Sauditas querem 9,9% da Telefónica mas decisão final cabe a Madrid

Grupo cotado na bolsa de Riade poderá ser o maior accionista privado da operadora espanhola. Executivo de Pedro Sánchez tem de autorizar.

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O grupo que investiu na Telefónica é controlado pelo fundo soberano da Arábia Saudita Reuters/VIOLETA SANTOS MOURA
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O grupo saudita STC (Saudi Telecom Company) quer comprar 9,9% da Telefónica, a maior operadora de telecomunicações espanhola e a antiga incumbente do mercado, com um investimento de 2100 milhões de euros, anunciado na terça-feira ao final da tarde. A operação exige aprovação do Conselho de Ministros espanhol.

Os sauditas destronarão o BBVA, que é, até à data, o principal accionista individual da empresa, com uma posição de 4,87%, seguido pelo CaixaBank, com 3,5%. Os fundos da norte-americana Blackrock detêm também 4,32% do capital.

Segundo a imprensa espanhola, o grupo de telecomunicações da Arábia Saudita (detido em 64% pelo fundo soberano daquele país, segundo o Alarabya News) esclareceu que não pretende assumir “o controlo ou uma posição maioritária” na Telefónica, mas o negócio não deixa de causar tumulto em Espanha, pois o operador histórico do mercado, que é o fornecedor de telecomunicações de milhões de cidadãos e empresas, tem também significativos negócios nos sectores da defesa e segurança do Estado.

Segundo o jornal Cinco Días, o Ministério da Economia de Espanha, liderado por Nadia Calviño, está a analisar as actividades da operadora telefónica liderada por José María Álvarez-Pallete nestes sectores estratégicos.

A partir de Bruxelas, a vice-presidente do Governo de Pedro Sánchez afirmou aos jornalistas que “a Telefónica é uma empresa estratégica” para o país e que o Governo aplicará “todos os mecanismos para garantir todos os interesses estratégicos de Espanha na Telefónica”.

Também a porta-voz do executivo, Isabel Rodríguez, assegurou que existem canais para preservar a “autonomia estratégica” da empresa, mesmo com a entrada dos sauditas no capital.

Por outro lado, o STC Group, cotado na bolsa de Riade (com uma capitalização bolsista de 49.200 milhões de euros, o dobro da Telefónica), garante que pedirá autorização ao Ministério da Defesa de Espanha para completar o negócio, noticia o El País.

A compra de quase 10% do capital da Telefónica será feita através de uma combinação de operações. Os sauditas compraram em mercado acções representativas de 4,9% do capital e também instrumentos financeiros derivados que conferem o direito a mais 5% do capital, uma vez liquidados.

Com a aquisição de uma participação de 9,9%, o negócio fica dentro do limite de 10% da lei “anti-OPA”, ou seja, a lei destinada a proteger as empresas espanholas de sectores estratégicos, que conferem ao executivo a possibilidade de travar os negócios.

Mas o Cinco Días refere que o Governo mudou a lei há três meses e baixou a fasquia para 5% no caso das empresas que operam infra-estruturas de defesa e segurança, como é o caso. Assim, para executar os derivados e obter mais 5% do capital, será necessária a obtenção expressa do Conselho de Ministros de Espanha.

O grupo de telecomunicações detido pelo Estado saudita tem estado a investir em sectores estratégicos na Europa: em Abril anunciou a compra de 4800 torres de telecomunicações na Eslovénia, Bulgária e Croácia.

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