Lagarde avisa que manter agora as taxas “não significa que não voltem a subir”

Banco Central Europeu decidiu, por unanimidade, manter as taxas de juro ao fim de dez subidas nos últimos 15 meses. Lagarde diz que o que vem a seguir depende dos dados.

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BCE reuniu-se hoje em Atenas, na Grécia Reuters/LOUIZA VRADI
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“Sem arrependimentos” em relação à primeira metade do seu mandato e “mais determinada do que nunca a trazer a taxa de inflação para 2%”, Christine Lagarde não quis, no dia em que, ao fim de 15 meses, optou por não subir as taxas de juro, comprometer-se com a ideia de que os custos de financiamento na zona euro atingiram finalmente o seu pico. “Estamos dependentes dos dados”, disse.

Menos de uma hora antes de a presidente do Banco Central Europeu (BCE) ter iniciado a habitual conferência de imprensa que se segue à reunião do conselho de governadores, desta vez feita em Atenas, a decisão que todos esperavam já tinha sido anunciada: depois de dez subidas consecutivas nas reuniões anteriores, a autoridade monetária manteve as suas taxas de juro inalteradas, o que significa que a taxa de depósito (a principal referência para os custos de financiamento na zona euro) permanece em 4%.

A opção de parar o ciclo de subida de taxas foi feita de forma unânime por todos os membros do conselho, revelou depois Lagarde, e veio confirmar as expectativas que tinham sido criadas no final da última reunião, realizada em Setembro (quando o BCE subiu as taxas em mais 25 pontos-base, ou 0,25 pontos percentuais), de que, dentro do banco central, já se acredita que não será preciso ir mais longe no aperto da política monetária para garantir que a inflação na zona euro caminha mesmo para os 2%, o objectivo de médio prazo definido pela instituição.

O comunicado publicado esta quinta-feira fez questão de reforçar esta ideia, repetindo, palavra por palavra, a frase que já tinha sido usada no comunicado da reunião de Setembro: “Com base na sua avaliação actual, o conselho considera que as taxas-chave de juro do BCE atingiram níveis que, se mantidas por um período de tempo suficientemente longo, irão dar uma contribuição substancial para este objectivo [de garantir que a inflação regressa atempadamente à meta de médio prazo de 2%].

Com esta afirmação, aquilo que o banco central está a dizer, na prática, é que, nas actuais circunstâncias, já não deverá ser preciso mexer nas taxas de juro durante vários meses, nem para cima nem para baixo.

No entanto, na conferência de imprensa, Christine Lagarde fez questão de ser bem mais prudente quando questionada sobre o que se poderia esperar do BCE nas próximas reuniões. Principalmente quando lhe pediram para confirmar que o pico de taxas de juro na zona euro tinha sido efectivamente atingido. “O facto de termos mantido [as taxas de juro], não quer dizer que não voltemos nunca mais a subir. (…) Não vou dizer se estamos no pico. Continuamos dependentes dos dados”, afirmou a presidente do BCE.

Em contraponto, relativamente à possibilidade de, perante o risco de entrada em recessão da economia da zona euro, o BCE poder dar início a uma descida de taxas de juro, Christine Lagarde não teve problemas em deixar claro o que é que se pode esperar para o futuro próximo. “Mesmo termos uma discussão relativamente a cortes de taxas de juro é totalmente, totalmente prematuro”, disse.

Esta porta aberta deixada pela presidente do BCE a uma nova subida das taxas de juro encontra uma das suas justificações naquilo que neste momento está a acontecer no Médio Oriente, com o risco de o conflito entre Israel e o Hamas ter um impacto negativo no mercado petrolífero.

Lagarde disse que “as maiores tensões geopolíticas podem aumentar os preços no curto prazo e tornar mais incerta a sua evolução no médio prazo”, garantindo que o BCE está a “monitorizar a situação”. “Estamos muito atentos aos impactos económicos, nomeadamente ao efeito que pode ou não vir a ter nos preços do petróleo”, afirmou.

Quando questionada sobre como é que o banco central iria desta vez responder a uma nova subida de preços do petróleo, a presidente do BCE disse que a situação é diferente da vivida no ano passado com o início da guerra na Ucrânia, mas deixou uma garantia: “A nossa determinação em trazer a inflação para 2% está intacta e é mesmo maior do que nunca, tendo em conta que estamos cada vez mais próximos do objectivo.”

Era esperado que desta reunião saíssem novidades sobre outros elementos da política monetária do BCE que não as taxas de juro, nomeadamente a velocidade com que o BCE pretende reduzir o volume de títulos de dívida pública que acumulou no seu balanço e a revisão da forma como os bancos comerciais são remunerados pelas reservas que mantêm no banco central. Christine Lagarde não respondeu às perguntas sobre estes temas, dizendo que os assuntos “não foram discutidos nesta reunião”.

Para o fim, ficou uma pergunta mais pessoal a Lagarde, que está a chegar a meio do seu mandato à frente do BCE. Questionada sobre se tinha alguns arrependimentos, respondeu, ao estilo da também francesa Edith Piaf: “Sem arrependimentos.”

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