem mais uma peça de artesanato? Em muitos casos, a resposta pode ser “vinho”. O vinho tem imensas facetas para ser valorizado como prenda: é um produto com enorme carga cultural; nos últimos anos, reforçou o seu estatuto simbólico de produto nobre, sobre o qual vale a pena saber mais e guardar sempre que possível; é um bem que gostamos de ter connosco para partilhar com a família e os amigos; e, questão que há-de certamente pesar mais na apetência de alguns do que noutros, o vinho pode ser um valor de investimento seguro.

Como é normal sempre que se pensa numa prenda para alguém, a reflexão começa com o valor que estamos a pensar gastar. O vinho em Portugal tem um enorme espectro de preços e tem soluções para todas as bolsas ou disponibilidades. Entre os 10-15 euros e os 900 euros do Barca Velha de 2011, há centenas de estilos de vinho à escolha, entre tintos, brancos ou fortificados, com preços para diferentes bolsas.

Se um vinho de dez euros é uma boa opção pela magnífica relação qualidade-preço desta gama em Portugal, vale a pena ter em atenção que as prendas são valorizadas também em função do reconhecimento público do que se oferece. Ora, as marcas mais conceituadas, as que se enquadram nas categorias de objectos de desejo, ficam quase sempre acima dos 25-30 euros. Nesta gama, há vinhos de empresas ou de enólogos mais conceituados em todas as regiões do país.

Fixado o preço, a primeira e óbvia pergunta a fazer é que vinho pode impressionar ou deliciar a pessoa a quem se destina. Gosta de brancos ou de tintos? De Porto ou moscatel de Setúbal? Do Douro ou da Bairrada? E prefere vinhos jovens e exuberantes ou os que têm já alguns anos de guarda? É um vinho que escolhemos como proposta para o jantar deste Natal ou para o futuro? Quando não se sabe exactamente o perfil de gostos do destinatário, é melhor escolher uma marca conhecida e consensual; quando sabemos que em causa está uma pessoa com cultura vínica e mais dedicada a um estilo ou uma região, aí é possível surpreender com uma escolha fora da caixa.

Quando se dá uma prenda, não se tem a pretensão de determinar o que lhe acontece depois de ser entregue. O vinho que se oferece tanto pode ser guardado pelo novo dono durante anos como ser bebido no dia seguinte. Também aqui não há problemas de maior a superar. Regra geral, brancos e tintos de Portugal envelhecem bem – a nova vaga de descobertas está a acontecer nos Vinhos Verdes, onde Alvarinhos e Loureiros se mostram muito bem após dez anos de cave. Mas um Douro das grandes quintas de 2021 está mesmo a pedir guarda; um Baga da Bairrada exige tempo; e um Porto Vintage de 2019 ou 2020 ainda está a gatinhar. A oferta pode e deve ser acompanhada de uma explicação: “Escolhi este vinho porque tem um enorme potencial de guarda”, pode, por exemplo, dizer-se.

Vivemos num país onde, muito por culpa das casas produtoras, se criou um padrão de gosto que privilegia vinhos mais jovens. Onde, por definição, se procura mais a intensidade do que a subtileza. Mas uma prenda deve ter sempre algum horizonte de futuro. Deve ser um bem que o tempo pode valorizar. Regra geral, os bons vinhos crescem na garrafa, mas a valorização comercial de um vinho associa-se muito a marcas. Os vinhos das grandes casas e os rótulos mais celebrados têm, por isso, maior propensão para se tornarem bens de investimento.

Valor seguro para os que tiverem esta preocupação é o vinho do Porto. Os vintages de anos bons e das grandes casas (Noval, Taylor’s, Fonseca, Graham’s e Dow’s, em especial) têm-se, nos últimos anos, valorizado acima da inflação. Mas não é essa faceta que recomenda a sua oferta como prendas especiais: é a noção de que quem as recebe fará bem se esperar 15, 20 ou 30 anos pelo momento de o beber. O vinho valoriza-se financeiramente, mas o grande ganho está na valorização sensorial que o tempo confere aos vintages. Também aqui, no tempo de guarda, se pode reflectir o valor da amizade ou do amor familiar.

