O Van Gogh roubado durante a pandemia foi devolvido dentro de um saco azul do Ikea
O detective de arte Arthur Brand, em cooperação com as autoridades dos Países Baixos, conseguiu recuperar o óleo que fora roubado de um pequeno museu nas imediações de Amesterdão em Março de 2020.
O detective de arte Arthur Brand recuperou, em cooperação com as autoridades dos Países Baixos, uma obra do pintor Vincent Van Gogh que tinha sido roubada de um pequeno museu localizado nas imediações de Amesterdão durante a pandemia.
O Jardim do Presbitério Neunen na Primavera, pintura datada de 1884 com etiqueta posterior de 1885, retrata um local da pequena aldeia dos Países Baixos onde viveram os pais de Van Gogh e onde o artista, à data da obra, também residia. O óleo sobre tela está avaliado entre os três e os seis milhões de euros.
Batiam as 3h15 do dia 30 de Março de 2020 (curiosamente, o aniversário de Van Gogh) quando o alarme do museu Singer Laren disparou. A polícia acorreu ao local, mas o assaltante já tinha saído, e com ele a obra de tom soturno. As imagens de vigilância mostravam um homem a partir uma das portas de vidro e a sair com a pintura debaixo do braço direito.
Mais de um ano depois, em Abril de 2021, as autoridades prenderam um suspeito. Nils M. viria a ser condenado a oito anos de prisão efectiva por este assalto, bem como pelo roubo, cinco meses depois, de Dois Rapazes Sorrindo, de Frans Hals, que nunca chegou a aparecer.
Esta terça-feira, Arthur Brand, apelidado de “Indiana Jones” do mundo artístico, confirmou que, em cooperação com as autoridades do país, foi possível reaver a pintura de Van Gogh. Citado pela Agência France Presse, confessou que este foi “um dos melhores momentos da sua vida”. Richard Bronswijk, da unidade de crimes artísticos da polícia dos Países Baixos, diz não haver dúvidas sobre a autenticidade da pintura.
O jornal britânico The Guardian avança que, alguns meses depois do assalto, Arthur Brand soube, através de uma fonte “do mundo do crime”, de alguém que tinha comprado o Van Gogh roubado. Tratava-se do traficante de arte Peter Roy K.
Peter Roy, condenado a 12 anos de prisão por importação e exportação de cocaína a grande escala, pretendia usar o Van Gogh para negociar uma redução de pena. Quando constatou que tal negociação não seria possível, o homem, que enfrenta agora acusações de receptação de artigos roubados, quis devolvê-lo, porque lhe causava “uma enorme dor de cabeça” tê-lo, segundo confidenciou a Brand.
Esta segunda-feira, a obra de arte foi entregue ao detective, em Amesterdão, embrulhada com um plástico bolha, dentro de uma fronha de almofada e num saco azul do Ikea. A entrega foi feita por um homem cuja identidade não foi revelada por questões de segurança, e que não teria qualquer ligação ao crime.
O museu Groninger, proprietário da obra, garante que, embora tenha sofrido danos, a pintura se encontra em bom estado, adianta a Reuters. O Jardim na Primavera, como também é conhecido, encontra-se agora no Museu Van Gogh em Amesterdão para avaliação, e poderá demorar semanas ou meses a regressar ao Groninger.
A polícia enalteceu o papel decisivo do detective de arte no processo. O Jardim do Presbitério Neunen na Primavera junta-se a Os Cavalos de Hitler, de Picasso, e a um anel que um dia pertenceu a Oscar Wilde na lista de casos resolvidos por Arthur Brand. Dois Rapazes Sorrindo, de Frans Hals, continua desaparecida, mas o "Indiana Jones" da arte tem esperança de que também esta obra desaparecida regresse rapidamente à proveniência.
Texto editado por Inês Nadais