Jornalistas que revelaram a morte de Mahsa Amini condenadas a 13 e 12 anos de prisão
Armita Garavand, a adolescente que terá sido agredida pela “polícia da moralidade” no metro de Teerão, está em morte cerebral. Condenações são conhecidas semanas depois do Nobel da Paz.
Foram as primeiras jornalistas a denunciar o que acontecera a Jina Mahsa Amini, a jovem que entrou em coma depois de ser detida pela “polícia da moralidade” em Setembro de 2022. Niloofar Hamedi fotografou o abraço dos pais de Amini, no corredor do hospital, depois de saberem que a filha morrera. Elaheh Mohammadi cobriu o seu funeral, onde primeiro se ouviram os gritos de “Mulher, vida, liberdade”, o lema curdo que daria nome ao movimento que ao longo do último ano fez tremer a República Islâmica. A primeira acaba de ser condenada a 13 anos de prisão; a segunda, a 12.
Amini morreu a 16 de Setembro. Hamedi, de 31 anos, e Mohammadi, de 36 anos, foram presas logo no início dos protestos, a 21 e a 29 de Setembro, numa altura em que o regime enviou para a cadeia milhares de estudantes e de manifestantes, assim como outros jornalistas e muitos activistas dos direitos humanos ou pessoas com perfil público que ousaram mostrar a sua solidariedade — incluindo muitas mulheres que se fizeram fotografar sem hijab, o véu islâmico obrigatório no Irão.
Foi por causa de um hijab alegadamente malposto (o chamado “mau hijab”), deixando à mostra alguns cabelos, que Amini foi detida durante uma visita a Teerão. Testemunhas descreveram que a “polícia da moralidade” a empurrou para dentro de uma carrinha e ela bateu com a cabeça.
Depois das manifestações em massa e da brutal repressão que fez mais de 500 mortos e mais de 15 mil detidos, incluindo sete que já foram executados, os iranianos e as iranianas encontraram outras formas de continuar a desafiar o regime. Muitas mulheres de todas as idades não voltaram a cobrir os cabelos em público.
Foi de cabelo descoberto que Armita Garavand, de 16 anos, entrou no metro de Teerão com duas amigas, a 1 de Outubro. Testemunhas relataram que foi abordada — e depois agredida — por uma agente da “polícia da moralidade”. Empurrada, bateu com a cabeça numa barra de ferro e já saiu da carruagem inanimada. Em coma desde então, está agora em morte cerebral, segundo noticiaram vários media oficiais no domingo.
Entretanto, como fizeram no caso de Amini e em muitos outros desde então, as autoridades fizeram circular uma história alternativa, afirmando que Armita teve uma “súbita quebra de tensão” e pressionaram os pais a confirmar a narrativa oficial, ao mesmo tempo que ameaçaram os seus professores e colegas.
As sentenças de Hamedi e de Mohammadi foram conhecidas no mesmo dia e surgem numa altura em que o regime tem executado inúmeros detidos (às vezes dez num só dia) sem ligação aos protestos. Na sexta-feira, um dia depois de o Parlamento Europeu ter atribuído o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento a Amini e ao movimento “Mulher, vida, liberdade”, soube-se que quatro importantes activistas detidos no último ano foram acusados de crimes como “inimizade contra Deus” — ou “guerra contra Deus” (moharebeh), ou “corrupção na terra” (efsad-e fel arz), que podem ser punidos com a pena de morte (e que já valeram essa sentença a muitos manifestantes).
Depois da renovada atenção internacional aos que combatem o regime — antes de Sakharov, a jornalista e activista Narges Mohammadi recebeu o Nobel da Paz de 2023, um prémio que reconheceu “as centenas de milhares de pessoas que se manifestaram contra a opressão do regime teocrático contra as mulheres”, o regime parece querer mostrar-se imune a pressões.
Tanto Hamedi como Mohammadi foram condenadas por “colaborarem com o Governo dos Estados Unidos”, “conspiração e conluio contra a segurança nacional” e “promoção de actividades contra o Estado”. As duras penas, escreve o site da televisão Iran International, “visam enviar uma clara mensagem aos jornalistas: os que saírem da linha serão punidos”.