Porto: quatro restaurantes que são embaixadas dos Vinhos Verdes
Quatro moradas no Porto para marcar encontro com a comida tradicional portuguesa e portuense. E com os Vinhos Verdes, aos quais é dada especial atenção.
A qualidade é ponto assente. A estas quatro moradas de valor seguro no Porto vai-se de encontro marcado com a comida tradicional portuguesa e portuense, tripas incluídas. Como bónus, todas elas estão dotadas de garrafeiras dignas de nota e com assinalável carinho no tratamento dos Vinhos Verdes.
Líder (Antas)
Para quem estiver no Porto com apetite por um restaurante onde, além da boa comida, também se respire um ambiente clássico, requintado, com conforto e tranquilidade, além de um serviço muito simpático, o Líder é escolha acertada.
Fica na zona das Antas e a sua iguaria emblemática são as tripas à moda do Porto, ou não fosse o seu proprietário, Manuel Moura, o actual presidente da respectiva confraria. No Líder respira-se o charme de um tempo em que era o chefe de sala, e não o chefe de cozinha, a figura dominante.
Nos 82 lugares da sala, o conforto das cadeiras estofadas combina muito bem com a alva suavidade das toalhas e guardanapos de bom pano. Para não desgostar os fumadores, há uma esplanada coberta e, para quem tem de esperar por lugar, há um bar à entrada.
A clientela também tem o seu quê de clássico, é conservadora e muito fiel, homens de negócios, políticos, artistas e outra gente mundana. Manuel Moura define-a como “os melhores clientes do mundo”.
A carta diária compreende cinco sopas, açorda de gambas com lagosta, arroz de robalo, filetes de pescada (no tempo quente com salada russa, que passa a arroz de tomate nos dias frios), polvo à lagareiro e em filetes, e peixe grelhado (variando entre o robalo, o linguado e o rodovalho).
Nas carnes, além das tripas, há rosbife, variados bifes, leitão da Bairrada (à sexta-feira) e perdiz estufada com castanhas, iguaria que homenageia a terra natal de Manuel, Carvalho de Rei, uma aldeia perto de Amarante. No tempo dela, a lampreia, evidentemente. Nas sobremesas, o destaque recai sobre as rabanadas e o pudim abade de Priscos, feito na casa.
A garrafeira é bem composta, com 600 tintos e 120 brancos, onde não faltam dezenas de nados e criados na Região dos Vinhos Verdes, como os alvarinhos com o dedo de Anselmo Mendes, os loureiros, muitos dos vinhos da Quinta de Santa Cristina, os avessos de Baião, os alvarinho/trajadura, e vários outros.
No final da refeição, tal como na chegada, todos os clientes têm o mimo do acompanhamento à porta.
Líder
Alameda Eça de Queirós, 120, Porto (Antas)
Tel.: 225020089/919873192
Das 12h30 às 15h30 e das 19h às 22h30
Encerra domingo ao jantar
Preço médio: 50 euros
O Rápido (São Bento)
Há mais ou menos 80 anos, dois amigos juntaram-se e abriram uma casa de balcão corrido onde serviam petiscos e vinhos entre as sete da manhã e as sete da tarde. No início da década de 1980, desfizeram a sociedade e o que ficou apostou mais forte na cozinha.
Quem conta esta história é Abílio Norte, irmão do actual proprietário, Francisco Norte. “Eu era amigo do antigo dono e vinha cá muitas vezes”, recorda Abílio. “O mundo dá muitas voltas e em 1988 o meu irmão ficou com a casa, mantendo a cozinheira, a dona Rosa.”
A origem do nome do restaurante tem que ver com o comboio, ou não estivesse a estação de São Bento ali mesmo ao lado. Em 1940, o comboio Flecha de Prata iniciou a ligação “rápida” entre Lisboa e Porto. O verdadeiro nome do comboio foi esquecido e as pessoas passaram a designá-lo como “O Rápido”.
A casa, que conta apenas 48 lugares, não é propriamente espaçosa e tem um leque alargado de clientes fiéis, pelo que a marcação antecipada é altamente recomendada.
Neste “sítio de bem comer” e de fama merecida não há fornecedores fixos: é Francisco Norte que diariamente procura os melhores sítios para fazer as compras. Depois, na cozinha, a dona Rosa, com mão sábia e bem treinada, completa o “processo de alquimia”.
Famosos são os filetes de polvo, o bacalhau frito, a pescada (que todos os dias vem de Matosinhos) e, no sector das carnes, o cozido (servido entre Novembro e Abril), o cabrito assado e a costela mendinha no forno, petiscos que há todas as sextas e sábados. No topo, obviamente, estão as tripas à moda do Porto, sápidas e bem condimentadas, um mimo.
O forte não serão as sobremesas, mas no capítulo dos vinhos não deixam créditos por mãos alheias. O Verde da casa é de um produtor de entre a Lixa e Felgueiras e a carta é completada com alvarinhos de Anselmo Mendes e Soalheiro, ou avessos de Arêgos e Covela, bem como alguns vinhos “fora da caixa” de pequenos produtores que fazem questão de ter a bordo.
