Refém tailandês libertado de Gaza: “Não estou morto, não estou morto”
Irmã de um dos dez reféns tailandeses libertados pelo Hamas relata à Reuters a primeira conversa que teve com o irmão e fala num “milagre”.
A família de Vetoon Phoom temia que ele tivesse sido morto pelo Hamas no ataque no mês passado contra Israel. Até que descobriu, este sábado, que o trabalhador agrícola foi libertado de Gaza, juntamente com outros reféns tailandeses.
“Ele disse-me para não chorar, para dizer à mãe que ia regressar”, conta à Reuters a sua irmã, Roongarun Wichagern, depois de uma conversa emotiva com Vetoon, por videochamada.
Vetoon, de 33 anos, vivia em Israel há cinco anos e foi um dos dez reféns tailandeses libertados pelo Hamas durante a primeira trégua de uma guerra que dura há sete semanas e que foi iniciada com o ataque do movimento palestiniano no Sul de Israel, no dia 7 de Outubro.
“Ele disse-me: ‘Não estou morto, não estou morto’”, relata Roongarun, que descreve a sobrevivência do irmão como um “milagre”.
Os dez tailandeses faziam parte do grupo de 24 reféns que foram libertados na sexta-feira, após um acordo negociado em paralelo com a trégua e em troca de 39 palestinianos detidos nas prisões israelitas.
O Governo da Tailândia informa que 20 cidadãos do país ainda estão em cativeiro. O primeiro-ministro tailandês, Srettha Thavisin, disse aos jornalistas que o ministro dos Negócios Estrangeiros e o chefe das Forças Armadas vão viajar até Israel para trazer de volta os reféns libertados, e acrescentou que o seu executivo está a tentar garantir a libertação dos restantes sequestrados.
“Não vamos parar. Vamos trazê-los de volta”, assegurou.
A embaixada do Irão em Banguecoque revelou, através das redes sociais, que Teerão facilitou a libertação dos reféns tailandeses, fornecendo ao Hamas uma lista de nomes, na sequência de um pedido do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia e de um líder parlamentar.
Um porta-voz do Ministério tailandês disse que o país tinha “enviado listas a toda a gente desde o início” dos sequestros, incluindo para o Qatar, o Egipto, Israel e o Irão. “Diferentes actores têm influências diferentes sobre o Hamas”, justificou.
Trabalhadores migrantes
Havia em Outubro cerca de 30 mil cidadãos tailandeses a trabalhar em Israel, a maioria na agricultura, incluindo 5000 nas comunidades perto da Faixa de Gaza; são um dos maiores grupos de migrantes trabalhadores no país. Muitos decidiram, entretanto, deixar Israel e, no início de Novembro, mais de 8300 já tinham regressado a casa.
Vetoon disse aos familiares que gritou “Tailândia, Tailândia” quando os atacantes do Hamas se aproximaram dele, antes de o capturar e de o levar para os túneis de Gaza, conta Roongarun.
Segundo a irmã, Vetoon não foi ferido ou torturado. Deram-lhe comida e água e não parece ter perdido peso.
Os seus amigos achavam que tinha morrido, mas a família acompanhou as notícias “sem parar para dormir”, na esperança de que ele tivesse sido feito refém.
“Vi nas notícias que os reféns iam ser libertados e, depois, alguém me enviou uma fotografia”, conta Roongarun. “Era, definitivamente, o meu irmão mais novo.”
Entre os reféns libertados também estava a única mulher tailandesa sequestrada pelo Hamas, uma trabalhadora fabril e mãe oriunda de uma zona rural pobre da Tailândia, de onde muitas pessoas saem para procurar oportunidades de trabalho no estrangeiro.
As fotografias partilhadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês mostram os reféns libertados a serem vistos por médicos num centro hospitalar em Israel.
Vão regressar a casa após 48 horas no hospital, informou o Ministério, agradecendo ao Egipto, ao Irão, a Israel, à Malásia, ao Qatar e ao Comité Internacional da Cruz Vermelha pelos “esforços imensos” no acordo para os libertar.
Uma fonte familiarizada com as negociações disse que a libertação não estava relacionada com o acordo de trégua com Israel e que partiu de uma via separada de diálogo com o Hamas, mediada pelo Egipto e pelo Qatar.
No mês passado, um grupo de políticos tailandeses muçulmanos tinha viajado até Teerão e reunido com representantes de topo do Hamas.
Thongkoon Onkaew disse à Reuters que o seu filho, Natthaporn Onkaew, um trabalhador agrícola de 26 anos, não constava no primeiro grupo de reféns libertados, mas acrescentou que estava “à espera de boas notícias”.