Israel anuncia “nova fase” da guerra com centenas de milhares em fuga dentro de Gaza

Médicos Sem Fronteiras pedem aos israelitas que demonstrem “a mais elementar humanidade” e estabeleçam zonas seguras para os civis. “Temo que o pior ainda esteja para vir”, diz responsável da ONU.

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O Exército israelita anunciou “novas fases” da guerra, com operações "por ar, ar e terra" EPA/MARTIN DIVISEK
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A “última semana tem sido um teste para a humanidade e a humanidade está a falhar”, afirmou Martin Griffiths, responsável máximo das Nações Unidas para os assuntos humanitários, uma semana depois do brutal ataque lançado pelo Hamas contra Israel, e quando os ataques israelitas na Faixa de Gaza já mataram mais de 2200 palestinianos, incluindo 724 crianças, e feriram perto de 10 mil.

No pequeno enclave, em redor do qual os militares israelitas acabavam de se preparar para “novas fases” da guerra, que incluirão uma “operação terrestre significativa”, a situação humanitária, já crítica, está “rapidamente a tornar-se insustentável”, lê-se no comunicado de Griffiths.

“A nova fase vai começar”, afirmou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, numa visita aos soldados na fronteira com Gaza, quando já tinha acabado o segundo prazo dado por Israel para a deslocação de 1,1 milhões de pessoas.

“Estamos todos prontos”, escreveu o dirigente na rede social X (antigo Twitter), no mesmo dia em que fez a sua primeira visita a uma das comunidades alvo da violência do Hamas, num ataque que fez mais de 1300 mortos, a maioria civis, incluindo crianças.

Um dia depois de ordenarem a toda a população do Norte da Faixa que se deslocasse para Sul em 24 horas, as IDF anunciaram um prolongamento de seis horas, garantindo que as duas principais rotas possíveis seriam nesse período “vias seguras”. Na véspera, muitas dezenas de pessoas foram mortas num raide que as atingiu quando abandonavam a Cidade de Gaza pela estrada de Salah al-Deen, a mais importante de Gaza.

Há um vídeo a confirmar esse ataque: “mostra corpos, incluindo vários de crianças pequenas, espalhados ao longo da estrada enquanto sai fumo preto dos veículos em chamas”; “um lado norte da estrada, os corpos estão dispostos entre pertences destas pessoas, incluindo uma bicicleta, em reboques atrelados a um camião”, descreveu o diário norte-americano The Washington Post, um dos media internacionais que pôde certificar a veracidade da gravação.

Imagens de gente a fugir, de carro, em camiões, a pé, em carros puxados por burros, foram chegando durante todo o dia. “O que sabemos é que centenas de milhares de pessoas fugiram – e que um milhão foram deslocadas numa semana”, disse Juliette Touma, porta-voz da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA). E que outras tantas – mais de 320 entre sexta-feira e sábado à noite – continuam a morrer.

Cheiro a sangue

Para além dos que não têm meios para fazer a viagem, dos doentes e feridos e de muitos médicos, também há quem possa sair e escolha ficar, entre o medo de nunca mais voltar a casa e o medo de morrer pelo caminho. O jornalista Hashem al-Saudi, de 33 anos, contou à CNN que a ele e a família se mudaram do Leste para o Oeste da Cidade de Gaza, o grande centro populacional do pequeno território de 2,3 milhões de pessoas, e ali ficarão.

“A situação é muito pior do que vocês vêem na televisão”, descreveu. “As ruas estão cheias de escombros e cheiram a sangue.”

Segundo o director da organização Medical Aid for Palestinians em Gaza, as ambulâncias também têm sido alvo de ataques. “Nesta altura é melhor morrer do que ser ferido”, disse Mahmoud Shalabi à Al-Jazeera, explicando que as ambulâncias demoram e nunca se sabe quando é que os feridos poderão ser tratados.

Depois de ter descrito o ultimato como “impossível” de cumprir “sem consequências humanitárias devastadoras”, a ONU centrou os seus apelos na entrada de ajuda humanitária em Gaza.

Vida ou morte

“Tornou-se uma questão de vida ou morte. É obrigatório, é preciso fazer entrar combustível em Gaza agora. Combustível é a única maneira para as pessoas de Gaza terem água segura para beber”, disse Philippe Lazzarini, comissário geral UNRWA. “Se não, as pessoas vão começar a morrer de desidratação, incluindo crianças, as pessoas mais velhas, e as mulheres”, acrescentou. “A água é a última tábua de salvação. Peço que o bloqueio à assistência humanitária seja levantado agora.”

Os Médicos Sem Fronteiras insistiram na necessidade de Israel estabelecer zonas seguras e para que seja possível a quem queira sair de Gaza fazê-lo através da Rafah, o principal ponto de passagem entre a Faixa e o Egipto. “Quando o exército israelita bombardeia a Faixa de Gaza sem restrições, pedimos que seja demonstrada a mais elementar humanidade”, afirmou o grupo em comunicado.

“Os civis têm de ser autorizados a partir para áreas seguras. E quer se desloquem quer fiquem, o cuidado para os poupar deve ser constante”, disse ainda Griffiths. “Os civis em Israel e nos territórios palestinianos ocupados sofreram uma semana de total angústia e devastação”, afirmou. “Temo que o pior ainda esteja para vir.”

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