O Benfica voltou a não ganhar e poucos estranharão o que se passou

O guarda-redes Trubin, que aos 80’ estava a ser o herói que salvava a vitória, passou a vilão que promoveu o empate a um golo frente ao Casa Pia. A equipa “encarnada” saiu do relvado com assobios.

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O Benfica interno não é de forma evidente uma equipa melhor do que a pobre versão europeia. É certo que ataca mais, sobretudo de forma consentida por adversários menos virtuosos, mas mantém, em geral, o nível assim-assim – e talvez esta definição roce o eufemismo. Porque se até então o mau futebol na I Liga era compensado pela virtude nos resultados, agora já nem essa premissa é verdadeira.

O empate (1-1) neste sábado, na I Liga, frente ao Casa Pia, não chocará muita gente. Porque se é facto que o Benfica quis mais vencer este jogo, e isso poucos negarão, também é facto que as oportunidades de golo foram divididas e o valor de golos esperados, que mede a qualidade das oportunidades, até acabou a ser superior para o Casa Pia – 1,14 contra 1,35. E Trubin, que aos 80’ estava a ser o herói que salvava a vitória, passou a vilão que promoveu o empate.

Direita, direita, direita

O Casa Pia apareceu na Luz com um 3x4x3 durante cinco minutos, mas o sistema rapidamente resvalou para um 5x4x1 muito contido, com duas linhas bastante baixas. Do lado contrário, o Benfica surgiu com João Mário como ala-direito e Neres à esquerda, o que batia certo, no plano teórico, com uma suposta predilecção para cruzamentos que alimentassem Arthur Cabral, avançado que precisa desse tipo de jogo. Mas não foi isso que aconteceu.

O Benfica fez 12 cruzamentos, mas quase todos em situações de recurso, sem qualquer preparação – e, também por isso, sem presença suficiente na área.

Houve, nessa medida, um jogo quase “sem balizas”, com o Benfica incapaz de jogar. Um olhar para o mapa de calor da primeira parte mostrava até uma zona muito escura no lado direito e tons muito claros do lado esquerdo – o que significava que a equipa insistia nesse lado e, por extensão, tinha o seu principal criativo, David Neres, fora do jogo durante largos períodos – curiosamente, a excepção a esse momento foi quando o brasileiro quis aparecer à direita e, coincidentemente ou não, criou o único lance de perigo em ataque organizado – Rafa isolou o brasileiro de calcanhar.

De resto, até pela previsibilidade da insistência no corredor direito, pouco havia a contar, a não ser um lance confuso mal finalizado por Arthur Cabral.

Até que aos 44’ o Benfica criou um desenho bastante interessante e muito pouco visto. João Neves e Aursnes, médio e lateral, arrancaram sem bola na direcção da baliza do Casa Pia, ambos para a zona do lateral Lelo.

Esse dois contra um sem bola criou dúvidas no adversário, que acabou por preferir defender Neves, pela zona interior, deixando a bola entrar facilmente em Aursnes, que teve espaço para assistir João Mário – depois, houve recepção, alguma fortuna no ressalto e um remate forte, com a bola a meia altura.

Trubin decisivo - para as duas equipas

E não é coincidência que os dois lances de perigo em ataque organizado tenham surgido quando jogadores apareceram longe das suas zonas de partida – Neres quando apareceu à direita e Neves quando arrancou em direcção à área. Por que motivo essa maior dinâmica posicional não foi repetida? É difícil de entender.

No início da segunda parte houve penálti assinalado a favor do Casa Pia, defendido por Trubin, e nem esse momento foi um alerta para os “encarnados”, que mantiveram a facilidade com que desequilibravam a equipa, tendo os dois laterais muito projectados em simultâneo. O Casa Pia esteve perto do golo pouco depois, em mais um lance salvo por Trubin, e só aí o Benfica serenou.

Passou a tentar controlar o jogo com bola, esfriando o risco, e o jogo tornou-se ainda mais monótono. O Benfica quis ganhar faltas e “congelar” a partida – e conseguiu-o em muitos momentos. E o Casa Pia, por muito que quisesse chegar-se à frente, passava muito mais tempo atrás da bola, refém da qualidade técnica “encarnada”, do que a criar jogadas de ataque.

Até que relativamente "do nada", ao minuto 81, uma bola longa nas costas de Jurásek deu remate de Larrazabal sem muito ângulo e contribuição de Trubin, que ficará nos resumos como autor de um “frango”.

“Do nada” define apenas o estado de coisas no momento do golo, já que não pode ser utilizado para explicar o festejo do Casa Pia – porque, em rigor, a equipa de Filipe Martins já tinha oportunidades de golo e valor de golos esperados suficientes para já ter celebrado. Por isso, celebrou. E ninguém estranhará.

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