Rafah: negociações e danos dos bombardeamentos ainda não permitem levar ajuda a Gaza
ONU, Egitpo e Israel ainda conversaram sobre alguns pormenores, enquanto as estradas do lado de Gaza, atingidas por bombardeamentos israelitas, têm estado a ser reparadas.
Foi já na quarta-feira que Israel anunciou que permitiria ao Egipto deixar passar uma quantidade “limitada” de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, a pedido do Presidente norte-americano, Joe Biden. Um dia depois, o Cairo confirmava um acordo para permitir a entrada de ajuda através do posto fronteiriço de Rafah, a única passagem de acesso a Gaza em território egípcio – e que Israel não controla directamente. Chegou a ser confirmado que os primeiros camiões poderiam passar esta sexta-feira, mas agora é certo que nada acontecerá até sábado, ou talvez domingo.
“Estamos em negociações extensas e avançadas com todas as partes envolvidas para garantir que uma operação de ajuda a Gaza comece o mais rápido possível”, afirmou Martin Griffiths, responsável máximo das Nações Unidas para os assuntos humanitários. “Uma primeira entrega deve começar amanhã [sábado] ou próximo disso”, afirmou.
De visita a Rafah esta sexta-feira, o secretário-geral da ONU confirmou que as conversações ainda decorrem. “Estamos a colaborar activamente com o Egipto, com Israel e os Estados Unidos para garantir que os camiões possam atravessar o mais rapidamente possível”, disse António Guterres numa conferência de imprensa, referindo-se a “verificações que devem ser eficazes, mas rápidas”.
A gestão de Rafah sempre foi delicada – apesar de este posto fronteiriço ser oficialmente controlado por palestinianos e egípcios, a verdade é que nada ali acontece sem a concordância de Israel –, principalmente em tempos de guerra e mais ainda desta vez. Em relação a Beit Hanoon (Erez, para os israelitas), o único outro ponto por onde os civis podem circular, no Norte, Israel diz que só permitirá a passagem de ajuda quando os reféns capturados pelo Hamas durante o ataque de dia 7 forem libertados.
Rafah, encerrado desde dia 8, permanece por agora a única porta por onde a ONU (incluindo a Organização Mundial de Saúde) e organizações como a Cruz Vermelha acreditam poder enviar tudo aquilo que falta de forma desesperada no enclave palestiniano, como água, comida, medicamentos e material hospitalar.
Israel quer garantir que só entra ajuda destinada aos civis de Gaza e será a ONU a assegurar a supervisão dos camiões que forem autorizados a passar. O Egipto não quer ver entrar no seu território palestinianos em busca de abrigo e de ajuda, temendo consequências mais permanentes. Do lado palestiniano, há 500 palestinianos-americanos à espera de poder deixar Gaza e milhares de outras pessoas com dupla nacionalidade. Biden diz que a saída de cidadãos com passaporte dos Estados Unidos foi uma das prioridades da sua visita a Israel, na quinta-feira, mas não se sabe ainda quando, e se, estas pessoas poderão passar.
Do lado egípcio há também centenas de palestinianos que foram apanhados pelo início do conflito longe de casa e que agora não sabem o que fazer.
O problema mais prático é mesmo o estado das estradas que, do lado palestiniano, já foram intensamente bombardeadas por Israel. As reparações estão a decorrer, mas são demoradas: numa entrevista à CNN, há uma semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shoukry, afirmou que os ataques aéreos deixaram “inoperáveis” as estradas do lado de Gaza.
Entretanto, segundo um responsável da segurança citado pelo jornal Le Monde, blocos de betão que estavam instalados perto da passagem foram retirados pelos egípcios na noite de quinta para sexta.
No Egipto estão já centenas de camiões e milhares de toneladas de ajuda, apesar de o Presidente, Abdel Fatah al-Sisi, só ter garantido aos EUA a passagem de 20 camiões. Em declarações no Conselho de Segurança da ONU, na quarta-feira, Griffiths disse que seria preciso voltar a fazer entrar 100 camiões de ajuda por dia, como antes do início desta guerra. Há dias que a água distribuída pela ONU está a ser racionada e só “os sortudos” a recebem.