A demissão de Costa e a “inesperada” crise política portuguesa nos jornais estrangeiros
A demissão de António Costa divide atenções com o discurso do rei Carlos III nos jornais britânicos. Em Espanha, chegou mesmo às manchetes. A crise política nos jornais estrangeiros.
As notificações começaram a cair nos telemóveis segundos depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter anunciado, a partir de São Bento, que “obviamente” se demitia do cargo na sequência das suspeições de corrupção que recaíam sobre ele e sobre membros do executivo nos negócios de exploração de lítio e hidrogénio. E chegaram de todo o lado.
O assunto ocupa, na tarde desta terça-feira, 7 de Novembro, a manchete do El País, com o título: “António Costa demite-se do cargo de primeiro-ministro de Portugal depois de estar envolvido num caso de corrupção em projectos energéticos”. O artigo aponta a “grande incerteza política” que se abate agora sobre Portugal e conta a história do “choque que precipitou a demissão de Costa em poucas horas”.
O El Español também colocou a demissão de Costa no primeiro título da página inicial: “António Costa demite-se do cargo de primeiro-ministro de Portugal após ser investigado por corrupção”. O segundo artigo explica a teia de suspeitas em causa nesta investigação, que envolve “os negócios de lítio e hidrogénio verde com a EDP e a Galp, financiados pela UE”.
Sem escolher o assunto para manchete, o El Mundo dedica um vídeo aos acontecimentos que culminaram no afastamento do primeiro-ministro, ao início da tarde, e destaca “os três projectos por que se demitiu António Costa”.
No dia em que o rei Carlos III proferiu o primeiro discurso na Câmara dos Lordes na qualidade de monarca, por ocasião da abertura do Parlamento inglês, António Costa divide com ele as atenções nas páginas iniciais dos principais jornais britânicos. No extenso e preenchido site do tablóide Daily Mail, dá-se conta de que “a polícia portuguesa deteve Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro, horas antes da declaração de Costa, durante uma rusga a vários edifícios públicos e outras propriedades no âmbito da sua investigação”.
O jornal The Guardian noticiou a demissão de António Costa “no âmbito de uma investigação sobre corrupção”, “horas depois de os procuradores que investigam alegados casos de corrupção relacionados com negócios de lítio e hidrogénio ‘verde’ terem anunciado que ele estava a ser investigado”. Um título semelhante foi escolhido pela Sky News.
O Financial Times estava atento ao assunto muito antes das declarações do governante português ao país. O título inicial — “Primeiro-ministro António Costa envolvido em crise de corrupção” — foi entretanto actualizado para dar conta de que o líder do executivo português se tinha demitido “enquanto uma crise de corrupção explode”.
Em França, no Le Monde, a crise política em Portugal está logo abaixo da manchete — que continua dedicada nesta tarde aos acontecimentos na guerra no Médio Oriente, que se intensificou precisamente um mês após o ataque do Hamas contra Israel. O jornal noticia a demissão de António Costa, “apanhado por um escândalo de corrupção”.
Mesmo ao lado da manchete do Le Parisien, que dá conta de um apelo político a uma marcha contra o anti-semitismo no domingo, a demissão de António Costa só merece, por enquanto, uma menção na ferramenta que mostra as notícias publicadas mais recentemente no site. “Demissão do primeiro-ministro António Costa, implicado num caso de corrupção”, anuncia o título do artigo em causa.
O tema também não passou ao lado da redacção do Le Figaro: “Depois de uma vitória eleitoral esmagadora a 30 de Janeiro de 2022, que deveria garantir a estabilidade do seu Governo, António Costa viu a sua popularidade cair a pique devido a repetidos escândalos”, destaca o jornal francês.
No outro lado do oceano, no Brasil, a Folha de São Paulo noticiou que o “premiê de Portugal” renunciou ao cargo “após escândalo de corrupção no sector de energia”, sublinhando que as buscas desta manhã causaram “um terramoto político no país”, com os líderes dos partidos da oposição a pedir a demissão de António Costa.
O rosto de António Costa ocupa metade da manchete do G1, o site noticioso do grupo brasileiro Globo: “Suspeita de corrupção no sector de energia derruba premiê de Portugal”, publicou, juntamente com outro artigo sobre quem é “o socialista que governou Portugal por oito anos”. Logo ao lado, outro artigo remete para os acontecimentos em Portugal: o caso de uma cidadã brasileira que afirma ter sido vítima de xenofobia no aeroporto em Lisboa.
O Estadão repete que o primeiro-ministro demissionário português está a ser “alvo de investigação”, desencadeando um “escândalo de corrupção”: “António Costa apresentou pedido de demissão após operação de busca e apreensão na sua residência oficial”, pode ler-se na página principal.
Sem pôr o tema na página principal, The Washington Post serviu-se de um artigo da Associated Press para noticiar que o “primeiro-ministro de Portugal se demitiu porque o seu governo está envolvido numa investigação de corrupção”, dando conta de que António Costa se “comoveu ao agradecer à família”.
O jornal The New York Times escolheu levar o tema à sua página principal, noticiando que a demissão de António Costa ocorreu “de forma inesperada”: “Os socialistas obtiveram uma maioria absoluta nas eleições antecipadas de 2022, o que lhes deu lugares suficientes no Parlamento para governar sem uma coligação. O resultado foi visto como um alívio para Costa, que tinha sido popular por ter gerido a resposta do país à pandemia do coronavírus, mas também enfrentou questões sobre a sua gestão da economia.”