Consultório: os brancos foram sempre dominantes nos Vinhos Verdes?
Questões pertinentes e dúvidas persistentes em redor do Vinho Verde, respondidas pelo crítico de vinhos e jornalista de gastronomia José Augusto Moreira.
Embora para muitos possa ser surpreendente, a resposta à pergunta do título é simples: Nem de longe, nem de perto! De facto, mesmo que hoje, para muitos consumidores, Vinho Verde seja sinónimo de vinho branco, e fiquem até surpreendidos quando confrontados com verdes tintos, o certo é que há bem pouco era precisamente o contrário.
Nos Vinhos Verdes, a tradição foi ao longo dos tempos a produção de tintos. Os brancos eram mesmo uma raridade e é bem recente a plantação massiva de castas brancas e consequente produção. É, pode dizer-se, quase uma novidade face à tradição secular na produção de tintos.
Tanto que quando, ainda há 30 anos, em 1993, um grupo de 10 produtores decidiu avançar com a sociedade Provam - Produtores de Alvarinho de Monção, as suas primeiras garrafas, da marca Portal Fidalgo, destacavam no rótulo tratar-se de “Vinho Branco”, tal era a novidade.
De facto, foi mesmo nas últimas décadas que a produção de tintos foi superada pelos brancos. Uma mudança brusca, quase revolucionária, verificada nos últimos 30 anos. Em 1990 ainda a produção de tintos (113,5 milhões de litros) superava largamente a de brancos (87,9), tendo sido a partir da colheita de 1992/93 (brancos 57,8 e tintos 56,7) que se deu a decisiva inversão.
Uma mudança imparável, já que em poucos anos a produção de tinto se tornou praticamente residual. Na viragem do século (2000/2001), os brancos já mais que duplicavam os tintos e os números da última colheita (2022/2023) indicam que, dos mais de 100 milhões de litros produzidos nos Vinhos Verdes, apenas cerca de 15% são tintos, sendo que nestes estão ainda incluídos os rosés.
Outras dúvidas (e respostas) sobre Vinho Verde:
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Este artigo foi publicado no n.º 10 da revista Singular.