A britânica Burberry é afectada pelo abrandamento do consumo de luxo

As acções da Burberry caíram 10% nas primeiras negociações, e o tom pessimista pesou sobre o sector em geral.

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Turistas à porta de uma loja Burberry na Praça Vermelha, em Moscovo, Rússia EPA/YURI KOCHETKOV

A Burberry vai ter dificuldades em cumprir a previsão de crescimento anual das suas receitas, que aponta para um crescimento baixo de dois dígitos, após um abrandamento global das despesas no sector do luxo, declarou a empresa britânica nesta quinta-feira.

A empresa, que lançou a primeira colecção do designer Daniel Lee em setembro, registou um forte abrandamento do crescimento das vendas comparáveis nas lojas no segundo trimestre para 1%, contra 18% no primeiro, à medida que o crescimento na China se evaporava.

As acções da Burberry caíram 10% nas primeiras negociações, nesta manhã, e o tom pessimista pesou sobre o sector em geral. Após anos de grande procura, a subida da inflação e a incerteza económica reduziram o apetite dos compradores pelo luxo, levando os investidores a reduzir as previsões.

A Burberry afirmou que o abrandamento foi acentuado em Setembro, coincidindo com a chegada às lojas dos primeiros modelos de Daniel Lee e de uma nova identidade da marca — o último passo na sua estratégia para colocar a marca num escalão superior do luxo.

O director-executivo Jonathan Akeroyd afirma que a redução das receitas foi “muito orientada para a macroeconomia”, e não para a resposta a novos produtos como, por exemplo, a mala média Knight, de 3890 libras (4530 euros).

Ao fim de seis semanas, o responsável diz estar entusiasmado com a forma como os novos modelos estão a ser recebidos pelos consumidores, classificando de uma “boa mudança” no que aos acessórios, tanto sapatos como malas, diz respeito.

Quebra do consumo chinês

O gestor de carteiras de investimento Angelo Meda, da Banor SIM, lembra que a Burberry “não é certamente um caso isolado”, uma vez que se trata de um cenário semelhante devido aos dados pouco animadores em relação ao consumo dos clientes chineses. “Há muito tempo que não víamos algo assim no sector do luxo”, declara.

Em Outubro, a LVMH, o maior conglomerado de luxo do mundo, com marcas como a Louis Vuitton, Dior e Tiffany, registou um abrandamento das vendas trimestrais, tal como a Kering, com as suas marcas Yves Saint Laurent, Balenciaga e Bottega Veneta. A Richemont, proprietária da Cartier, também previu um crescimento mais lento.

Com uma procura mais fraca, os grupos de luxo estão cada vez mais a visar os 5% de compradores de topo, à medida que o abrandamento pós-pandémico da China diminuiu o poder de compra da classe média, outrora aspiracional, daquele país.

Também a Burberry está a tentar subir de escalão, aumentando os preços e a qualidade dos produtos, renovando as lojas e investindo em marketing, mas a estratégia ainda não ajudou os seus números.

Na Burberry, a China recuou no segundo trimestre, após uma recuperação do impacto do confinamento devido à covid-19. A procura na China enfraqueceu ao longo do trimestre e a extensão do abrandamento foi evidente em Setembro, reforça aos jornalistas Kate Ferry, directora financeira da marca.

“As taxas de saída que vimos no final do segundo trimestre continuaram no trimestre (actual)”, declara. A procura interna também diminuiu no mercado britânico e nas Américas as vendas comparáveis em loja caíram 10%.

A Burberry afirma que as despesas dos consumidores de luxo chineses se deslocaram da China continental para o estrangeiro e que o crescimento do turismo ajudou os destinos europeus, com pouco mais de metade das despesas na região a terem proveniência no consumo de visitantes internacionais.

Jonathan Akeroyd afirma: “Embora, recentemente, o ambiente macroeconómico se tenha tornado mais difícil, estamos confiantes na nossa estratégia para concretizar o nosso potencial enquanto marca de luxo britânica moderna e continuamos empenhados em atingir os nossos objectivos a médio e longo prazo.”

Nesta quinta-feira, a Burberry declara que os primeiros indicadores da procura da sua colecção de Inverno eram “encorajadores” e que tinha obtido um bom desempenho nas categorias de vestuário exterior e de artigos de couro no primeiro semestre.


Notícia actualizada às 12h44: acrescentadas novas declarações do director-executivo Jonathan Akeroyd.