Eleições na Madeira: CDS preferia entendimento com IL, mas ficou “à margem” da negociação

Nuno Melo confessa que o partido que dirige não foi consultado sobre o acordo fechado entre PSD e PAN na Madeira, apesar de integrar a coligação vencedora. Juventude Popular é mais dura.

Foto
PSD não envolveu o CDS nas negociações para acordos na Madeira Paulo Pimenta

O presidente do CDS-PP assinalou terça-feira à noite que o acordo de incidência parlamentar na Madeira foi fechado entre PSD e PAN, "processo [que] passou à margem" dos centristas, e apontou que teria preferido um entendimento com a Iniciativa Liberal.

Em declarações à Lusa, Nuno Melo afirmou que a solução "resulta de um entendimento do PSD/Madeira com o PAN, no qual o CDS não participou", sendo o "acordo do presidente do Governo Regional".

O presidente do CDS-PP assinalou igualmente que o partido liderado por Inês de Sousa Real, e que elegeu uma deputada regional, "não está no Governo Regional da Madeira". "Do Governo apenas fazem parte PSD e CDS-PP", realçou.

O líder centrista apontou ainda que as estruturas regionais dos partidos "têm estatutos próprios, são autónomas", e tomam decisões "sem a intromissão dos partidos a nível nacional".

"Para o CDS a nível nacional, o PAN é um partido que não tem nada que ver com o CDS do ponto de vista ideológico e que o CDS combate", salientou, considerando que "o CDS está mais próximo da IL do que do PAN".

Nuno Melo indicou que, "obviamente, no que depender do CDS, entre a opção pelo PAN ou a Iniciativa Liberal, a opção é pela Iniciativa Liberal".

"Apesar disso, admito que as circunstâncias regionais num espaço territorial pequeno e onde as pessoas se conhecem, aspectos pessoais possam ter tido peso numa decisão cujos contornos eu desconheço, porque não participei nela", ressalvou o eurodeputado.

O líder do CDS-PP afirmou que "o processo passou à margem do CDS", partido que "não foi parte das conversações", que decorreram entre PSD e PAN.

Nuno Melo considerou ainda que "as matérias que foram tornadas públicas relativas ao acordo entre PSD e PAN de incidência parlamentar são matérias inócuas que dificilmente seriam recusadas por qualquer partido na Assembleia Legislativa" da Região Autónoma da Madeira e algumas medidas acordadas "já faziam parte do programa da coligação".

A coligação Somos Madeira (PSD/CDS-PP) venceu no domingo as eleições legislativas regionais da Madeira, mas falhou por um deputado a maioria absoluta, para a qual é necessário ter 24 dos 47 lugares do parlamento do arquipélago.

A deputada eleita do PAN, Mónica Freitas anunciou que assinou um acordo de incidência parlamentar de quatro anos com a coligação PSD/CDS-PP, viabilizando assim uma maioria absoluta no hemiciclo.

JP preferia governar em minoria do que "violar valores fundamentais"

A Juventude Popular (JP), estrutura que representa os jovens do CDS-PP, criticou já nesta quarta-feira o acordo de incidência parlamentar alcançado na Madeira com o PAN, considerando que "governar em minoria será preferível a violar valores fundamentais".

Em comunicado, a JP refere que nas eleições regionais de domingo, PSD e CDS-PP (que concorreram coligados) "foram a primeira preferência dos madeirenses e dos porto-santenses e, por isso, venceram".

"É verdade que não foi atingida a maioria absoluta, mas o povo madeirense foi claro: quer que a coligação PSD/CDS governe e que o faça por si, sem depender de radicais, nem de agendas que não comunguem de valores próximos", considera.

A estrutura liderada por Francisco Chamacho considera que, não tendo alcançado a maioria absoluta, "era expectável que começassem conversas com outras forças políticas", mas "o que se não esperava é que o PAN entrasse nas contas".

A JP defende que "o diálogo entre forças políticas é fundamental numa democracia" e "garantir um governo estável implica muitas vezes negociações entre diferentes forças políticas", mas considera que "a estabilidade governativa, para ser efectiva e não ilusória, espera-se que seja garantida através de um chão comum de valores, partilhados pelas várias partes".

"A coberto da chamada estabilidade governativa, o PSD/Madeira permitiu-se firmar uma convergência com um partido com o qual esse chão comum é curto. O PAN ataca praticamente tudo o que o CDS-PP defende, começando nas liberdades individuais e acabando no mundo rural, no desenvolvimento da indústria pesqueira e no primeiro sector", apontam os jovens centristas.

Os jovens do CDS-PP salientam que "há valores que são imprescindíveis" e defende que "governar em minoria será preferível a violar valores fundamentais".

"A segurança de uma maioria absoluta não se deve sobrepor à identidade, nem ao programa sufragado pelos eleitores -- e o que é que pensarão disto os eleitores? A segurança de uma maioria absoluta, só por si, nunca dará estabilidade, pois não há estabilidade maior do que o rigoroso respeito pelos valores", aponta a JP.

Na nota, esta estrutura do CDS refere ainda que "a sobrevivência de um partido não está em causa quando abandona o poder, mas quando abandona os princípios que o identificam".