Porta-voz do PAN-Madeira desfilia-se do partido, depois de suspenso e processado

Direcção nacional do partido suspendeu Joaquim Sousa com efeitos imediatos e abriu-lhe um processo disciplinar, mas o dirigente afirma que já tinha tomado a decisão de sair: “Era ou ela ou eu.”

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Inês Sousa Real, líder do PAN Rui Gaudencio

O porta-voz regional do PAN na Madeira, Joaquim Sousa, decidiu demitir-se e desfiliar-se do partido, sustentando que não confia na líder, Inês Sousa Real, que acusou de promover uma "purga estalinista". Isto na mesma noite em que a Comissão Política Nacional do PAN decidiu suspendê-lo com efeitos imediatos e desencadear um inquérito disciplinar por ter posto "em causa o bom-nome" do partido.

Num comunicado enviado durante a noite à Lusa, aquele órgão dirigente anuncia ter tomado a decisão, "por larga maioria, de aplicar a suspensão imediata a Joaquim Sousa, porta-voz do PAN-Madeira, e de proceder a um inquérito disciplinar".

A direcção do partido refere que estas decisões foram tomadas "após uma análise rigorosa de factos que puseram em causa o bom-nome do PAN por parte de Joaquim Sousa e a audição do próprio pela comissão política nacional", órgão máximo de direcção do partido entre congressos, que se reuniu na noite de quinta-feira para debater o futuro do dirigente regional.

"A suspensão imediata de Joaquim Sousa é uma acção pontual, cautelar, no âmbito do processo disciplinar instaurado contra este, sendo que o PAN reitera o seu compromisso com a transparência e a justiça na condução deste processo disciplinar, o qual não reflecte, de forma alguma, o trabalho dedicado e comprometido dos restantes membros do PAN-Madeira", lê-se na nota.

Joaquim Sousa emite então uma nota em que anuncia a sua desfiliação. "Tomei a decisão de me afastar do partido, mas não da causa ambiental, hei-de ser sempre ambientalista", afirmou à Lusa, indicando que a decisão foi comunicada na noite de quinta-feira, através de uma carta enviada às estruturas nacionais do partido após a reunião da comissão política nacional.

Na missiva, o autarca comunicou que deixa de ser porta-voz regional do PAN e também de "fazer parte do PAN", justificando ser "impossível continuar a trabalhar com uma porta-voz que patrocina golpes nas estruturas locais do PAN, que promove purgas por delito de opinião, que mente sobre os factos que ocorrem de modo a condicionar a acção dos membros dissonantes do partido".

"Não consigo compactuar com tantas ilegalidades normativas que são cometidas pela porta-voz nacional, que usa e abusa dos estatutos a seu bel-prazer para cumprir os seus devaneios e vinganças pessoais, com a agravante de o órgão regional ser inútil, pois as nossas decisões são ignoradas, os nossos meios foram pirateados pelo seu gabinete, as escolhas são suas e ostensivamente, por sua indicação, a comissão política regional deixou de funcionar", lê-se na carta.

Questionado sobre a decisão do partido, o dirigente disse não ter sido informado e que teve conhecimento da mesma naquele momento, mas considerou que a decisão "já estava tomada". "Eles precisam que eu saia, porque para assinar o acordo com o PSD-Madeira convém que não passem por cima da comissão política regional da Madeira, e foi o que fizeram", alegou, apontando que o partido entrou "numa espiral de ilegalidades".

O dirigente demissionário indicou que tomou esta decisão porque a "situação em si foi drástica", e indicou que não tem "confiança política em Inês Sousa Real e na sua comissão política permanente". Lembrando que pediu na quinta-feira a demissão da porta-voz nacional do partido, Joaquim Sousa sustentou: "Era ou ela ou eu."

"Em consciência, não podia continuar a compactuar com os mandos de Inês Sousa Real. Prefiro sair, ter a liberdade cívica e política que entendo que devo ter, sem estar preocupado com hierarquias e regulamentos disciplinares de partidos como o PAN, em que a porta-voz quer controlar tudo e todos, limitando a liberdade de cada um", salientou.

Já o PAN "reafirma o seu compromisso com os valores e princípios de respeito, de ética e responsabilidade no exercício das funções partidárias", e indica que "continuará a trabalhar de forma eficaz e a representar os interesses dos e das madeirenses e porto-santenses".

O partido liderado por Inês Sousa Real agradece ainda "as várias mensagens de apoio contínuo e compreensão que tem recebido durante este processo" e mostra-se "confiante num futuro em que o crescimento e expressão das causas PAN ganham terreno perante as exigências actuais de lutar por um futuro mais sustentável, inclusivo e justo para todos e todas".

O PAN elegeu uma deputada nas eleições regionais de domingo – vencidas pela coligação PSD/CDS-PP, sem maioria absoluta – e celebrou um acordo de incidência parlamentar para os próximos quatro anos.