Daniel Noboa eleito Presidente do Equador

Com 35 anos, Noboa é o Presidente mais jovem de sempre do Equador. No discurso de vitória, prometeu “reconstruir um país assolado por violência, corrupção e ódio”.

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Daniel Noboa e a mulher, Lavinia Valbonesi Reuters/SANTIAGO ARCOS
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Daniel Noboa, um empresário de 35 anos com uma curta carreira política, foi eleito na noite de domingo o mais jovem Presidente do Equador de sempre. Herdeiro de um império de exportação de bananas, Noboa chega ao poder num clima de extrema violência e com a promessa de "reconstruir o país" nos 18 meses que lhe restam de mandato.

Com mais de 97% dos votos contados na noite de domingo, Noboa seguia com 52,1%, contra 47,9% da sua rival na segunda volta da eleição presidencial no Equador, Luisa González. A eleição foi convocada na sequência da demissão surpreendente de Guillermo Lasso — que tinha sido eleito em 2021 — e Noboa foi eleito para cumprir o que resta do mandato em curso, até 2025.

González, de 45 anos, uma apoiante do ex-Presidente Rafael Correa que tentava ser a primeira mulher a chegar à presidência do Equador, aceitou a derrota num discurso em que exigiu a Noboa que cumpra as suas promessas de campanha.

No seu discurso de vitória, o Presidente eleito do Equador agradeceu aos eleitores por terem acreditado "num projecto político novo, jovem e improvável".

"O meu objectivo é devolver a paz ao país, dar educação aos mais jovens e proporcionar postos de trabalho às muitas pessoas que os procuram", disse Noboa, prometendo "reconstruir um país assolado por violência, corrupção e ódio".

Noboa tem tentado descolar-se da imagem de filho de um dos homens mais ricos do Equador e veterano da política nacional (a mãe, Anabella Azín, foi deputada e membro da última assembleia constituinte). Na campanha, chegou a dizer, por exemplo, que o seu património pessoal não chega a um milhão de dólares.

A sua aposta foi mostrar-se como o candidato capaz de superar a polarização entre o correísmo e o anticorreísmo que tem dominado a política equatoriana nas últimas duas décadas. Essa parece ter sido uma lição aprendida com o pai, que foi derrotado em três ocasiões por Correa. Nos anos 1990, Álvaro Noboa herdou uma das maiores empresas de exportação de bananas, da conhecida marca Bonita, internacionalizou-a e expandiu-a a muitos outros sectores. Durante as suas campanhas eleitorais, ficaram célebres os comícios em que distribuía computadores, electrodomésticos e até dinheiro, apresentando-se como o “messias” dos pobres.

O filho, que estudou nos EUA, adoptou um tom mais sóbrio, tentando apelar a um sector alargado do eleitorado. Noboa “foi capaz de dizer ‘eu sou a renovação, eu represento o Equador’”, diz a analista política Caroline Ávila, citada pelo New York Times. Tem insistido em temas económicos, prometendo medidas de combate ao desemprego, e no seu site de campanha alojou até um formulário para quem procura trabalho.

Porém, há quem antecipe potenciais problemas para um Presidente proveniente de uma família com interesses económicos tão vastos. “Não há um tema de política económica que não afecte, para o bem ou para o mal, alguma das suas empresas”, diz a académica da Universidade da Columbia Britânica no Canadá Grace Jaramillo, citada pelo New York Times, que antevê um “conflito de interesses permanente”.

A sua adversária, Luisa González, tentava ser a primeira mulher a chegar à presidência do Equador, contando para isso com o peso institucional e social de Rafael Correa. González, de 45 anos, tem um percurso extenso na Administração Pública e não esconde a proximidade ao antigo Presidente, actualmente a viver na Bélgica depois de ter sido condenado por corrupção no Equador — Correa nega as acusações, que diz serem movidas pelos seus adversários políticos.

O slogan principal da campanha de González durante a primeira volta reflectiu o seu programa: “Já o fizemos e iremos voltar a fazê-lo.” A candidata da Revolução Cidadã tinha a esperança de que a memória dos anos de Correa na presidência, entre 2007 e 2017, marcados pela melhoria das condições de vida de milhões de equatorianos mais pobres, fosse suficiente para fazer regressar a esquerda ao poder.

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