O acesso de automóvel não é fácil, mas tem metro à porta e a estação de São Bento é mesmo ao virar da esquina. Aliás, o melhor acesso é mesmo pelo interior da estação.
O Rápido
Rua da Madeira, 194, Porto (São Bento)
Tel.: 222054847 / 966364632
Das 12h às 15h e das 19h30 às 22h
Encerra ao domingo
Preço médio: 30 euros
Solar do Moinho de Vento (Baixa)
Há que respeitá-lo, pelos seus quase 120 anos. O Solar Moinho de Vento abriu como uma modesta casa de pasto nos idos de 1905 e transformou-se em restaurante com o nome actual no início da década de 1960.
A forma como foi parar às mãos de Pedro Monteiro Bessa, actual sócio-gerente, tem alguma graça. “Ia muitas vezes lá jantar e uma noite, em 2002, a brincar, perguntei ao sr. António, o dono, se ele não estava já farto daquilo. E ele respondeu, ‘Por acaso, estou!’.”
Note-se que Pedro é formado em gestão e a sua carreira foi feita na música – mais exactamente, guitarra, com estudos feitos na Berklee College of Music. “Além de facilitador musical, tornei-me tasqueiro”, brinca.
A clientela, fidelizada e antiga, conta em boa parte com quem trabalha na zona – em plena Baixa, muito perto da Praça de Carlos Alberto e nada longe dos Aliados –, e as filas são habituais, quer ao almoço quer ao jantar. A faixa etária é muito lata, vai dos 20 aos 80 anos. Conta-nos Pedro Monteiro Bessa que, como a cozinha está aberta todo o dia, é normal haver clientes que vão comer cabidela ou outro prato de resistência às quatro ou às cinco da tarde.
As mesas distribuem-se por duas salas – uma no rés-do-chão, a outra no primeiro andar – de decoração sóbria e de bom gosto, e sobre elas a refeição começa com acepipes bem portugueses, como petingas de escabeche, presunto de boa qualidade, bolinhos de bacalhau ou pataniscas, antes de passar a pitéus mais substanciais, alguns com dia fixo, com um foco importante na comida de tacho.
Os arrozes, os bacalhaus, o polvo, a favada, o cozido e as insubstituíveis tripas, além de outras lambarices saídas das mãos hábeis da dona Cila, que oficia na cozinha, ganharam justificada fama.
Para fazer a maridagem, um dos vinhos da casa é da autoria de Anselmo Mendes, um Vinho Verde das castas alvarinho/loureiro, a que se junta mais de uma dezena de outros vinhos da mesma região, a fazerem companhia a quase uma centena de referências de outras regiões nacionais.
Solar Moinho de Vento
Rua de Sá de Noronha, 81, Porto (Baixa)
Tel.: 222051158
Das 12h às 22h; sextas e sábados, até às 20h30
Encerra ao domingo
Preço médio: 30 euros
Oficina (Cedofeita)
A Miguel Bombarda, na Cedofeita, é a rua do Porto dedicada por excelência às artes. Não será, portanto, de estranhar que, num edifício com intervenção artística com o “dedo” de Pedro Cabrita Reis, tenha surgido em 2016 um restaurante que é simultaneamente uma galeria de arte.
O Oficina é fruto da conjugação de esforços do chef Marco Gomes e do galerista Fernando Santos. A cada três meses, o artista em exposição muda, abrindo-se espaço para a mostra de vários autores de vários galeristas.
Alimentada a alma, ali também se vai para alimentar o corpo. Marco Gomes pega em pratos da cozinha tradicional portuguesa, desde Trás-os-Montes (onde nasceu) até ao Algarve e, sem desvirtuar sabores, dá-lhes outra forma, outro encanto.
Tal como na exposição das obras, também trimestralmente a carta muda: no tempo frio, a cozinha centra-se em pratos nascidos mais a Norte, na estação quente é altura de trabalhar com a cozinha do Sul.
Na sala principal podem sentar-se 50 comensais, somados a outros 30, numa segunda sala destinada a grupos.
Os clientes são portugueses portuenses na sua esmagadora maioria. Durante a semana, homens de negócios, ao fim de semana, sobretudo famílias.
O orgulho do chef Marco Gomes são os pratos cozinhados no forno a lenha e sobre as brasas, como acontecia na cozinha tradicional portuguesa: o cabrito ou o cordeiro, a posta mirandesa ou os peixes, e ainda o bacalhau e o polvo.
A carta de vinhos é muito bem composta, com cerca de 220 referências, incluindo 12 da região dos Vinhos Verdes que, diga-se, parecem ter cada vez mais saída.
Oficina
Rua de Miguel Bombarda 282, Porto (Cedofeita)
Tel.: 936712384
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h. Sextas e sábados, cozinha até às 00h
Encerra segunda ao almoço e ao domingo
Preço médio: 45 euros
Este artigo foi publicado no n.º 10 da revista Singular.