Paquistão exige 830 dólares a refugiados afegãos que fugiram dos taliban

Medida afecta dezenas de milhares de afegãos, a maioria antigos colaboradores dos EUA e do Reino Unido que estão há dois anos a aguardar vistos de países ocidentais.

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Protesto em Lahore contra a expulsão de refugiados afegãos EPA/RAHAT DAR
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O Governo do Paquistão anunciou que vai cobrar 830 dólares (761 euros), pagos através de cartão de crédito, a milhares de refugiados afegãos que fugiram do seu país na sequência da tomada do poder pelos taliban, no Verão de 2021.

A medida, que foi confirmada junto das autoridades paquistanesas pela BBC e pelo jornal britânico Guardian, abrange dezenas de milhares de afegãos que o Governo paquistanês não considera serem refugiados, contrariando a posição oficial da ONU e também dos EUA e do Reino Unido, que se disponibilizaram para receber, em conjunto, 45 mil pessoas desse grupo.

Na sua maioria, são cidadãos afegãos — e as suas famílias — que colaboraram de alguma forma com os governos e com as Forças Armadas norte-americanas e britânicas nos anos que antecederam o regresso dos taliban ao poder, muitos deles trabalhando como intérpretes ou guias, por exemplo.

Após a fuga para o lado paquistanês da fronteira, em 2021, estes afegãos estão ainda a aguardar a sua transferência para os EUA e para o Reino Unido, e permanecem no Paquistão sem documentos válidos, segundo as autoridades de Islamabad. Agora, cada um deles terá de pagar uma multa de valor equivalente a 761 euros.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, Mumtaz Zahra Baloch, disse ao Guardian que o Governo paquistanês não tem qualquer intenção de alterar a sua decisão.

"Estes indivíduos estão aqui há dois anos e não são refugiados, mas sim imigrantes sem documentos ou com vistos caducados", disse a responsável. "Esperamos que os países interessados acelerem os seus processos de concessão de vistos para que elas possam sair o mais rapidamente possível."

Um dos entraves à rapidez do processo parece ser a sensibilidade das comunicações entre os países envolvidos, principalmente sobre a identidade das pessoas candidatas a obterem vistos de residência nos EUA e no Reino Unido.

Segundo um diplomata de um país ocidental, citado sob anonimato pelo Guardian, o Paquistão exige saber mais do que apenas os nomes dos afegãos que aguardam transferência para outros países, o que é dificultado "por restrições legais àquilo que pode ser transmitido".

"Em muitos países, quem deixa caducar o seu visto tem de pagar uma multa, ou então é expulso", reconheceu um outro diplomata ocidental no Paquistão, citado pela BBC sob anonimato.

"O problema é quando se exige um pagamento a pessoas que estão a aguardar um visto por razões humanitárias", cita a BBC. "Nós não estamos dispostos a acolher estas pessoas apenas porque elas trabalharam para nós, mas também porque o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados [ACNUR] considera que elas têm carências humanitárias."

O porta-voz do ACNUR, Babar Baloch, disse que a agência está a trabalhar com o Governo do Paquistão sobre este assunto e defende "um estatuto de excepção para os refugiados" no pagamento de multas.

O caso destes afegãos que estão a aguardar a sua transferência para países ocidentais enquadra-se numa campanha mais abrangente, iniciada pelo Governo do Paquistão a 1 de Novembro, para expulsar do país quase dois milhões de estrangeiros — a esmagadora maioria nascidos no Afeganistão — que considera estarem em situação ilegal.

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