Palcos da semana: Mãe, água, BD, Europa e outras cenas
Na agenda dos próximos dias entram os filmes do Doclisboa, a Europa pelos Artistas Unidos, os clássicos da Amadora BD, Cristina Branco a apresentar Mãe e a Porto Design Biennale a fluir como água.
Mãe de Branco
Cristina Branco já foi Alegria, já foi Menina, já foi Eva e já encarnou várias outras personas e conceitos, em discos e palcos. Agora, é Mãe que a guia. Depois de um período de reinvenção, a cantora regressa a esse terreno matricial que é o fado tradicional, como quem faz, nas suas palavras, “um caminho de volta a casa”. “Precisei de aprender e respeitar, com humildade, o género para o poder abordar”, partilha na nota que acompanha o disco.
Branco anda com Mãe numa extensa digressão internacional. Por cá, a estreia ao vivo acontece em Leiria, com Porto (30 de Novembro), Lagoa (1 de Dezembro) e Lisboa (2 de Fevereiro) também no horizonte.
Banda desenhada intemporal
Garfield, 45 anos de lasanhas e tiradas sarcásticas. Super-Homem, 85 poderosas voltas ao Sol. Tex, 75 anos de pistolas em punho. Mônica, seis décadas de força. Todos têm honras especiais na 34.ª Amadora BD. A grande festa da nona arte ocupa três espaços com um total de 13 exposições.
É desenhada pelo tema Clássicos Intemporais, como atestam os aniversários referidos, mas também exibe produções recentes de Filipe Andrade, Jorge Coelho ou Bernardo Majer, a quem o festival atribuiu, no ano passado, o prémio de melhor obra de banda desenhada de um autor português.
Também por ali se avistarão personagens saídas da pena de Agatha Christie, retrospectivas dedicadas a Derradé e Miguelanxo Prado, encontros com autores, sessões de autógrafos, palestras, workshops, lançamentos e gaming.
Bienal pela água
Depois de se ter debruçado sobre Tensões do Novo Milénio e Alter-Realidades: Desenhar o Presente, a Porto Design Biennale monta a terceira edição com o propósito de Ser Água. Anuncia-se como “um convite para pensar vivências mais sustentáveis” e “discutir e pensar o papel do design na emergente sobrevivência ambiental”, tendo em conta a certeza da escassez do elemento essencial num futuro próximo.
A reflexão “actuará em simultâneo nos espectros visível e invisível, orgânico, inorgânico e efémero da água”, assegura Fernando Brízio, que este ano assume a curadoria do programa principal e desenha a exposição central, Petrichor, o Cheiro da Chuva.
Juntam-se-lhe, entre muitas outras, as Ligações alinhadas por Miguel Vieira Baptista; EdenX 3.0, proposta por Joana e Mariana Pestana; The WaterSchool Classroom: Gabinete de Curiosidades, desenvolvida pelo Studio Makkink & Bey; e Galiza, Processos e Formas, erguida por David Barro em honra do território convidado desta edição. Instalações, conversas, cinema, performances e investigações pontuam o leque de actividades paralelas.
Europa, então e agora
O medo, a guerra, os refugiados, a hostilidade perante o(s) desconhecido(s). Temas que fazem eco dos tempos que vivemos. E que encontramos em Europa, peça que o dramaturgo escocês David Greig escreveu há quase 30 anos, na altura à luz de uma Jugoslávia que se desintegrava, embora sem especificar o lugar da acção.
Sabemos apenas que se passa numa estação de comboios fronteiriça desactivada, aonde já não acorrem viajantes, mas gente a precisar de abrigo e outros a sonhar com novos destinos. Podia ser “uma qualquer pequena cidade europeia perdida num mundo maior”, notam na folha de sala os Artistas Unidos, que estão prestes a estrear a sua visão desta Europa, com o encenador Pedro Carraca. É mais uma investida do grupo à obra de Greig, depois de Lua Amarela, Os Acontecimentos ou Frágil.
Planos documentais
Foi um retrato que impressionou Cannes: as cicatrizes do compositor e dissidente chinês Wang Xilin, filmadas por Wang Bing em Man In Black. E é com ele, e com a presença do octogenário Xilin, que abre oficialmente a 21.ª edição do Doclisboa.
Determinado a manifestar “o grito e a esperança do mundo”, o festival de cinema documental exibe um total de 250 filmes de mais de 40 países, com direito a 35 estreias mundiais e com 39 títulos portugueses em cartaz – um deles Baan, de Leonor Teles, reservada para a sessão de encerramento.
Outros momentos a não perder: Theater of Thought, de Werner Herzog; Waking Up in Silence, de Mila Zhluktenko e Daniel Asadi Faezi; uma secção Heart Beat habitada por vultos como Luis Miguel Cintra, Joan Baez ou Agnès Varda; uma retrospectiva dedicada ao cinema americano do período do New Deal e outra à dupla formada por Anastasia Lapsui e Markku Lehmuskallio.
Notícia corrigida: o nome do curador da exposição Galiza, Processos e Formas é David Barro e não David Barrosão.