PCP acusa Pizarro de “andar a enrolar as negociações” com os médicos

“Termos um Governo de gestão sem poder é uma falácia... No dia em que o senhor ministro [da Saúde] for reunir com os sindicatos, o Governo está em plenas funções”, diz o líder do PCP.

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Paulo Raimundo apresentava as conclusões da reunião de sábado do comité central do PCP LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
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O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, acusou o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, de “andar a enrolar as negociações” com os médicos ao mesmo tempo que “vai desmantelando” o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O comunista defende ainda que o Governo continua em "plenas funções", pelo que pode (e deve) dar resposta às urgências que o país tem.

“O ministro da Saúde anda a enrolar as negociações [com os sindicatos médicos] e enquanto o vai fazendo vai paulatinamente desmantelando o SNS”, criticou este domingo o secretário-geral do PCP. Paulo Raimundo apresentava as conclusões da reunião do passado sábado do comité central do partido.

Para o comunista, o Governo continua “em plenas funções”, independentemente de António Costa ter apresentado a sua demissão e de Marcelo Rebelo de Sousa ter convocado eleições antecipadas para 10 de Março. “A questão de termos um Governo de gestão sem poder é uma falácia… No dia em que o senhor ministro [da Saúde] for reunir com os sindicatos, o Governo está em plenas funções e pode decidir o que entender”, constatou.

Defendendo que “o Governo não se pode refugiar nessa capa da ‘gestão’”, o líder do PCP sublinhou que o país está “perante uma urgência”: “Há uma urgência nas urgências, uma urgência no SNS, uma urgência de falta de médicos. A falta de médicos, tratamentos e acesso a medicamentos não ficam à espera até daqui a quatro meses.”

“Não alimentaremos essa ideia de ‘coitado, o Governo está em gestão e não pode fazer nada’. Pode, pode. Não só pode, como deve”, concluiu Paulo Raimundo.

O líder do PCP anunciou ainda que o partido vai organizar um encontro nacional no dia 13 de Janeiro para marcar “um grande arranque” da campanha eleitoral, anunciou hoje o secretário-geral do partido, que manifestou uma “convicção muito grande” de que a CDU vai crescer eleitoralmente.

“O Comité Central do PCP convocou para dia 13 de Janeiro de 2024 um encontro nacional sobre as eleições e ação do partido”, disse Paulo Raimundo.

O líder do PCP referiu que o encontro em questão vai servir “para fazer um ponto de situação”, afinar “conteúdos e linhas de orientação” e “dar um grande arranque do ponto de vista da campanha eleitoral”.

“Nós costumamos realizar encontros nacionais para o tratamento das questões eleitorais aquando de eleições e, portanto, é nesse enquadramento que se encaixa”, disse.

Questionado sobre os objectivos eleitorais do partido, Paulo Raimundo respondeu que o PCP “não tem nenhum objectivo numérico”, mas tem a “convicção muito grande” de que vai crescer eleitoralmente.

“Vamos crescer do ponto de vista eleitoral: mais votos, mais percentagem e mais deputados. Iremos tão longe conforme for a vontade do povo em nos dar esse reforço”, disse.

Sobre um calendário para apresentação do programa eleitoral e listas de deputados, o líder do PCP referiu que o partido ainda está a defini-lo, mas antecipou que, “até ao final do mês de Janeiro, terá essas questões “completamente clarificadas”.

Na sua intervenção inicial, Paulo Raimundo defendeu que a convocação de eleições antecipadas é “uma oportunidade para abrir caminho a uma outra política ao serviço dos trabalhadores e do povo”, considerando que é “o reforço do PCP e da CDU” que irá determinar essa mudança.

O líder do PCP criticou a actual maioria absoluta do PS, que considerou não ter respondido aos problemas da população, nem ter sido “factor de estabilidade política ou social”, acrescentando que “a ilusão” de que os socialistas podem dar soluções aos problemas “foi desmentida pela realidade”.

O secretário-geral do PCP defendeu que, com a marcação das eleições, estão também a ser retomadas “diferentes operações de manipulação”, que, contudo, “não conseguem apagar a realidade” de que as eleições legislativas são para “eleger deputados” e determinar “a futura composição da Assembleia da República”.

“É disso que se trata e é o número de deputados do PCP e da CDU que determina as opções futuras”, disse.

Questionado sobre uma eventual reconfiguração da ‘geringonça’, Paulo Raimundo reiterou que o que vai determinar “o rumo que o país vai seguir a partir do dia 10 de Março não é a forma, é o conteúdo”, acrescentando que esse conteúdo será influenciado pelo “número de deputados que o PCP tiver”.

“Quanto mais deputados o PCP e a CDU tiverem, em melhores condições estamos de influenciar o rumo de que precisamos e que abra um caminho novo e que não é caminho que nos trouxe até aqui, e muito menos este caminho destes últimos dois anos”, disse.

Apesar de rejeitar comentar a disputa interna pela liderança do PS, Paulo Raimundo referiu que, independentemente de quem venha vencer, os dois candidatos - Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro - estão “profundamente comprometidos” com o rumo seguido até agora.

Paulo Raimundo defendeu ainda que, apesar de se querer retratar as eleições de “forma simplista”, como havendo “um ajuntamento de esquerda e de direita”, o que vai estar em confronto em 10 de Março é “o confronto entre os que concentram 25 milhões de euros de lucros por dia e os três milhões de trabalhadores que ganham até mil euros por mês brutos”.

“Este é que é o confronto que vai estar em cima da mesa. Portanto, não vale a pena estar a falar de forma, quando o que está em cima da mesa é o conteúdo”, defendeu, depois de afirmar que o PS "não foi obstáculo à política de direita, antes foi seu protagonista".