O peróxido de hidrogénio, conhecido como água oxigenada, é eficaz para desinfecção de hospitais e a eliminação do “superfungo” Candida auris – demonstra um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Já este ano, o Centro de Controlo de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América alertou para o crescimento alarmante dos casos de infecção por este fungo.
O coordenador do estudo, Acácio Gonçalves Rodrigues, explica que a FMUP tem vindo a estudar como prevenir surtos e evitar consequências potencialmente fatais para os doentes. “E os resultados demonstram que o peróxido de hidrogénio não tem potencial significativo, pelo menos a curto e médio prazo, de indução de resistência microbiana. Portanto, pode ser usado com segurança. É um método fiável e confiável para desinfecção de espaços onde tenham sido admitidos doentes que tenham estado infectados por Candida auris”, afirma.
O fungo Candida auris está associado a múltiplos surtos, infecções graves e altas taxas de mortalidade em todo o mundo. Trata-se de um fungo patogénico, identificado pela primeira vez no Japão em 2009, e que é capaz de entrar na corrente sanguínea e de invadir todo o corpo. Os dados disponíveis indicam que o Candida auris pode ser super-resistente, tolerando os medicamentos (antifúngicos) utilizados para o tratamento das infecções que provoca.
Embora o peróxido de hidrogénio seja “amplamente utilizado em ambientes de saúde”, quer em líquido, vapor ou aerossol, são necessárias ainda mais provas da sua eficácia contra este fungo, admite Acácio Gonçalves Rodrigues, acrescentando que não existem dados sobre a possibilidade de indução de resistências depois do uso da água oxigenada.
Três espécies de Candida
“Agora sabe-se que o uso continuado de peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, para desinfecção e esterilização de hospitais e outras estruturas de saúde, provou ser eficaz”, conclui Acácio Gonçalves Rodrigues.
A equipa da FMUP analisou três espécies de Candida – Candida auris, Candida albicans e Candida parapsilosis – que foram expostas durante 30 dias a concentrações definidas de peróxido de hidrogénio. Os resultados indicam que este desinfectante tem uma eficácia semelhante em todas as espécies de Candida, após aquele período.
“A adopção de soluções de H2O2 em protocolos de rotina, a fim de promover a desinfecção contra Candida auris, melhorando a segurança do paciente e reduzindo custos com saúde, é certamente bem-vinda”, remata Acácio Gonçalves Rodrigues, cujo estudo foi publicado na revista científica Antimicrobial Resistance & Infection Control.
Recordando os medos e fragilidades que a pandemia da covid-19 colocou a nu no panorama da saúde, o professor concluiu: “A prevenção é a melhor forma de evitar futuros surtos.”