Portugal chega ao Euro 2024 com contas certas
Selecção nacional prolonga série inédita, com sete triunfos em sete possíveis, e carimba vaga no Campeonato da Europa do próximo ano.
Sem derrapagens, sem sobressaltos, sem surpresas de última hora. Foi assim, sem precisar de um orçamento rectificativo ou de pedir ajuda externa, que a selecção portuguesa assegurou, logo no primeiro match-point, um lugar no Campeonato da Europa de 2024. Na 7.ª jornada do Grupo J de qualificação, com um triunfo justo sobre a Eslováquia (3-2), Portugal completou uma série perfeita de resultados e festejou com larga antecedência o que desde o início do século se tornou rotina: um lugar num grande torneio.
O dia em que Roberto Martínez concluiu a primeira etapa do plano desportivo que traçou desde que chegou a Portugal foi um dia de chuva a rodos na cidade do Porto. Mas com direito a casa cheia no Estádio do Dragão, como tem sido hábito em contextos de selecção. E a equipa esteve à altura das circunstâncias.
Organizada em 4x3x3, com Cancelo (à direita) e Dalot (à esquerda) como laterais, com Palhinha como pêndulo defensivo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva disponíveis para as acções de condução, e Cristiano Ronaldo e Rafael Leão mais abertos no tridente ofensivo (Gonçalo Ramos foi a referência central), Portugal desde cedo tomou conta do jogo. Especialmente porque se mostrou tão expedito e intenso na reacção à perda da bola como contundente nas transições ofensivas.
Para Ronaldo — distinguido, antes da partida, com um troféu que assinala as duas centenas de internacionalizações (na verdade, ontem somou a 202.ª) —, o jogo começou com um remate disparatado (4’) e uma perda de bola (9’), mas já então eram evidentes os sinais de superioridade portuguesa. Bruno Fernandes testou Dubravka aos 12’ e, aos 18’, a bola entrou mesmo, com um pormenor delicioso do médio do Manchester United e um cabeceamento oportuno de Gonçalo Ramos.
Só a palavra Portugal combinava com perigo e na única ocasião de algum frisson na área nacional, foram António Silva (com um desvio) e Diogo Costa (defesa de recurso) a levarem a bola à barra. Um lance que teve origem numa das poucas incursões eslovacas pelos corredores laterais, a tirar partido das descompensações geradas pela parca reacção à perda de Ronaldo ou Leão.
Até ao intervalo, a Eslováquia não pisou minimamente o risco. Disposta em 4x5x1, raramente subiu as linhas para não oferecer a profundidade ao adversário e isso traduziu-se numa total incapacidade de obstruir a construção portuguesa. Chegando com naturalidade ao interior do bloco eslovaco, Portugal acelerava com facilidade. Aos 26’, esteve perto de voltar a marcar (Bruno Fernandes falhou de cabeça na pequena área, após assistência de Bernardo) e, três minutos mais tarde, ampliou mesmo a vantagem, de penálti. Leão inventou o lance, Ronaldo converteu a falta e chegou ao 124.º golo pela selecção.
O 125.º esteve próximo aos 39’, não tivesse falhado de baliza aberta, tal como o oitavo de Ramos (em nove jogos) aos 43’, não tivesse falhado com a baliza aberta (acertou no poste). Mas Ronaldo haveria mesmo de bisar, aos 72’, paradoxalmente numa altura em que a Eslováquia já tinha subido o bloco, já tinha feito um golo (o único que Portugal tinha sofrido até então, num desvio infeliz de António Silva após remate de Hancko, aos 69’) e oferecia todo o espaço nas costas da linha defensiva — Rafael Leão, porém, tinha sido o escolhido para sair e dar o lugar a João Félix.
Como foi, então, o golo de Ronaldo? Foi estar na pequena área no momento exacto em que Bruno Fernandes, sempre ele, lhe colocou a bola para encostar. E como o quarto e o quinto golo portugueses não surgiram em catadupa, para arrumar a questão, a Eslováquia voltou mesmo a marcar, num remate tremendo de Lobotka de fora da área (80’), numa altura em que Portugal já se expunha demasiado, sem que Palhinha pudesse apagar todos os fogos.
O jogo estava partido e isso interessava mais aos eslovacos, que não tinham culpa que Portugal não fosse capaz de se resguardar com bola. Mas já não conseguiram ir mais além. Até porque tinham já causado a desfeita de romper a imbatibilidade de Diogo Costa nesta qualificação. Uma "mancha" pequena, ainda assim, num apuramento praticamente perfeito, que traduz a 13.ª presença consecutiva da selecção portuguesa numa grande competição.