Vitórias históricas do Partido Trabalhista no Reino Unido pressionam Rishi Sunak

Trabalhistas vencem eleições suplementares em dois círculos onde o Partido Conservador dominava até há pouco tempo. Num deles, os conservadores não perdiam desde 1931.

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O Partido Conservador britânico sofreu, na madrugada desta sexta-feira, duas derrotas eleitorais que reforçam as hipóteses de uma vitória esmagadora do Partido Trabalhista nas eleições legislativas de 2024, e que podem fragilizar ainda mais a liderança do primeiro-ministro, Rishi Sunak.

Mesmo tendo em conta que estão em causa eleições suplementares — “by-elections”, na designação original, para preencher lugares de deputados no Parlamento britânico que ficam vagos entre as eleições regulares —, as derrotas dos conservadores nos círculos eleitorais de Mid Bedfordshire e de Tamworth são vistas como um terramoto político para os conservadores.

Em Mid Bedfordshire, onde o Partido Conservador não perdia uma eleição desde 1931 — e onde o Partido Trabalhista nunca tinha ganho desde a criação do círculo, em 1918 —, o candidato trabalhista, Alistair Strathern, apagou a vantagem conservadora de 24.664 votos que vinha da eleição de 2019 e obteve a maior vitória numa by-election desde 1945.

Além do recorde, a vitória dos trabalhistas em Mid Bedfordshire é significativa, porque desalojou do poder os conservadores (o seu adversário directo nas eleições de 2024), e porque se deu apesar de uma forte candidatura dos Liberais-Democratas, numa corrida a três que, segundo vários analistas, poderia ajudar o Partido Conservador a manter o lugar.

Segundo John Curtice, professor de Política na universidade escocesa de Strathclyde e um dos mais influentes especialistas em eleições no Reino Unido, os resultados desta sexta-feira — que se juntam a uma série vitoriosa dos trabalhistas no último ano em eleições suplementares — apontam para a possibilidade de uma vitória esmagadora do Partido Trabalhista em 2024, talvez mesmo mais marcante do que na primeira eleição de Tony Blair, em 1997.

“Houve ganhos espectaculares no passado em vitórias do Partido Nacional Escocês ou dos Liberais-Democratas, mas o que há de especial nestas by-elections é que os ganhos foram obtidos pelo principal partido da oposição. Isso não acontece com tanta frequência”, disse Curtice à BBC.

“São ganhos excepcionais por parte da oposição”, sublinhou o especialista. “Da última vez que isso aconteceu, o Governo sofreu uma grande derrota.”

No círculo de Tamworth, onde o lugar de deputado era ocupado pelo conservador Chris Pincher desde 2010, a trabalhista Sarah Edwards derrotou o seu principal adversário, Andrew Cooper, por 1316 votos — depois de Pincher ter sido eleito, em 2019, com quase mais 20 mil votos do que o seu adversário trabalhista na altura.

“Há agora confiança, neste novo Partido Trabalhista, de que é possível vencer eleições em todo o país onde nunca ganhámos”, disse o líder do partido, Keir Starmer, numa declaração sobre os resultados em Tamworth e em Mid Bedfordshire.

Do lado conservador, o presidente do partido, Greg Hands, reconheceu que os resultados são “decepcionantes”, mas frisou que têm de ser enquadrados nas especificidades das eleições suplementares, que têm elevadas taxas de abstenção e problemas específicos dos candidatos que deixaram os lugares vagos.

No caso de Tamworth, a eleição foi convocada após a renúncia de Chris Pincher, em Setembro. O político conservador esteve no centro de uma onda de demissões no Governo britânico, no Verão de 2022, que levaria à saída do então primeiro-ministro, Boris Johnson; por essa altura, foi revelado que Johnson tinha conhecimento de queixas de assédio sexual contra Pincher, quando o nomeou para a vice-liderança da bancada parlamentar.

O lugar de Mid Bedfordshire ficou vago em Agosto na sequência da demissão da conservadora Nadine Dorries, que era a titular do cargo desde 2005, e que saiu insatisfeita com o facto de a sua entrada na Câmara dos Lordes, proposta por Johnson, não ter sido defendida por Sunak.

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