Presidente republicano da Câmara dos Representantes destituído do cargo

Maioria dos congressistas aprova moção apresentada por membro da ala radical do Partido Republicano. McCarthy destituído menos de um ano depois de tomar posse.

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McCarthy tinha sido eleito para o cargo após 15 tentativas e depois de fazer várias concessões à ala radical do Partido Republicano Reuters/KEN CEDENO
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O presidente republicano da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, foi esta terça-feira destituído do cargo para o qual tinha sido eleito há menos de um ano, depois de a maioria dos congressistas reunidos em Washington D.C. ter aprovado uma moção apresentada por um membro da ala radical do Partido Republicano para o afastar.

É a primeira vez na História da democracia norte-americana que um speaker é destituído do cargo.

Ainda que McCarthy estivesse numa posição muito fragilizada praticamente desde o início do se mandato – foi eleito ao fim de 15 tentativas e após ter feito várias concessões aos radicais do partido, próximos do ex-Presidente Donald Trump – o modo como o seu afastamento foi consumado não deixa de ser extraordinário, até tendo em conta a confiança que o próprio demonstrou quando foi confrontado com a moção de Matt Gaetz.

Com o Partido Republicano dividido e envolvido numa autêntica “guerra civil”, McCarthy viu-se colocado numa posição incómoda, em que precisava que os congressistas do Partido Democrata viessem em seu auxílio para sobreviver. Mas estes recusaram dar-lhe a mão, em parte por causa das cedências que fez aos republicanos extremistas para poder ser eleito speaker.

Depois de 11 republicanos e de todos os democratas terem chumbado uma moção, apresentada por aliados de McCarthy, para bloquear a tentativa de afastamento, e após um debate aceso na Câmara dos Representantes, a destituição foi aprovada por 216 votos a favor e 210 contra.

Entre os votos favoráveis, contam-se oito republicanos: Andy Biggs, Ken Buck, Tim Burchett, Eli Crane, Matt Gaetz, Bob Good, Nancy Mace e Matt Rosendale.

Enquanto a Câmara dos Representantes não elege um substituto, o congressista republicano Patrick McHenry, da Carolina do Norte, vai assumir o cargo de presidente interinamente. McCarthy já anunciou que não se recandidatará.

O afastamento de Kevin McCarthy representa a mais expressiva escalada no embate que tem dominado o Partido Republicano, entre os sectores moderados e os radicais conotados com Trump, que lidera a corrida nas primárias do partido.

O conflito interno atingiu um ponto sem retorno com o acordo alcançado por McCarthy com o apoio dos democratas para impedir temporariamente a paralisação do governo federal, durante o fim-de-semana.

Na apresentação do pedido de destituição, Gaetz acusou o speaker de ter feito um “acordo secreto” com a bancada democrata para garantir que o apoio financeiro à Ucrânia se mantinha através de legislação paralela. O agora ex-presidente da Câmara dos Representantes garante que não houve qualquer negociação nesse sentido.

A ameaça de Gaetz e do sector mais radical do Partido Republicano sobre a liderança de McCarthy pendia praticamente desde o momento em que o congressista da Califórnia assumiu o cargo de speaker.

Uma das concessões que tinha feito à facção radical foi precisamente a alteração do regulamento interno da Câmara dos Representantes para permitir que fosse suficiente que um único congressista pudesse apresentar uma moção de destituição do speaker a qualquer momento.

Só por uma vez em mais de 200 anos tinha sido apresentada uma iniciativa de destituição do presidente da Câmara dos Representantes – em 1910 –, que falhou.

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