Não hesito, quero vacinar-me!

Esta sexta-feira começa a campanha de vacinação da gripe e covid-19.

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Hesito ou não hesito? Quantos rios de tinta se têm escrito sobre a hesitação vacinal? Porque vacinamos? Porque não vacinamos? Esta sexta-feira começa a campanha de vacinação da gripe e covid-19 e, entre aqueles que têm hesitação vacinal, é preciso fazer um caminho de consciência, de cognição e maior conhecimento – os 3 C – para separar as águas.

Anos de investigação mostram a descida radical da morte e da doença com a vacinação. Ao mesmo tempo, estes anos de investigação mostram também a evolução do ser humano antes e depois da vacinação. Proteção efetiva, crescimento, melhoria e cognição não enviesada são algumas das razões das pessoas que se vacinam e vacinam quem delas depende.

Ainda recentemente, e para quem conhece a revista Lancet, uma das melhores do mundo na ciência, um estudo do Imperial College de Londres, publicado pela The Lancet Infectious Diseases, reporta que as vacinas contra a covid-19 salvaram 19,8 milhões de vidas no primeiro ano em que foram administradas. Os investigadores não brincam em serviço, pelo menos em matérias sérias como as da vida humana.

A Unicef, inteirada da realidade no mundo e com peritos muito sérios e credíveis, afirma que "até que mais países corrijam as lacunas na cobertura da vacinação de rotina, as crianças em todo o mundo continuarão em risco de contrair e morrer de doenças que podemos prevenir”. Lemos bem, sim, podemos intervir para evitar mortes por doenças preveníveis, como o sarampo e outras. As motivações e crenças para o negacionismo são várias: crença generalizada de que “faz mal”, por exemplo. E, quando perguntamos porquê, respondem que “faz mal porque faz”; “porque há muita informação” (é mais do que certo que há muitas fake news para estas pessoas cheias de apetite para confirmarem as suas crenças de negação).

Quantas vezes ouvi eu estas palavras, que me fazem refletir que teremos gerações vindouras amantes do pensamento simplista e enviesado, que se refugiam nas redes sociais para confirmar o seu pensamento e, ainda por cima, que põem em risco os seus dependentes com uma ligeireza de pensamento que é quase atroz. Porque, sim, pôr em risco uma criança é uma decisão atroz quando se pode evitar.

Mas quanto à frenética assunção dos enormes riscos que assumem, sobretudo tendo em conta os reflexos que isso tem para os seus filhos ou dependentes não vacinados, então a história é outra. É pôr em risco evidente quem não se pode defender pela idade ou pela dependência parental ou de cuidadores incautos das potenciais consequências letais.

Sem vacinação, o nível de mortalidade até aos cinco anos era um flagelo na década de 40/60. Todos leram sobre a capacidade de as vacinas evitarem doenças mortais conhecidas como a poliomielite, varíola, sarampo, tuberculose, difteria, tétano e outras. Afinal, foi preciso que as vacinas mostrassem o seu efeito de proteção da vida para que alguns membros das mesmas sociedades, quase sem doença, as viessem questionar e fizessem de novo subir o número de infetados e de doenças? Sabemos que há doenças que, à partida, estavam quase eliminadas, como o sarampo, e que recrudesceram nos últimos anos por falta de proteção vacinal. O que seria destas pessoas adultas que decidem sobre a não vacinação se as puséssemos na década de 40?

O risco de mortalidade está a crescer novamente e, por isso, o apelo a estas gerações de negacionistas é que pensem na história, na vida, na evolução, na evidência e na proteção de quem deles depende. Todos somos livres de decidir. Mas para decidir são precisas crenças positivas e, sobretudo, justas para todos nós. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a vacinação evita atualmente quatro mortes por minuto no mundo.

Se tomar uma decisão é porque estou consciente. Sou mais livre quando tenho mais conhecimento. Sou mais livre quando sou mais capaz de me proteger e de proteger efetivamente quem de mim depende. Ter liberdade para dizer “não me vacino” requer apenas uma crença fátua, pouco fundamentada nos dados, como uma “adesão mecânica” a um grupo que a pessoa crê que a representa... Ninguém decide sozinho. Decide porque outros já decidiram aquilo que acabo de decidir. Adere-se a essa vaga porque faz parte da crença naquele assunto. Não muitas vezes porque seja verdade ou mentira. Mas porque geralmente se quer alimentar a sua própria verdade.

A evidência científica mostra o efeito protetor da vacinação. É um facto permanente real. A procura de informação é um ponto crucial. É preciso controlar o vai-e-vem de enviesamentos que sofremos diariamente (de proximidade, do influenciador direto). Não hesito: Quero vacinar-me e proteger quem depende de mim.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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