Deixar Nagorno-Karabakh pela montanha, rumo ao Ocidente

Milhares de arménios fugiram da região de Nagorno-Karabakh em carros, camiões, autocarros e tractores rumo a Ocidente. O fotógrafo David Ghahramanyan esteve entre os milhares a fazer a viagem com a família. 

Veículos que transportam refugiados do Nagorno-Karabakh, uma região habitada por arménios, fazem fila na estrada que conduz à fronteira com a Arménia Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Fotogaleria
Veículos que transportam refugiados do Nagorno-Karabakh, uma região habitada por arménios, fazem fila na estrada que conduz à fronteira com a Arménia Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN

Depois de uma operação relâmpago das forças armadas do Azerbaijão para retomar o controlo de Nagorno-Karabakh, o fluxo de arménios de origem étnica que fugiam da região para a Arménia rapidamente se transformou num êxodo. A autoproclamada república de Artsaque, no enclave montanhoso do Nagorno-Karabakh, entre a Arménia e o Azerbaijão, vai deixar de existir após três décadas de resistência. Esta realidade desencadeou um êxodo de arménios da região que temem uma "limpeza étnica".

As imagens desta fotogaleria foram tiradas entre os dias 24 e 26 de Setembro pelo fotógrafo freelancer da Reuters David Ghahramanyan, que fez a viagem com a sua própria família. A lente de Ghahramanyan captou carros, camiões, autocarros e tractores ao longo da estrada de montanha, muitas vezes em duas ou três filas de trânsito, todos num só sentido. Numa das fotografias, vê-se uma mulher a bordo de um autocarro lotado que espreita através dos vidros carcomidos.

Alguns dos viajantes a rumar em direcção ao Ocidente vinham da capital de Karabakh, conhecida pelos arménios como Stepanakert e pelos azerbaijanos como Khankendi. Outros vinham dos distritos vizinhos ou até de mais longe. Levavam tudo aquilo que conseguiram encaixar dentro ou em cima dos veículos. Sacos, caixas e até mobília — um conjunto de cadeiras, num dos casos — eram amarrados nas barras dos tejadilhos, expostos às intempéries. Se um carro avariasse, toda a fila parava enquanto o condutor e outros tentavam arranjá-lo.

Para fazer uma viagem de 77 quilómetros desde Stepanakert até à fronteira arménia, Ghahramanyan e a sua família levaram 24 horas. No começo, esperavam que demorasse apenas duas horas. À medida que o êxodo forçado se ia fazendo sentir, Ghahramanyan captou uma imagem do seu pai a derramar uma lágrima à beira da estrada.

Ao cair da noite de 25 de Setembro, um grupo de viajantes cansados acendeu uma fogueira para se aquecer no ar frio da noite.

Eduard Ghahramanyan, pai do fotógrafo David Ghahramanyan, ao sair da região de Nagorno-Karabakh com outros membros da família, na estrada que leva à fronteira arménia
Eduard Ghahramanyan, pai do fotógrafo David Ghahramanyan, ao sair da região de Nagorno-Karabakh com outros membros da família, na estrada que leva à fronteira arménia Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Habitantes de Stepanakert deixam a cidade, de noite, após uma operação militar conduzida pelas forças armadas do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh
Habitantes de Stepanakert deixam a cidade, de noite, após uma operação militar conduzida pelas forças armadas do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Refugiados do Nagorno-Karabakh juntam-se à volta de uma fogueira para se aquecerem depois de terem ficado presos numa fila de veículos na estrada que conduz à fronteira com a Arménia
Refugiados do Nagorno-Karabakh juntam-se à volta de uma fogueira para se aquecerem depois de terem ficado presos numa fila de veículos na estrada que conduz à fronteira com a Arménia Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Moradores sentados num autocarro no centro de Stepanakert antes de deixarem o Nagorno-Karabakh
Moradores sentados num autocarro no centro de Stepanakert antes de deixarem o Nagorno-Karabakh Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Moradores entram num veículo no centro de Stepanakert antes de deixarem Nagorno-Karabakh. A população tenta levar o máximo possível em carros, camiões e autocarros
Moradores entram num veículo no centro de Stepanakert antes de deixarem Nagorno-Karabakh. A população tenta levar o máximo possível em carros, camiões e autocarros Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Residentes reúnem-se junto a autocarros no centro de Stepanakert antes de deixarem Nagorno-Karabakh
Residentes reúnem-se junto a autocarros no centro de Stepanakert antes de deixarem Nagorno-Karabakh Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Moradores da cidade Stepanakert carregam os seus pertences e preparam-se para abandonar a região
Moradores da cidade Stepanakert carregam os seus pertences e preparam-se para abandonar a região Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Caixões alinhados à porta de uma morgue na cidade de Stepanakert, na região do Nagorno-Karabakh
Caixões alinhados à porta de uma morgue na cidade de Stepanakert, na região do Nagorno-Karabakh Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Uma mulher idosa e duas crianças sentam-se em cima de sacos com pertences enquanto os residentes se reúnem no centro de Stepanakert para deixar Nagorno-Karabakh
Uma mulher idosa e duas crianças sentam-se em cima de sacos com pertences enquanto os residentes se reúnem no centro de Stepanakert para deixar Nagorno-Karabakh Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Refugiados de Nagorno-Karabakh, uma região habitada por arménios, à beira da estrada na fila para chegar à fronteira com a Arménia
Refugiados de Nagorno-Karabakh, uma região habitada por arménios, à beira da estrada na fila para chegar à fronteira com a Arménia Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Crianças à beira do passeio enquanto os residentes se reúnem no centro de Stepanakert para abandonar Nagorno-Karabakh
Crianças à beira do passeio enquanto os residentes se reúnem no centro de Stepanakert para abandonar Nagorno-Karabakh Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Os habitantes arménios em êxodo tentaram levar o máximo possível em carros, camiões e autocarros
Os habitantes arménios em êxodo tentaram levar o máximo possível em carros, camiões e autocarros Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN
Para o fotógrafo da Reuters uma viagem de 77 quilómetros demorou 24 horas
Para o fotógrafo da Reuters uma viagem de 77 quilómetros demorou 24 horas Reuters/DAVID GHAHRAMANYAN