Porto
As fotografias "sem passado" dos bebés da Roda do Porto estão agora em exposição
Felícia Oliveira quis descobrir quem foram os bebés entregues na Casa da Roda do Porto. A exposição Sem Passado está no Arquivo Distrital do Porto até esta sexta-feira e tem entrada livre.
São as únicas memórias que ligam os bebés entregues na Casa da Roda do Porto às famílias que lá os deixaram por não os conseguirem ou quererem criar. Uma carta, seis de ouros, foi o sinal deixado pelos pais de uma criança chamada Jerónima. Outros levaram lenços, peças de roupa, pedaços de pano, cartas e até uma moeda reis partida e enfiada numa fita cor-de-rosa com a promessa de que, um dia, a bebé seria procurada.
Felícia Oliveira procurou os sinais (enxoval) das crianças “sem passado” nas centenas de caixas de cartão do Arquivo Distrital da cidade (ADP) que a instituição acolheu até ao século XIX. Com cuidado, estudou-os, quis saber quem eram os bebés por detrás daquelas memórias e depois, fotografou-as. A exposição Sem Passado está no ADP até esta sexta-feira, dia 27 de Outubro, e a entrada é livre. No sábado, dia 28, pelas 15h, será tema de conversa na galeria de arte Mira Fórum, em Campanhã.
Nas 22 imagens, as mãos da fotógrafa e estudante de mestrado de Fotografia Documental, são presença assídua, sinal de uma interpretação visível das questões que lhe assombravam a mente quando analisava cada novo objecto: “O que sentiram e viveram, realmente, as crianças expostas?”
Algumas das fotografias, que Felícia descreve como “fantasmagóricas”, jogam com a luz, com a sombra e até com a cor. Numa delas, a mão faz sobressair um fio de tecido vermelho, uma espécie de cordão umbilical que puxa a meada de todos os outros sinais que encontrou no arquivo. No escuro, um raio-X mostra um crucifixo e um papel gasto pelo tempo que um dos enjeitados trouxe quando foi deitado na roda.
A Casa da Roda do Porto já não existe, mas em Caria, Belmonte, a janela onde os bebés eram colocados resistiu ao tempo e ficou registada na lente da fotógrafa.
Depois de um ano de trabalho, o objectivo é publicar um livro com a descoberta e, de seguida, voltar a vasculhar os arquivos do Porto e mostrar a todos o que encontrou através da câmara fotográfica.