Mónica Freitas: a activista feminista que fez o PAN dar a mão ao PSD na Madeira

A deputada eleita pelo PAN que assinou o acordo com o PSD-M é tida como próxima da esquerda radical. Activista, criou uma associação para lutar pelos direitos das mulheres e pela linguagem neutra.

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Mónica Freitas, de 27 anos, é a deputada eleita do PAN com quem Miguel Albuquerque celebrou um acordo regional LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
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Fundou uma associação dedicada à igualdade de género, criticou os argumentos “estúpidos” de quem é contra a eutanásia e passou a encabeçar a lista do PAN às regionais da Madeira na sequência de uma reviravolta interna apadrinhada pela direcção nacional. Aos 27 anos, Mónica Freitas não só promoveu o regresso do PAN ao parlamento madeirense como se tornou uma peça-chave da política regional ao assinar um acordo com Miguel Albuquerque que garantiu a manutenção no poder de PSD e CDS-PP.

A assistente social pode ser uma estreante na política, mas vai chegar à assembleia regional com um percurso feito no activismo. Ao PÚBLICO, quem a conhece define-a como “corajosa” e “determinada”, com uma “maturidade invulgar para a idade”, posicionando-a politicamente como uma “pessoa de uma ala esquerda radical”.

A participação cívica começou com um projecto contra o bullying na escola, que acabaria por levá-la à Finlândia em 2011. Três anos depois, com 19 anos, fez parte do Girl Effect, um movimento de “empoderamento feminino” que no ano seguinte a acompanhou para Coimbra, onde se licenciou. Durante os tempos da universidade, participou ainda na reunião anual de 2017 da Comissão para o Estatuto da Mulher das Nações Unidas enquanto representante das jovens portuguesas.

“É muito importante o empoderamento feminino e trabalharmos com jovens raparigas (…) para tomarem a consciência de que têm os mesmos direitos”, explicou a deputada eleita numa entrevista a um talk-show da RTP Madeira, em Maio de 2021, a propósito do Girl Effect.

De regresso à Madeira, foi voluntária em várias associações, onde trabalhou nos bairros sociais da ilha, e em 2018 fundou a associação Womaniza-te, dedicada à igualdade de género, à linguagem neutra e inclusiva e à violência no namoro.

Foi enquanto presidente da Womaniza-te, cargo que ainda desempenha, que ganhou projecção na Madeira enquanto activista feminista. Sobretudo devido ao podcast Masturbador Virtual, onde a eleita do PAN discorre sobre vários temas, da política à sexualidade, uma diversidade temática expressa pelos títulos dos episódios: ''Existe muito mais para além da penetração'', “Ela meteu-me o dedo no cu”, “O problema da habitação em Portugal” ou “A minha Picha ficou ON FIRE...”.

No episódio especial de Natal do Masturbador Virtual, tal como relatado pelo Observador, Mónica Freitas criticou Alberto João Jardim por este ter uma “mentalidade 100% ultrapassada”: “Acho que somos comandados por velhos e já chega.” Nesse mesmo episódio, a assistente social, nascida em Novembro de 1995, também revela que existe uma “total falta de empatia” por parte de quem é contra a morte medicamente assistida. “Os argumentos usados contra são estúpidos. Não são pessoas inteligentes que mereçam gerir este país.”

“Adaptável aos objectivos do governo”

O homem que governou a Madeira durante 40 anos também já se pronunciou sobre Mónica Freitas, numa altura em que ainda não se sabia se o PSD iria firmar um compromisso com o PAN ou com a IL. O líder histórico do PSD-M defendeu que Mónica Freitas, apesar de ser de um partido “muito próximo do PS”, seria mais “adaptável aos objectivos do governo”. “Soube que, há três meses, esta senhora [cabeça de lista] do PAN entrou nos quadros do governo regional [como assistente social na Secretaria Regional de Inclusão] e talvez seja uma pessoa mais adaptável aos objectivos do governo”, afirmou Alberto João Jardim em entrevista ao podcast do PÚBLICO Toma Partido.

Mas como é que esta activista acaba por ser o trunfo de Miguel Albuquerque para continuar a governar a Madeira? A origem está no turbilhão interno que decorreu no PAN a cerca de um mês das eleições. Com a pré-campanha em marcha, Joaquim José Sousa, cabeça de lista e porta-voz regional, foi afastado devido a uma “incompatibilidade entre o candidato e a direcção regional”, segundo a comunicação oficial do partido.

Já o anterior candidato, que ganhou notoriedade enquanto director da escola-modelo do Curral das Freiras que foi extinta pelo governo regional, denunciou ter sido afastado por recusar ser controlado pela líder nacional, Inês Sousa Real. É aí que a então número dois, Mónica Freitas, passa a primeiro lugar da lista, tornando-se o rosto do PAN na Madeira, apesar de Joaquim José Sousa ainda reclamar da falta de legitimidade da futura deputada junto da direcção regional.

Independentemente das divergência ideológicas com o PSD e o CDS-PP, na conferência de imprensa em que anunciou o acordo para suportar o governo regional, a deputada eleita do PAN encarou o entendimento como um “oportunidade” para o partido “fazer valer as suas causas” e servir de “tampão” à extrema-direita. “Pedimos a todas as pessoas que votaram em nós que continuem a confiar no nosso trabalho. Vamos garantir que o nosso principal foco vai ser fazer valer as nossas causas.”

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