Encontros da Imagem regressam a olhar para o futuro do planeta e da cultura
A 33.ª edição do festival volta a Braga – e estende-se a Barcelos, Guimarães e Porto – com 49 exposições, em busca de respostas para as grandes inquietações da actualidade.
Estão em marcha os últimos preparativos para a inauguração, esta sexta-feira, 15 de Setembro, da 33.ª edição do festival internacional de fotografia Encontros da Imagem, este ano dedicados ao tema Ensaio Para o Futuro. A representatividade, a inclusão, a sustentabilidade ambiental e os movimentos sociais, que têm sido mote de inúmeros festivais de fotografia e eventos de artes visuais por todo o mundo ao longo dos últimos anos, atravessam as 49 exposições e instalações distribuídas por 24 espaços das cidades de Braga, Guimarães, Barcelos e Porto.
A pandemia, momento que forçou uma reflexão colectiva acerca do futuro do planeta e da humanidade, precipitou a escolha das temáticas da presente edição, refere ao PÚBLICO Simone Almeida, que, em conjunto com Carla Bacelar e Noora Manty, dirige o festival. “Sabemos que não estamos bem, que a nossa sociedade não é funcional, que estamos a sobreexplorar o planeta, e quisemos, através dos trabalhos que seleccionámos, propor uma reflexão em torno de novas formas de organização, de modos de vida e de criação.”
Os trabalhos dividem-se entre dois grandes grupos: aqueles que tocam questões culturais, que a organização denominou de Futuros Culturais, e os que abordam questões climáticas, Futuros Ambientais. No primeiro cabem produções de artistas como Marisol Mendez, que no projecto Madre, exposto no Museu do Paço, no coração de Braga, desafia a representação tendencialmente falocêntrica, “esbranquiçada” e colonial da mulher no seu país de origem, a Bolívia; ou do mexicano Diego Moreno, que num poderoso ensaio visual instalado no mesmo local, intitulado Malign Influences, intervém graficamente sobre fotografias do seu álbum de família com o fito de identificar e expurgar os “demónios" que, por influência do catolicismo, ditaram a repressão da sua homossexualidade.
O conceito de “monstruosidade” traspassa o trabalho de Diego Moreno, assim como o do fotógrafo suíço Matthieu Croizier, que utiliza o seu corpo de forma performativa para construir “uma carta de amor ao anormal, uma renúncia à normalidade” com base em auto-retratos – um acto de resistência ao estigma associado à comunidade LGBTQI+, de que faz parte. A comunidade queer encontra também representação nos trabalhos de Pauliana Valente Pimentel, que se debruçou sobre a cidade de Braga para encontrar os seus sujeitos fotográficos, e de Victoria Jung, que documentou a realidade de exclusão experienciada pelos autodenominados “queerdos” de Nova Orleães, nos Estados Unidos.
Já no eixo Futuros Ambientais, Simone Almeida destaca os trabalhos do norte-americano Lucas Foglia, que se debruça sobre o activismo ambiental levado a cabo por organizações de cariz religioso nos Estados Unidos, e do multipremiado Gideon Mendel, cujos Retratos Submersos, feitos em contexto de inundações em países de todo o mundo entre 2007 e 2018, estarão expostos, em escala humana, na Avenida Central de Braga. “A polaca Ligia Popławska, cujo trabalho considero também muito forte, explora o conceito de 'solastalgia', introduzido em 2003 pelo filósofo ambiental Glenn Albrecht para descrever o sofrimento emocional causado pela perda de ecossistemas”, explica a directora dos Encontros da Imagem.
Envolver o público
Em paralelo às exposições, o festival lança anualmente três open calls – Emergente, Discovery Award e Photobook – que têm como objectivo a captação de talento emergente e a distinção dos melhores fotolivros do ano. “Recebemos, este ano, 853 candidaturas de 59 países”, um número superior ao de edições anteriores, sublinha Simone Almeida.
O primeiro prémio, Emergente, no valor de cinco mil euros, é atribuído com base em leitura de portfólios, um evento que se realiza estas quinta e sexta-feira no Theatro Circo, em Braga, e que dá a 75 fotógrafos em início de carreira a oportunidade de apresentarem os seus projectos a especialistas. Este ano, o evento conta com a presença de Sarah Gilbert, editora de fotografia do jornal britânico The Guardian. O prémio Discovery concede a 30 fotógrafos a oportunidade expor no festival, a par dos artistas convidados, em formato físico ou através de projecção, e concede a um deles o prémio de mil euros.
Para além disso, haverá várias conferências dedicadas à fotografia, visitas guiadas às exposições, apresentações de livros, ciclos de cinema e mais exposições de rua. “O festival é muito conhecido internacionalmente, existe há mais de 30 anos e já é uma referência, mas por vezes é difícil estabelecer a ponte com as pessoas que vivem em Braga”, aponta Simone. “Queremos apostar numa maior interacção com elas, queremos envolvê-las nos Encontros. Esse é o objectivo principal desta edição.”