Preços dos alojamentos turísticos continuam a pressionar a inflação
Preços dos serviços de alojamento aceleraram em Agosto e são agora os que registam uma variação mais forte face ao ano passado.
Com mais uma subida de 10% só no mês de Agosto, os preços dos quartos de hotel ou do alojamento local passaram a ser, entre as diversas subclasses de bens e serviços utilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os que tiveram um maior agravamento face ao ano passado, contribuindo de forma significativa para que a inflação voltasse a subir em Portugal no mês passado.
Os dados definitivos dos preços suportados pelos consumidores ontem publicados pelo INE vieram confirmar que, em Agosto, se assistiu, pela primeira vez após nove meses seguidos de recuo da inflação, a uma nova aceleração dos preços. A taxa de inflação homóloga, que tinha sido de 3,1% em Julho, subiu para 3,7%.
E no ranking das subidas de preços no último ano passou a estar um novo líder: os serviços de alojamento. Este subgrupo de serviços inclui os preços suportados por quem utiliza um hotel, uma pousada ou qualquer outro tipo de alojamento temporário, e registou, só em Agosto, uma subida de preços de 9,9%. A taxa de inflação homóloga passou de 13,7% em Julho para 18,1% em Agosto – mês em que se realizou a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.
A subida forte dos preços dos alojamentos ao longo do último ano ocorre numa conjuntura de crescimento forte do sector do turismo em Portugal, com taxas de ocupação elevadas, e um reforço do seu peso nas exportações nacionais muito significativo. A forte procura que se tem vindo a registar a partir do momento em que a crise pandémica deixou de afastar os turistas contribui para colocar pressão sobre os preços que são sentidos não só pelos turistas estrangeiros, como também pelos nacionais.
O contributo da subida de preços nestes serviços para o total da inflação é relevante. De acordo com o INE, o contributo do subsubgrupo “Hotéis, motéis, pousadas e serviços de alojamento similares” (que faz parte do subgrupo “Serviços de alojamento”) para a variação mensal de 0,3% registada no total dos preços em Portugal foi de 0,163 pontos percentuais.
O contributo é ainda maior para a evolução da taxa de inflação harmonizada, aquela que usa um critério uniforme ao dos outros países da União Europeia e que inclui os consumos feitos por não residentes no cálculo do peso de cada bem e serviço. É o facto de os preços dos serviços de alojamento serem dos que mais sobem que faz com que, neste momento, a taxa de inflação harmonizada em Portugal (5,3% em Agosto) seja substancialmente maior do que a taxa de inflação calculada pelo INE com os critérios apenas usados em Portugal (3,7%).
Combustíveis de novo a subir
A subida da inflação homóloga dos preços dos serviços de alojamento, no entanto, não foi o principal motivo por parte da aceleração da inflação total registada em Agosto.
O principal problema foi que, em Agosto, ao contrário do que vinha acontecendo desde a segunda metade do ano passado, os preços dos combustíveis voltaram a registar uma trajectória ascendente acentuada.
De acordo com os dados do INE, o preço do gasóleo subiu 10,5% face ao valor registado em Julho, contribuindo só por si com mais de 0,2 pontos para a variação mensal total do Índice de Preços no Consumidor (IPC) de 0,3%. Já na gasolina, a subida dos preços foi de 8,1%, com um contributo de um pouco mais de 0,1 pontos para a inflação mensal total.
Acrescentando a isto o facto de Agosto de 2022 ter sido um mês em que os preços dos combustíveis recuaram, criaram-se as condições para que se assistisse a uma retoma muito significativa da taxa de variação homóloga dos preços dos combustíveis. Se, em Julho, este indicador ainda era claramente negativo, revelando uma descida de preços face ao mesmo mês do ano passado de 18%, em Agosto a variação homóloga negativa passou a ser de apenas 2,6%.
Segundo o INE, os preços dos combustíveis “contribuíram em 0,7 pontos percentuais para o aumento da variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor”, que em Agosto foi de 0,6 pontos percentuais, de 3,1% para 3,7%.
O INE confirmou ainda, nos dados definitivos da inflação de Agosto publicados esta terça-feira, que a taxa de inflação homóloga subjacente, que exclui os preços da energia e dos bens alimentares, desceu de 4,7% em Julho para 4,5% em Agosto, tendo a inflação nos bens energéticos passado de -14,9% para 6,5% (com a ajuda decisiva dos combustíveis) e a inflação nos bens alimentares diminuído de 6,8% para 6,4%.