Doze filmes para compreender “a luta e a sobrevivência” do povo palestiniano
A iniciativa é do Palestine Film Institute, organização independente dedicada ao desenvolvimento e à divulgação do cinema palestiniano. Os filmes estão disponíveis online até 25 de Outubro.
O Palestine Film Institute, organização independente sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento, à divulgação e à preservação do cinema palestiniano, lançou este fim-de-semana, no seu site, uma série de filmes que “celebram a beleza de Gaza, o seu povo, a sua luta e a sua sobrevivência”, explica a equipa nos respectivos canais de comunicação oficiais.
Este programa de acesso livre, intitulado Unprovoked Narratives, tem como objectivo “resistir à demonização” de Gaza, acrescentam os responsáveis, face às narrativas de desumanização do povo palestiniano, à desinformação sobre a ocupação da Palestina por Israel desde 1948 e à manipulação de notícias sobre a actual guerra entre Israel e o Hamas que têm circulado desde o início deste conflito.
Os 12 filmes de Unprovoked Narratives podem ser vistos gratuitamente em www.palestinefilminstitute.org/en/unprovoked-narratives até 25 de Outubro. Qualquer colectivo ou pessoa individual pode projectá-los “para as suas comunidades”, bem como partilhá-los nas redes sociais, assinalam os responsáveis, que na página de Instagram terminam a mensagem com vários hashtags, entre eles #savegaza, #standewithPalestine, #stopthegenocide.
No programa encontram-se filmes como Scenes Of The Occupation from Gaza, um documentário de 1973 de Mustafa Abu Ali, co-fundador do Palestine Film Unit, “o primeiro braço cinematográfico da revolução palestiniana”, lê-se na sinopse. É considerado um dos primeiros filmes sobre “o território ocupado de Gaza”.
Outra produção seminal do cinema palestiniano convocado em Unprovoked Narratives é Gaza Ghetto: Portrait of a Palestinian Family (1985), de PeA Holmquist, Joan Mandell e Pierre Björklund. Considerado o primeiro documentário de longa-metragem realizado em Gaza, retrata o dia-a-dia sob ocupação militar em Jabalia, um dos maiores campos de refugiados da Faixa de Gaza. “Ficamos a compreender o impacto de décadas de guerra e da deslocação forçada na vida quotidiana e nos rituais familiares”, lê-se na sinopse. “Conhecemos também israelitas envolvidos: soldados, colonos e os arquitectos governamentais da ocupação militar, como Ariel Sharon” [1928-2014, um dos principais ex-comandantes do Exército de Israel e primeiro-ministro entre 2001 e 2006].
Já Tale of the Three Jewels (1995), de Michel Khleifi, narra a história de uma criança de doze anos, "filha da Primeira Intifada" (revolta da população palestiniana contra a ocupação israelita, entre 1987 e 1993, também conhecida como "guerra das pedras"). Com o pai na prisão e o irmão fugido ao Exército israelita, Yussef vive sozinho com a mãe e a irmã, num quotidiano ritmado pela violência, mas também pela capacidade de imaginar aventuras e desafios. Este drama ficcional foi filmado nos primeiros meses de 1994, enquanto Gaza permanecia sob ocupação militar israelita, e foi a primeira longa-metragem a ser totalmente rodada na Faixa de Gaza.
Noutro registo, Habibi (2011), da cineasta Susan Youssef, é uma “história de amor proibido” entre dois estudantes da Cisjordânia, que são obrigados a voltar a Gaza. Habibi passou por vários festivais de cinema, como o de Veneza, Toronto, Sundance e o de Dubai, onde ganhou o prémio de melhor filme.
Também apresentado em festivais internacionais (incluindo o Doclisboa), Samouni Road (2018), documentário de Stefano Savona, debruça-se sobre uma comunidade de agricultores dos arredores de Gaza que se prepara para um casamento, a primeira celebração em família desde a última guerra, durante a qual Amal, Fuad e os irmãos "perderam os pais, as casas e as oliveiras", um dos símbolos nacionais da Palestina, que tem na produção de azeite um dos seus poucos sustentos económicos (a violência colonial contra camponeses palestinianos e as suas propriedades é, de resto, uma ocorrência regular na Cisjordânia, pela mão de colonos israelitas). Ainda nos documentários, encontramos Ambulance (2016), um relato na primeira pessoa de Mohamed Jabaly, um jovem realizador palestiniano que se junta a uma equipa de ambulâncias durante a guerra de 2014 em Gaza.
Unprovoked Narratives é uma iniciativa integrada na plataforma Palestine Film Platform, idealizada pelo Palestine Film Institute em parceria com cineastas e instituições culturais palestinianos. Esta plataforma transmite gratuitamente, e semanalmente, uma longa-metragem e está aberta a cineastas palestinianos que queiram mostrar o seu trabalho.
Notícia alterada com prolongamento de data em que filmes estão disponíveis.