Polícia dispara gás lacrimogéneo em manifestação contra resultados eleitorais em Moçambique
Frelimo venceu em 64 das 65 autarquias do país, segundo os resultados definitivos anunciados pela CNE. Renamo fala em “homicídio da democracia”.
A polícia moçambicana fez esta sexta-feira vários disparos de gás lacrimogéneo sobre milhares de pessoas que se manifestam em Maputo contra os resultados das eleições autárquicas anunciados pela Comissão Nacional de Eleição (CNE), que deram à Frelimo a vitória em 64 das 65 autarquias do país.
Os manifestantes participam numa marcha convocada pelo cabeça-de-lista da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição) à autarquia de Maputo, Venâncio Mondlane, que reclama ter vencido aquela eleição, a 11 de Outubro, e tentaram seguir, na avenida 24 de Julho, em direcção às instalações do Conselho Constitucional.
Nessa altura, cerca das 11h 30 locais (10h 30 em Lisboa), a marcha foi travada com o posicionamento de vários veículos blindados da polícia e depois pelo lançamento de gás lacrimogéneo, ao que os manifestantes responderam com o arremesso de pedras.
Pelo menos uma pessoa ficou ferida, atingida durante o lançamento de gás lacrimogéneo pela polícia, constatou a Lusa.
Naquela avenida central de Maputo o trânsito está hoje fortemente condicionado pela polícia e a maioria do comércio está encerrada.
O candidato da Renamo em Maputo, Venâncio Mondlane, apelou à população para “parar tudo” hoje, protestando contra o “homicídio da democracia”, face ao anúncio de vitória eleitoral da Frelimo em praticamente todos os municípios do país.
“Paramos com toda a actividade pública e privada [na sexta-feira]”, apelou Venâncio Mondlane, numa mensagem divulgada pouco depois de Carlos Matsinhe, presidente da CNE, ter anunciado, ao final da tarde de quinta-feira, a vitória da Frelimo em 64 das 65 autarquias nas eleições autárquicas de 11 de Outubro, incluindo Maputo, confirmando os resultados de apuramento intermédio, fortemente contestados por observadores, organizações da sociedade civil e partidos da oposição.
Carlos Matsinhe, que leu a ata dos resultados a partir da capital, afirmou que oito membros daquele órgão votaram a favor do apuramento geral do escrutínio, cinco contra e dois abstiveram-se, incluindo o próprio presidente da instituição, segundo a Renamo.
Vários tribunais em todo o país chegaram a anular procedimentos, incluindo três em Maputo, e a mandar repetir o processo eleitoral nos últimos dias, mas os resultados anunciados pela CNE mantiveram-se praticamente inalterados face ao apuramento intermédio.
O candidato da Renamo à capital apelou à população para “cancelar tudo” esta sexta-feira para uma “megaconcentração” para “celebração da verdade”, esperando a presença de “60.000 pessoas, 60.000 revolucionários”.
“O objectivo directo e claro é o genocídio político da Renamo. E se o povo não reagir, em 2024, em definitivo, eliminar a Renamo, eliminar a democracia”, afirmou aludindo à realização de eleições gerais no próximo ano e ao facto de o maior partido da oposição ter perdido, conforme anúncio da CNE, todas as oito autarquias que liderava no país.
O cabeça-de-lista da Frelimo a Maputo, Razaque Manhique, foi anunciado quinta-feira pela CNE como vencedor das eleições autárquicas na capital, com 58,78%. De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados do escrutínio ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial eleitoral do país.
A autarquia de Maputo sempre foi liderada pela Frelimo, mas Venâncio Mondlane reclamou vitória nestas eleições, com 53% dos votos, com base na contagem paralela a partir dos editais e atas originais das assembleias de voto.
“Os números estão a favor da Renamo”, reagiu o candidato, assumindo estar na posse de todos os documentos originais.
Na quarta-feira, os presidentes da Renamo, Ossufo Momade, e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) – que manteve a autarquia da Beira -, Lutero Simango, asseguraram que vão lutar “juntos para poder salvar a democracia”, insistindo que as eleições autárquicas do dia 11 foram o “cúmulo” da fraude eleitoral.