ONU: Marcelo elogia discursos de Lula e Biden e vê possibilidade de diálogo

O Presidente da República apontou o alargamento do grupo de economias emergentes BRICS como sinal de descontentamento com a falta de reforma das Nações Unidas, que, na sua opinião, pode crescer.

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O Presidente da República insiste nos avisos de que é preciso reformar as Nações Unidas LUSA/Nuno Veiga

O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou hoje os discursos dos presidentes brasileiro, Lula da Silva, e norte-americano, Joe Biden, nas Nações Unidas, nos quais identificou "uma sobreposição que permite o diálogo".

Em declarações aos jornalistas na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que teve oportunidade de falar com o Presidente da Ucrânia e que Volodymyr Zelensky se mostrou "muito feliz" com a perspectiva de um encontro com Lula da Silva na quarta-feira.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, que foi o oitavo chefe de Estado a intervir na abertura do debate geral da 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a sessão com "uma óptima intervenção", em que falou dos problemas e prioridades de modo "muito directo e muito pedagógico".

"Depois houve dois grandes discursos", considerou, referindo-se às intervenções dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos da América.

O Presidente da República qualificou o discurso de Lula da Silva como "muito bem escrito e muito equilibrado" e "aberto ao diálogo, também no caso da Ucrânia", e o de Joe Biden como "um exemplo de mestria diplomática", em que "foi naturalmente muito enfático e muito determinado" contra a invasão russa.

Na sua opinião, "marcaram verdadeiramente duas posições", o Presidente norte-americano com uma "posição pró-ucraniana clara, incisiva", e o Presidente do Brasil com uma "posição de disponibilidade para negociar – condenando a invasão, hoje não condenou, mas já tinha condenado anteriormente –, representando o resto do mundo".

"Não são incompatíveis, há diálogo entre eles. Se virem bem, há uma sobreposição. São posições diferentes, mas há uma sobreposição que permite o diálogo", defendeu.

Interrogado sobre se Lula da Silva não terá sido mais pró-russo do que neutro, Marcelo Rebelo de Sousa contrapôs que o Presidente do Brasil "tem tido uma linha muito inteligente, própria, autónoma", e que é "correspondente ao pensamento de muitos países". "E é uma posição que eu consideraria bem pensada, bem apresentada e hoje muito bem construída em termos de discurso", acrescentou.

Questionado sobre o discurso do Presidente da Ucrânia, respondeu: "Achei muito bom. Foi muito curto, muito forte. Colocou as questões fundamentais." "Quando terminou, teve muito mais aplausos do que quando começou, o que quer dizer que atingiu o objectivo", considerou.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que falou com Volodymyr Zelensky sobre "o ajustamento de uma iniciativa comum", que não quis especificar, "uma coisa mais administrativa", sem relevância política nem militar.

Alargamento dos BRICS é sinal de "descontentamento" e pode crescer

O Presidente da República considerou ainda que o alargamento do grupo de economias emergentes BRICS representa um sinal de descontentamento com a falta de reforma das Nações Unidas, que na sua opinião pode crescer.

Em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa retomou a mensagem que deixara na 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em que apelou para que se passe das promessas à acção na reforma desta instituição e, em particular, do seu Conselho de Segurança.

Segundo o chefe de Estado português, a sua mensagem corresponde ao que "os povos pensam" sobre estes encontros: que os líderes mundiais "todos os anos repetem a mesma coisa", e com o passar do tempo "fica-se com a sensação de que nada andou, ou andou pouco".

"É isso que provoca uma coligação negativa de uma série de Estados. O alargamento dos BRICS é isso. O alargamento dos BRICS não é uma coligação positiva, não pensam a mesma coisa – pensam a mesma coisa sobre o estarem marginalizados das instituições políticas e financeiras, aí estão unidos", sustentou.

O grupo dos BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, decidiu na sua última cimeira incluir, a partir do próximo ano, seis novos membros: Argentina, Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, "o Conselho de Segurança [das Nações Unidas] está bloqueado, não decide nada, e depois a Assembleia Geral substitui-o para discutir porque é que não decide nada, mas isso não resolve o problema de não decidir nada e de não ser representativo e de não poder intervir".

Manifestando dúvidas quanto à perspectiva de esta situação se alterar no curto prazo, o Presidente da República acrescentou: "Agora, há uma coisa que é certa: é que, se não se avança nestes vários objectivos, não há substituição para as Nações Unidas. Não há, não se vai criar outras, não é possível."

"Mas cria-se, sim, um pólo de descontentamento enorme que depois se fragmenta. Agora são os BRICS alargados, amanhã será o quê? É, por um lado, a posição africana, depois será a posição latino-americana, depois será a posição de países asiáticos, e perde-se a possibilidade de resolver problemas universais", considerou.

Relativamente à reforma do Conselho de Segurança da ONU, Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que vários membros permanentes "têm feito declarações unilaterais a dizer que talvez, porventura", mas que hoje "o Presidente americano [Joe Biden] foi muito claro, porque falou mesmo em mais membros permanentes e membros não permanentes do Conselho de Segurança".

O Presidente da República defendeu que Portugal pode contribuir para essa reforma "chegando lá", a um lugar de membro não permanente, no biénio 2027-2028.