Nesta gama há muito mais sugestões. Os moscatéis, por exemplo. Ou os Madeira, essa glória do vinho português que demora a consagrar a sua categoria na percepção dos consumidores – por isso, é relativamente mais barato. Ou os Porto do estilo “mais português”, os tawny, sejam os clássicos 10, 20 ou 50 anos, ou os Colheita, com indicação da data de vindima. Mas tome nota: estes vinhos durarão décadas na garrafa, mas, ao contrário dos tawny, não melhoram com o tempo.

Escolher um vinho para oferta não é, por isso, um fim do mundo de dificuldades e labirintos. É fácil – e nestas páginas tem algumas sugestões da equipa da Fugas que pode aproveitar. E, se tiver dúvidas, tem uma solução rápida e indolor: nas garrafeiras há sempre quem seja capaz de perceber a sua intenção, de identificar o perfil de consumidor do destinatário da prenda e de lhe fazer sugestões sensatas, inteligentes e… deliciosas.

Nome Amphitheatrum Porto Vintage 2020

Produtor Alves de Sousa

Castas Várias

Região Douro

Grau alcoólico 13,5%

Preço (euros) 200

Pontuação

Autor José Augusto Moreira

Notas de prova Um Vintage daqueles que coloca os amigos no topo da escala. Uma prenda de nota 20, que é também um vinho histórico, já que representa a entrada da Quinta da Gaivosa e da família Alves de Sousa no lote restrito dos Vintage de parcela. O nome remete para o anfiteatro da famosa vinha de Lordelo, onde as condições extremas de 2020 produziram uvas com potencial de excelência para Porto. Um Vintage quase da vinha, uma dádiva da natureza para um vinho superconcentrado, completamente opaco na cor e único na concentração. Na boca como que explode na riqueza de aromas, com frutos silvestres, aloé vera, ervas aromáticas, numa mistura de bosque, profundidade e riqueza tropical, que atinge todos os sentidos. Tudo debaixo de um manto de frescura e suavidade surpreendentes. Um Vintage para muitas gerações (embora poucas garrafas).

Nome Quinta da Manoella Vinha Alecrim 2015

Produtor Wine & Soul, Pinhão

Castas Várias em vinha centenária

Região Douro

Grau alcoólico 13,5%

Preço (euros) 150

Pontuação

Autor José Augusto Moreira

Notas de prova Esta é uma prenda daquelas mesmo especiais, para quem merece mesmo muito. Até pela novidade e raridade, apenas 700 garrafas acabadas de lançar, aliadas ao potencial de envelhecimento. O ideal, por isso, seria que a prenda levasse duas garrafas, uma para já e outra para depois. Um tinto soberbo, de classe mundial, criado por Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares da Silva a partir de uma parcela emblemática de vinha centenária da Quinta da Manoella. Um Douro de nova geração, que conjuga grande frescura, tensão tânica, textura doce, macia, com uma elegância e equilíbrio notáveis. Que projecta a região para a elegância e equilíbrio que define os melhores vinhos do mundo.

Nome Quanta Terra Gold Edition Branco 2015

Produtor Caves Transmontanas

Castas Gouveio e Viosinho

Região Douro

Grau alcoólico 19,5% vol

Preço (euros) 60

Pontuação 19,5%

Autor José Augusto Moreira

Notas de prova O ideal seria mesmo que o rótulo fosse uma prenda à parte, com lacinho e tudo. Assim, depois de provar, todos reconheceriam o real valor do vinho, um branco do Douro de classe mundial. Com a frescura do Planalto de Alijó – devidamente assinalado no rótulo – Celso Pereira e Jorge Alves aproveitam todo o potencial da casta Gouveio (com Viosinho) para montar este branco sumptuoso. Cor dourada, aromas a mel, querosene, madeira muito bem integrada, com grande volume, complexidade e amplitude gastronómica. Mais que uma prenda, uma dádiva do Douro.

