Um livro bilingue (português e espanhol) que nasceu com um espectáculo de dança e de teatro da companhia Imaginar do Gigante, que também o edita.
Pela voz de uma estrela, viaja-se pelo espaço, conhecem-se galáxias e sentem-se os movimentos de rotação da terra. Com a certeza de que “ninguém está sozinho neste planeta rochoso”. E conta-se como se deu o abraço primordial: “Quando caminhava pela estrada do reino, encontrei junto à margem um viajante intergaláctico. Olhei para ele e ele olhou para mim. No início só nos comunicámos por dimensões astronómicas. Como não existe definição exacta entre o reino da terra e o reino do espaço, juntámos as nossas partículas e demos um abraço. Uau!”
Palavras de Pedro Saraiva que foram ilustradas por Carlo Giovani, um dos seleccionados da 4.ª Bienal de Ilustração de Guimarães, a que o PÚBLICO hoje se associa, numa edição completamente ilustrada.
Diz-nos o artista plástico: “O texto do Isto é Tudo Inventado é aberto a muitas interpretações que giram em torno da vida, do universo, da natureza e origem das coisas, das estrelas. É possível fazermos relações e criar metáforas através de muitos elementos visuais, e este foi o caminho que segui ao longo das ilustrações do livro.” E acrescenta: “Gosto muito deste tipo de texto. Permite sempre explorar estes diversos elementos, metáforas e relações interessantes entre as imagens e o texto enquanto tento ler e interpretar as suas entrelinhas.”
Carlo Giovani também participou “na construção da cenografia, dos adereços e de um filme de animação realizado em stop motion, que faz parte do espectáculo”, diz Pedro Saraiva, que informa ainda: “O livro foi lançado no Centro Cultural Português de São Tomé e Príncipe, juntamente com a exposição das ilustrações e com o espectáculo.”
Está agendada uma apresentação em Cuba, em Maio de 2024, no encontro internacional da Assitej — International Association of Theatre for Children and Young People, de que a Imaginar do Gigante faz parte. Também está previsto levarem o projecto à Guiné-Bissau, em parceria com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, no âmbito das comemorações da independência da Guiné-Bissau e do nascimento de Amílcar Cabral.
“Como sabemos, foi a partir da Guiné-Bissau que se desferiram os golpes fatais na ditadura colonial. É neste impulso que Portugal, com o movimento das forças armadas, se reorganiza e liberta Portugal de anos de ditadura”, recorda o autor do texto.
O primeiro encontro dos Gigantes Invisíveis na Guiné-Bissau, organizado por esta companhia de Esmoriz (Ovar) ocorreu em Setembro de 2017, conta Pedro Saraiva: “Abrimos o certame no Centro Cultural Português de Bissau, percorremos escolas e realizámos um encontro e oficinas com professores do ensino básico. A primeira edição foi um sucesso.”
Em Ovar, o encontro Gigantes Invisíveis já acolheu autores e artistas quer da Guiné-Bissau quer de São Tomé e Príncipe. “Vamos manter estas parcerias no acolhimento de novos textos e novos autores, o que poderá passar não apenas pela edição literária, como poderá ser uma edição de ilustração ou de artes visuais e plásticas. Acima de tudo, projectos que possam ser inovadores, dos conteúdos mais tradicionais aos mais tecnológicos”, diz o também director artístico. E conclui, feliz: “Isto É tudo Inventado fará parte deste caminho maravilhoso.”
Esculturas em papel, guache e interferências digitais
Carlo Giovani diz inspirar-se muito no cinema quando ilustra, o que também se verificou neste trabalho: “Estas referências aparecem sempre de forma muito subtil ou pontual, nunca são óbvias, mas estão lá e o meu ver dão às imagens uma espécie de pano de fundo, uma base mais sólida, principalmente quando percebidas pelos leitores. Para o Isto É tudo Inventado, usei muitas referências de imagens e fotografias científicas, documentários de natureza e coisas do género.”
Sobre a técnica usada, descreve ao PÚBLICO: “Este livro teve dois processos e técnicas de ilustrações diferentes. Todas as ilustrações foram feitas com colagem, esculturas em papel e tinta guache. Cada cena foi composta com camadas de papel coladas sobrepostas umas às outras, resultando, em alguns casos, em volumes mais marcantes consoante a distância e número de camadas usadas. Depois, fotografei as ilustrações e fiz algumas interferências digitais, trazendo elementos mais pontuais e algumas texturas, mas sempre de forma muito suave e subtil, procurando manter a característica manual das ilustrações.”
Um resultado encantador. E isto não é inventado.