Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo apresenta uma versão 2.0

Programa que já certificou 20 produtores e tem perto de 650 inscritos está mais inclusivo e adaptado aos desafios das alterações climáticas na região, com uma parceria com a ONG ambiental ANP|WWF.

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O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo tem uma versão 2.0, que junta às preocupações ambientais outras sociais, com quem trabalha no sector Mário Cruz
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A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) lançou esta terça-feira uma nova versão do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), resultante de uma parceria com a Associação Natureza Portugal/World Wide Fund (ANP/WWF). O “PSVA 2.0”, como lhe chamam, apresenta critérios de sustentabilidade melhorados, mais inclusivos, e mais adaptados aos desafios climáticos actuais.

João Barroso, engenheiro ambiental responsável pelo PSVA, sublinhou ao PÚBLICO que passou mais de uma década desde que o programa foi pensado, em 2013 (apesar de só ter sido lançado dois anos depois, em 2015), e que “muita coisa mudou” desde a sua primeira versão, daí esta necessidade de actualização.

“Houve conceitos que apareceram que na altura não estavam bem trabalhados. Por exemplo, a economia circular, que não estava espelhada de forma directa [no anterior PSVA], ou o conceito de agricultura regenerativa”, afirma.

As alterações climáticas na região, com um “intensificar de fenómenos como as secas, as ondas de calor e a interrupção do ciclo da água, com pouca chuva”, também foram determinantes para as recentes adaptações do programa. “Hoje pede-se muita coisa associada à pegada de carbono, coisa de que não se falava há dez anos”, exemplifica João Barroso.

O PSVA 2.0 tem o mesmo número de critérios de avaliação de sustentabilidade do programa anterior (171 critérios), mas um número maior de capítulos de trabalho (em vez de 18 passa a ter 20 capítulos), que incluem novos conceitos e medidas mais “inclusivas”.

A actualização do PSVA, com uma alteração de “94% ou 96% dos critérios” permitiu também juntar às questões ambientais outras sociais, como a inclusão de trabalhadores com deficiência, e questões de género, como a “equidade salarial”.

Painéis solares na Herdade dos Lagos, um dos produtores certificados pelo Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo Mário Cruz
Na Herdade dos Lagos, certificada pelo PSVA, há ovelhas a 'trabalhar' na vinhas; em primeiro plano, um dos cinco lagos construídos pelo produtor para reter água Mário Cruz
Vinhas da Adega da Cartuxa (Fundação Eugénio de Almeida), que se encontra no processo de certificação pelo PSVA Mário Cruz
Às preocupações ambientais, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo junta, na sua versão 2.0, preocupações com a inclusão social; na foto a adega da Mainova Mário Cruz
João Barroso é engenheiro ambiental e coordena o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, uma iniciativa da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana,João Barroso é engenheiro ambiental e o director do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, uma iniciativa da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana Mário Cruz,Mário Cruz
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Painéis solares na Herdade dos Lagos, um dos produtores certificados pelo Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo Mário Cruz

“Ao fim de dez anos pensámos que havia oportunidades de melhoria neste sistema, que não está ao nível da inclusividade que queríamos”, diz o responsável pelo PSVA. “Temos realidades muito distintas, empresas familiares e outras com 250 empregados, umas que fazem 100 mil garrafas, outras que fazem cinco milhões e outras ainda que fazem 15 e 20 milhões [por ano]. Este modelo tem de agradar a todos, tem de ser inclusivo para todos.”

O programa, de adesão gratuita e voluntária, tem actualmente perto de 650 produtores do Alentejo inscritos, 20 deles com o certificado PSVA, uma distinção lançada em 2020 para quem cumpre todos os 171 critérios de sustentabilidade, a primeira no país deste género e a servir de modelo à certificação nacional gerida pela ViniPortugal, apresentada o ano passado.

A Herdade dos Grous foi a primeira a obter o certificado, em 2020, a última, a Herdade Paço do Conde, no mês passado, e a Adega de Borba foi a primeira cooperativa a obter a certificação pelo PSVA. “Até ao fim do ano, acredito que teremos pelo menos mais três ou quatro produtores para certificar”, avança João Barroso, acrescentando que só em 2023 houve sete certificações.

O responsável pelo PSVA destaca ainda a importância da parceria inédita entre a CVRA e a organização não-governamental ANP/WWF na actualização das medidas sustentáveis do programa, que “elevou o grau de exigência” do trabalho com os produtores. “Muitas vezes as organizações de preservação do ambiente e o sector agrícola estão de costas voltadas e aqui temos um exemplo muito interessante de construção entre duas organizações desta natureza”, afirma.

Para os produtores já certificados, haverá um “período de adaptação à mudança” do PSVA, explica João Barroso, que o considera uma “aposta ganha no Alentejo”.

Indirectamente, o programa já levou a que produtores pagassem mais pelas uvas de viticultores inscritos, como o PÚBLICO noticiou em Novembro do ano passado. A nível de competitividade, o "selo" de sustentabilidade alentejano tem conquistado especialmente os mercados externos, como o mercado nórdico, onde há tenders (concursos para o fornecimento de vinho) com o PSVA nos requisitos.

De acordo com João Barroso, o mercado nacional “não tem sido um grande alvo” do trabalho do PSVA, por estar “um pouco imaturo nestas questões” de sustentabilidade na produção, lamenta. “Ainda a procissão vai no adro em relação a outros mercados mais maduros, como o do Reino Unido, o Norte da Europa ou os Estados Unidos. É um trabalho contínuo.”

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