Nome Sabor(z)inho Tinto 2019

Produtor Azores Wine Company;

Castas Saborinho

Região Açores (IG)

Grau alcoólico 11%

Preço (euros) 119

Pontuação 92

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova O nome é um trocadilho com Saborinho, que é como os açorianos baptizaram a casta que na Madeira chamam de Tinta Negra e no continente de Molar de Colares. Em terra de vinhos brancos, este tinto de cor aberta, feito com uvas de São Miguel e do Pico, é uma proposta original, igualmente vulcânica e iodada. O nariz é intenso e à fruta vermelha que tem parece-nos sobrepor-se o fumo de lareira e também um lado terroso. Na boca, revela boa estrutura, tem sal e uma acidez bem presente. Gastronómico, versátil e guloso, nunca cansa. 1518 garrafas, de um vinho que vai na segunda edição (a primeira é da colheita de 2015).

Nome Madeira Barbeito Verdelho 1993 Frasqueira

Produtor Barbeito

Castas Verdelho

Região DOP Madeira

Grau alcoólico 19,32%

Preço (euros) 168 (garrafa de 50 cl)

Pontuação 94

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Para uma quadra de festa, um vinho de celebração. Ricardo Diogo Freitas lançou recentemente seis ‘novos’ cascos únicos, todos excepcionais, mas este Verdelho 1993 é dos seus primeiros vinhos e inaugura a intenção do produtor de continuar a engarrafar frasqueiras de casco único. Nasce de uma de várias experiências que o madeirense fez quando agarrou os destinos da Barbeito (“para aprender”) e foi engarrafado, em boa hora, para não se perder. Feito de uvas do Arco de São Jorge, de vinhas que já não existem, estagiou em dois armazéns, primeiro um quente e depois outro mais fresco. Com uma bonita cor âmbar, no nariz exala frescura e sugere nozes, aquelas tiras de laranja confitada, misturadas com o fumo da madeira. Na boca é seco (para um Madeira; tem 60 g/l de açúcar), contracorrente e com acidez q.b. Belíssimo e longo final. Ricardo só engarrafou 300 garrafas de meio litro.

Nome 5ª Lagar Novo 2021

Produtor Quinta do Isaac

Castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Syrah

Região Lisboa (IG)

Grau alcoólico 13,5%

Preço (euros) 9

Pontuação

Autor Edgardo Pacheco

Notas de prova A Quinta do Lagar Novo é, nos terrenos planos de Alenquer, conhecida pelos seus vinhos brancos, alguns com castas estrangeiras plantadas por Luís Carvalho, uma referência da viticultura em Portugal. Não tinha no seu portefólio um tinto, o que fazia falta na habitual conversa com distribuidores, donos de garrafeiras. O problema está agora resolvido com este 5ª Lagar Novo, que tem a grande virtude de revelar a expressão muito primária das três castas, visto que não passou por barrica. Donde, frutos vermelhos de bagas, notas vegetais de fermentação e uma boca muito fresca, mesmo a pedir umas carnes grelhadas. E tudo isso por um preço em conta.

Nome Terrenus Clos dos Muros Tinto 2017

Produtor Rui Reguinga

Castas Aragonês, Trincadeira e Alicante Bouchet

Região Alentejo (Portalegre)

Grau alcoólico 14,5%

Preço (euros) 65

Pontuação

Autor Pedro Garcias

Notas de prova Outro tinto que ficava muito bem à mesa de Natal. Com origem numa vinha centenária situada a grande altitude junto a Marvão, em Portalegre, estagiou durante dois anos em tonéis de mil litros e outros dois em garrafa, antes de sair para o mercado. Apesar dos 14% de álcool, o que impressiona é a sua frescura, delicadeza e complexidade “escondida” (não é evidente de imediato, mas ela está lá). O tempo foi-o refinando e requintando e está já num ponto óptimo de consumo, embora tenha ainda uma longa vida pela frente.

Nome Kompassus Private Collection Baga 2017

Produtor Kompassus

Castas Baga

Região Bairrada

Grau alcoólico 14,5%

Preço (euros) 40

Pontuação

Autor Pedro Garcias

Notas de prova O ano de 2017 foi muito quente em todo o país. As vindimas foram precoces e, mesmo assim, geraram, de uma forma geral, vinhos bastante maduros e cheios de cor. A zona de onde provém este tinto da casta Baga, próxima de Cantanhede, é, já por si, propícia a tintos mais quentes e sedosos, e em 2017 essa característica tornou-se ainda mais evidente. Estamos, pois, perante um Baga imponente, com grande intensidade e complexidade aromática e boa polidez tânica. Não fosse o aroma típico da Baga, bastante químico, e poderia ser confundido com um Douro dos bons.

