O impacto de crescer numa família tóxica: cinco sinais reveladores
O primeiro passo para a cura e o desenvolvimento de uma vida mais saudável e equilibrada é exatamente o reconhecimento e tomada de consciências acerca da sua infância.
Enquanto adulto, é possível que não se recorde muito da sua infância, pois neste momento essas vivências não passam de memórias mais ou menos fugazes do tempo em que vivia com a sua família. Não está sozinho, a maioria das pessoas não consegue recordar exatamente os acontecimentos dos seus primeiros anos de vida, ainda que estes sejam extremamente importantes na formação da nossa personalidade, do nosso pensamento e dos nossos sentimentos.
O ambiente familiar que ficou lá no passado, permanece muito presente e influencia a forma como vemos o mundo, como nos vemos a nós e como lidamos com as nossas relações, sejam elas familiares, de amizade ou de trabalho. Com exceção de situações claramente abusivas, muitas pessoas não percebem que cresceram num ambiente familiar tóxico quando eram crianças, por conseguinte, muitas vezes não conseguem reconhecer o porquê dos padrões que vivenciam nas suas vidas adultas.
Durante este processo de formação, a nossa família desempenha um papel fundamental, com especial destaque para os nossos pais. No entanto, quantos de nós tivemos pais que não nos deram o apoio emocional que precisávamos em criança? Quantos de nós tivemos que nos adaptar constantemente às necessidades de uma mãe que talvez enfrentasse períodos de depressão? Quantos de nós não fomos humilhados por fazer ou pensar diferente? E quantos de nós tivemos que reprimir as nossas ações e desejos devido ao temor dos pais em relação a possíveis acidentes?
Essas vivências representam formas de uma infância tóxica, que traz consigo muitos efeitos negativos na forma como nos sentimos enquanto adultos.
Então, como saber se crescemos numa família tóxica? Vamos olhar de perto para alguns destes sinais:
Sinal tóxico n.º 1: Tenta agradar a todos
Uma consequência comum de crescer num ambiente tóxico é a necessidade constante de agradar a todos. Esse comportamento muitas vezes decorre do desejo de manter a paz e evitar conflitos, que provavelmente eram frequentes no lar durante a infância. As crianças aprendem que serem conciliadoras é uma forma de evitar a ira e a tensão, um mecanismo de defesa que muitas vezes persiste na idade adulta. No entanto, esse hábito constante de agradar pode levar à negligência das próprias necessidades e à supressão de emoções genuínas.
Sinal tóxico n.º 2: Guardar tudo para si
Num ambiente familiar tóxico, as necessidades emocionais e físicas da criança muitas vezes são ignoradas, minimizadas ou invalidadas. Isso pode resultar numa dificuldade em exprimir as próprias necessidades e sentimentos na idade adulta. As pessoas que cresceram em ambientes assim podem desenvolver o hábito de guardar tudo para si, com receio de serem ignoradas ou rejeitadas. Essa tendência pode prejudicar relacionamentos e contribuir para uma sensação de isolamento.
Sinal tóxico n.º 3: Ter uma necessidade constante de validação
A falta de validação e reconhecimento na infância pode deixar marcas profundas. Adultos que cresceram em famílias tóxicas muitas vezes buscam aprovação e validação constantemente em relação aos seus relacionamentos e conquistas. Podem questionar a própria autoestima e procurar validação externa como forma de preencher o vazio deixado por uma infância carente de reconhecimento. Isso pode resultar numa busca constante por elogios e validação por parte dos outros.
Sinal tóxico n.º 4: Ter receio e evitar conflitos
Em famílias tóxicas, os conflitos frequentemente são intensos e não são resolvidos de forma saudável. As crianças podem crescer com medo do confronto e aprendem a evitar o conflito a todo custo. Isso pode levar à supressão de sentimentos e à incapacidade de lidar com conflitos de forma eficaz na vida adulta. Evitar conflitos prejudica a comunicação e a resolução de problemas nos relacionamentos.
Sinal tóxico n.º 5: Ter uma voz interna muito crítica
Uma infância marcada por críticas constantes e negatividade pode resultar numa voz interna extremamente crítica na vida adulta. Adultos que cresceram em famílias tóxicas frequentemente interiorizam essas mensagens negativas, levando a uma autoestima prejudicada e a uma voz interna que constantemente os critica. A autocrítica excessiva pode ser debilitante, afetando a autoconfiança e a capacidade de formar relacionamentos saudáveis com os outros.
Se cresceu numa família tóxica e identifica estes sinais em si mesmo, é provável que se esteja a questionar sobre o que pode fazer agora, enquanto adulto.
O primeiro passo para a cura e o desenvolvimento de uma vida mais saudável e equilibrada é exatamente o reconhecimento e tomada de consciências acerca da sua infância. É fundamental lembrar que os efeitos de uma infância tóxica podem ser superados com o apoio adequado nomeadamente de psicoterapia, ou qualquer outro processo de autoconhecimento.
O processo de cura pode ser desafiante, mas é um passo crucial em direção à construção de relacionamentos mais saudáveis e à conquista de um bem-estar emocional duradouro. É, igualmente, o primeiro passo que tomamos para interromper o ciclo transgeracional que, de outra forma, perpetuaria a transmissão desses traumas não resolvidos para as gerações futuras — os seus filhos!