Num debate confuso, candidatos republicanos à Casa Branca apontaram ao Presidente Biden e ao ausente Trump
Ex-Presidente acusado de ter “medo” e de estar “desaparecido em combate” para não ter de falar sobre o seu mandato. Candidatos criticaram opções de Biden na imigração, economia e relações com a China.
Donald Trump voltou a faltar a um debate entre aspirantes do Partido Republicano à Casa Branca, mas a ausência do ex-Presidente dos Estados Unidos não trouxe mais ordem ou compostura ao evento de quarta-feira à noite (madrugada desta quinta-feira em Portugal), em Simi Valley, no estado da Califórnia, moderado pela Fox e pela Univision.
Sete candidatos às primárias republicanas, que têm como objectivo conquistar a nomeação para a eleição presidencial de Novembro do próximo ano, trocaram argumentos, acusações e críticas, num debate caótico e confuso, que, ao fim de duas horas, não parece ter oferecido grandes pistas sobre qual deles parte à frente no confronto mais que provável com Trump na última etapa da contenda interna do partido.
O favoritismo do ex-Presidente – que, em vez de debater, preferiu discursar num comício com trabalhadores do sector automóvel no Michigan – foi de tal forma assumido pelos candidatos que, na ânsia de garantir essa segunda posição nas primárias, não se escusaram de fazer daquela ausência um tema de discussão.
“As pessoas em Washington, com o seu comportamento irresponsável, estão a acabar com o sonho americano. E onde está Joe Biden? Está totalmente desaparecido em combate em termos de liderança. E sabem quem também está desaparecido em combate? Donald Trump”, criticou Ron DeSantis, governador da Florida.
“Trump devia estar neste palco a defender o seu legado. Ele deve-vos isso. Um legado que acrescentou 7,8 biliões de dólares [triliões, na nomenclatura americana] de dívida”, denunciou o candidato que supostamente tem melhores perspectivas para desafiar o ex-chefe de Estado e que lembrou: “As sondagens não elegem presidentes, são os eleitores que elegem presidentes.”
Na mesma linha, Chris Christie chamou “Donald Duck” a Donald Trump, num trocadilho entre o nome do ex-Presidente, a célebre personagem da Disney e o facto de, segundo o antigo governador da Nova Jérsia, Trump estar a “pôr a cabeça debaixo de água” ou “esconder-se” (“ducking”, no original) para não ter de enfrentar os seus problemas políticos e judiciais.
“Donald, sei que estás a assistir [ao debate]. Não estás aqui esta noite [e] não é por causa das sondagens e não é por causa das acusações contra ti. Não estás aqui esta noite porque tens medo de estar neste palco e de defender o teu legado. Estás a esquivar-te destas coisas”, afirmou Christie.
“São todos candidatos a um emprego. Alguém vê algum vice-presidente naquele grupo? Não me parece”, zombou, por sua vez, Trump, no seu discurso, confiante de que o seu favoritismo nas sondagens (perto de 40 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo classificado) será suficiente para garantir a nomeação republicana e a eleição presidencial.
Num debate em que os moderadores não fizeram qualquer pergunta ou referência às várias acusações civis e criminais que pesam sobre o ex-Presidente – que incluem conspiração para reverter a eleição de 2020, retenção ilegal de documentos secretos da Casa Branca e pressão para alterar resultados eleitorais na Georgia – os candidatos concordaram nas críticas à Administração Biden por aquilo que dizem ser respostas ineficazes à questão migratória na fronteira com o México ou ao aumento da inflação nos EUA.
“Biden não devia ter estado no piquete de greve”, criticou o senador Tim Scott, referindo-se a presença do Presidente democrata em Detroit, na terça-feira, na paralisação promovida pelos trabalhadores da United Auto Workers. “Ele devia ter estado na fronteira sul, a trabalhar para a encerrar, porque é perigosa, está bem aberta e é insegura”, acrescentou.
A reversão do direito ao aborto, o risco de shutdown de vários departamentos do Governo federal e as relações entre EUA e China também foram alvo de discussão, com este último tópico a motivar um dos ataques pessoais mais duros da sessão televisiva.
Em resposta ao empresário Vivek Ramaswamy, que defende a utilização da rede social chinesa TikTok – que muitos países europeus e não só já proibiram em dispositivos móveis dos seus funcionários públicos – para chegar ao eleitorado mais jovem, Nikki Haley, antiga embaixadora dos EUA na ONU, foi cáustica: “Sempre que te oiço, sinto-me um pouco mais estúpida.”