Autarca da cidade líbia de Derna admite que as inundações tenham causado 20 mil mortos

Presidente da câmara da cidade devastada após colapso de duas barragens diz que é necessária ajuda de “equipas especializadas em recolher os corpos” das vítimas.

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Tempestade Daniel provocou colapso de duas barragens, que inundaram a cidade portuária de Derna EPA/Mohamed Shalash
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Os residentes de Derna e as equipas de resgate continuam esta quinta-feira à procura de sobreviventes das inundações naquela cidade portuária do Leste da Líbia, mas, à medida que vasculham e desimpedem os destroços dos edifícios destruídos pela enxurrada de água trazida pelo colapso de duas barragens próximas, é o número de mortos que não pára de aumentar.

A par do elevado número de desaparecidos – na casa dos dez mil –, a contabilização das vítimas mortais da tragédia causada pela passagem da tempestade Daniel pelo país do Norte de África no fim-de-semana passado também é dificultada pelo facto de haver dois governos rivais: o executivo internacionalmente reconhecido já confirmou mais de 3000 mortos, ao passo que a administração que governa a região oriental da Líbia fala em pelo menos 6000.

Esta quinta-feira, porém, numa entrevista com o canal televisivo saudita Al Arabiya, o presidente da câmara de Derna assumiu que, tendo em conta a quantidade de bairros destruídos pelas cheias – cerca de 30% da cidade “desapareceu totalmente” –, o número de mortos pode vir a situar-se entre os 18 e os 20 mil.

Mais tarde, em declarações à Reuters, Abdulmenam al-Ghaithi disse que é preciso ajuda urgente para Derna e que teme os potenciais efeitos das dificuldades sentidas no processo de recolha dos cadáveres para a saúde pública.

“Necessitamos de equipas especializadas em recolher os corpos. Temo que a cidade venha a ser infectada por uma epidemia devido ao elevado número de cadáveres que estão debaixo do entulho e na água”, afirmou.

Segundo o autarca, as autoridades locais estão a receber auxílio de equipas de resgate vindas do Egipto, da Tunísia, da Turquia, do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos.

As operações de socorro em Derna e noutras localidades da região leste da Líbia não têm ocorrido com a celeridade e a eficácia desejáveis para responder a uma tragédia desta dimensão. Isto deve-se, em grande medida, ao impacto do caos generalizado e das disputas de poder no país, que sucederam à deposição do general Muammar Khadafi, em 2011, na sequência de uma intervenção militar da NATO.

Segundo as equipas humanitárias no local, a falta de investimento da última década em profissionais, mecanismos e material de protecção civil e de resposta a situações de calamidade pública na Líbia, agravada pela cooperação deficitária entre os dois governos, está a ter efeitos nocivos nas probabilidades de as missões de busca e resgate de sobreviventes encontrarem pessoas com vida em Derna.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o elevado número de mortes registado na tragédia podia mesmo “poderia ter sido evitada” se houvesse organização das entidades de alerta e emergência do país.

Com uma melhor coordenação num país devastado por uma grave crise política, “poderiam ter emitido avisos e os serviços de gestão de emergências poderiam ter retirado as pessoas, e poderia ter sido evitada a maior parte das perdas humanas”, afirmou esta quinta-feira Petteri Taalas, secretário-geral da OMM numa conferência de imprensa realizada em Genebra, Suíça.

O líder da agência das Nações Unidas sublinhou que o conflito interno que perturba o país há vários anos “destruiu, em grande parte, a rede de observação meteorológica” e os sistemas informáticos.

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