Verão ajudou a Galp, que lucra 718 milhões desde Janeiro

Vendas à aviação já superam o nível pré-covid e “elevada mobilidade sazonal” impulsiona resultado no retalho, segundo as contas da petrolífera, cujo resultado líquido subiu 12% no terceiro trimestre.

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Galp lucrou 718 milhões de euros este ano, até Setembro Reuters/RAFAEL MARCHANTE
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Duzentos e cinquenta milhões no primeiro trimestre, que sobem para 508 milhões ao fim de dois trimestres e agora chegam aos 718 milhões ao fim de três trimestres. Os lucros da Galp continuam em crescendo este ano, apesar de o ritmo de crescimento ao longo destes nove meses ter vindo a abrandar.

Segundo as contas trimestrais publicadas nesta segunda-feira pela petrolífera, os resultados de Janeiro a Setembro representam um aumento de 18% face ao mesmo período de 2022. Na primeira metade do ano, o crescimento homólogo tinha sido de 21%. E nos primeiros três meses fora de 62%.

Olhando isoladamente para os resultados em cada trimestre, o primeiro deste ano fechou com lucro de 250 milhões, o segundo teve um resultado líquido positivo de 258 milhões e o terceiro, que agora é oficialmente apurado, deixa para a história um lucro de 210 milhões de euros.

Numa base homóloga, o saldo deste terceiro trimestre (Julho-Setembro) de 2023 fica 12% acima do lucro de 187 milhões registado entre Julho e Setembro de 2022.

“Este foi um trimestre forte para a Galp, com um um bom impulso operacional liderado pelo desempenho dos nossos activos no Brasil”, avalia Filipe Silva, presidente executivo da empresa. “O nosso robusto desempenho financeiro está espelhado em todas as unidades de negócio, num contexto de execução estratégica disciplinada.”

Na apresentação aos investidores, a Galp destaca o “sucesso” na “captura do ciclo das commodities”. O mesmo é dizer que aproveitou as variações de preço em alta que têm pautado o mercado grossista do petróleo e gás em 2023, aliando a isso uma “forte contribuição comercial” nos meses do Verão.

Tal assentou em vendas à aviação totalmente recuperadas da pandemia e que já “ultrapassam os níveis pré-covid” e elevados resultados no desempenho do retalho ibérico graças a uma “maior mobilidade sazonal”.

A petrolífera reporta ainda o pagamento de 76 milhões de euros de windfall taxes em Portugal e Espanha, isto é, de imposto sobre lucros inesperados nos dois países da Península Ibérica.

Mesmo com o gás natural liquefeito de Moçambique a aproximar-se de um “nível-plateau, segundo a Galp, e com o progressivo desreconhecimento da operação em Angola, que foi vendida, o retrato financeiro da petrolífera não só deve parecer interessante para accionistas como também gera perspectivas mais optimistas para o futuro próximo entre os gestores da comissão executiva.

Embora a produção tenha caído 4% em termos reais (sobretudo pela quebra no petróleo, que recua 11%, já que no gás há um aumento de 55%) nestes nove meses de 2023 em análise, a Galp até regista uma produção maior se as contas forem feitas sem Angola, permitindo assim uma base comparável entre 2022 e 2023. Nesse caso, há um aumento de 6%, para 120 mil barris diários, meta que se espera manter até ao final do ano e que fica acima do objectivo inicial de 155 mil barris diários que a empresa tinha até agora.

Quanto ao preço médio por barril, ele situou-se nos 77,7 dólares (EUA), 25% abaixo dos 103,8 dólares de há um ano. Estes preços são estimados com base no diferencial para o preço médio do Brent (que serve de referência para a Europa) para o período em que a Galp negociou cada carregamento, deduzindo os custos logísticos associados ao transporte.

A empresa revê, aliás, o preço médio por barril de 75 dólares, na estimativa inicial, para 83 dólares em 2023. Acredita também numa melhoria significativa da margem de refinação, que será de 11 dólares e não nove, como estimava inicialmente. Nestes nove meses desde Janeiro de 2023, esta margem situou-se nos 12,2 dólares, 11% acima do valor homólogo de 2022.

No investimento, a Galp regista um recuo de 48% em termos homólogos no terceiro trimestre e de 31% no acumulado do ano. Brasil foi o principal destino do investimento nestes nove meses, com a área das renováveis (solar) a captar cerca de um quinto da despesa, que totaliza 642 milhões de euros. O investimento “verde”, dirigido a projectos de baixo carbono ou zero em carbono, representou 19% das despesas de capital (o “capex” do jargão contabilístico). Estão em causa sobretudo os projectos na área do hidrogénio.

Na área comercial, a maior parte do investimento foi alocada à “transformação do retalho, quer em Portugal, quer em Espanha, incluindo a transformação de localizações actuais e o desenvolvimento de novas lojas de conveniência”.

A dívida da Galp estava, a 30 de Setembro, nos 1211 milhões de euros, menos 344 milhões face ao valor da dívida no final de 2022. O dinheiro em caixa e equivalentes é quase o dobro do valor da dívida e a facturação ascendeu a 15.550 milhões de euros até Setembro, menos 25% em termos homólogos. Porém, os custos das matérias caíram de forma ainda mais acentuada, 34%.

Incluindo as variações de inventário (-45 milhões) e os efeitos extraordinários dos itens especiais (232 milhões), que são desconsiderados no ajuste que a Galp faz nas contas para obter um retrato contabilístico mais próximo ao que decorre das suas operações, o resultado líquido ascende a 906 milhões de euros neste período, o que daria um aumento de 22%.

A maior parte daqueles itens especiais com impacto extraordinário nas contas advém da operação em Angola, que representa 159 milhões de euros que a empresa prefere subtrair aos resultados operacionais antes de depreciações e amortizações, uma vez que mantém Angola nas contas apenas até à conclusão do processo de venda.

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