Nome Anselmo Mendes Tempo Alvarinho 2017

Produtor Anselmo Mendes

Castas Alvarinho

Região Vinhos Verdes

Grau alcoólico 12%

Preço (euros) 75

Pontuação

Autor Pedro Garcias

Notas de prova Este branco de Alvarinho, de curtimenta total, um vinho “laranja”, também fazia um figuraço na mesa de Natal, porque tem ADN de branco e certos ares de tinto. É um dos grandes vinhos portugueses. Se gosta de oferecer e beber vinho, pode ser uma boa opção para presentear um familiar próximo. Com sorte, ainda pode ter direito a desfrutar da sua própria oferta.

Nome Barros Colheita 1974

Produtor Sogevinus

Castas Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional

Região Douro

Grau alcoólico 20%

Preço (euros) 147

Pontuação

Autor Manuel Carvalho

Notas de prova As datas contam, e oferecer a um amigo ou familiar uma garrafa de vinho do Porto produzido no ano da Revolução dos Cravos, no momento em que o país se prepara para celebrar os 50 anos da democracia, tem um significado muito particular. Mas se essa razão não bastar, há outra igualmente significativa: este Colheita é soberbo. As suas notas de resina, o aroma e sabor de frutos secos, a forma como envolve o palato, a frescura ácida com que balança a doçura ou o rasto de sabores complexos que ficam uma eternidade na boca no final de prova obrigam a sentir e a pensar: como é possível um vinho causar-nos tantas sensações? Nota: no mercado é possível encontrar este Porto com várias datas de engarrafamento. Para se conseguir toda a sua vibração, encontre uma data de engarrafamento recente.

Nome Quinta Nova Vinha Centenária 2019 Referência P28/21

Produtor Família Amorim

Castas Touriga Nacional e vinha velha

Região Douro

Grau alcoólico 14,5%

Preço (euros) 90

Pontuação

Autor Manuel Carvalho

Notas de prova Esta marca da Quinta Nova já lançou no mercado a edição de 2020, um vinho igualmente magnífico, mas em que a conjugação das parcelas 29 (3300 plantas de Touriga Nacional) e 21 (vinha velha) do ano anterior deu origem a um tinto assombroso – considerado o melhor vinho do país na edição deste ano do concurso da ViniPortugal. Há ali a complexidade das vinhas velhas durienses, como há uma expressão refinada e profunda dos melhores aromas da Touriga Nacional, que domina o lote. Estamos num daqueles casos em que a natureza do ano fez a diferença. Um vinho grandioso, elegante e feminino, nos primeiros passos do seu processo de maturação, do qual se produziram apenas 3500 garrafas.

Nome Pintas Tinto 2020

Produtor Wine & Soul

Castas Vinha velha, com mistura de castas

Região Douro

Grau alcoólico 14,5%

Preço (euros) 118

Pontuação

Autor Manuel Carvalho

Notas de prova A Wine and Soul, de Sandra Tavares da Silva e de Jorge Serôdio Borges, continua a criar no Douro alguns dos mais soberbos vinhos de Portugal. Ambos são enólogos talentosos e experientes e têm ideias precisas sobre os perfis nos quais apostam. O que mais sublinha esse talento e experiência é a certeza de que o potencial vinhateiro do vale do Pinhão, onde trabalham, é a causa maior do seu sucesso. Mais do que uma invenção, os seus Vinhas Velhas da Quinta da Manoella ou o seu Pintas são o reflexo de uma interpretação e uma devoção especial ao Douro. Por isso, os seus vinhos são únicos, polidos, cheiram a urze e a esteva, exalam fruta e sugerem especiarias, e são complexos mas delicados e finos. Um vinho que daqui a meia dúzia de anos será ainda mais colossal.

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