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No sonho de Fullerton-Batten, o chão da Turquia não pode engolir quem flutua
Julia Fullerton-Batten criou um projecto fotográfico para ajudar as vítimas do sismo na Turquia e Síria. A receita da venda das imagens de Faultline Magnitude 7.8 reverte a 100% para ajuda humanitária.
A 6 de Fevereiro de 2023, a terra tremeu violentamente no norte da Turquia e na Síria. Um sismo de magnitude 7.8 na escala de Richter fez desabar o tecto sobre as cabeças de milhares de pessoas. Hoje, seis meses após o trágico incidente, muitas famílias turcas e sírias continuam a precisar de auxílio para refazer as suas casas, as suas vidas – para, no fundo, retomar a normalidade.
A fotógrafa de arte Julia Fullerton-Batten, que visitou a Turquia cerca de um mês após a tragédia, decidiu criar uma campanha de angariação de fundos com base na venda de fotografia que produziria para o efeito. “Iria combinar as fotografias de paisagem que realizei na Capadócia [durante a minha estadia] com imagens que tinha em mente realizar no meu estúdio, em Londres”, explicou ao P3, numa entrevista. As fotografias encontram-se disponíveis para venda no site de Julia e as receitas revertem a cem por cento para a organização não-governamental turca UCIM, que intervém junto das vítimas do sismo.
O resultado do projecto Faultline Magnitude 7.8 é, assim, fruto de manipulação digital, o que não o torna menos belo ou significante. As fotografias dos modelos a saltar num trampolim foram realizadas no estúdio de Julia, em Londres; as melhores foram seleccionadas e justapostas, recorrendo a pós-produção, com as paisagens da Capadócia. “A região tem uma estrutura geográfica única que combina na perfeição com a atmosfera de conto de fada” que pauta as imagens, observa a fotógrafa que nasceu na Alemanha e reside em Londres.
O contributo das pessoas da diáspora turca na capital inglesa foi expressivo e determinante para a realização do projecto. Fullerton-Batten recorreu às redes sociais para encontrar os homens, mulheres e crianças que retratou. “Houve uma reacção imediata e em larga escala [quando lancei o repto nas redes].” “Felizmente, muitas pessoas turcas proeminentes envolveram-se no projecto e espalharam a palavra”, recorda.
Uma dos entusiastas do projecto foi a actriz turca Susku Ekim Kaya, que apresentou a fotógrafa a muitos membros da comunidade turca, incluindo à actiz Berguzar Korel e ao designer de moda Bora Aksu, que acabou por desenhar os figurinos. “As pessoas retratadas são todas turcas”, refere. “Artistas, actores, bailarinos e uma menina que sobreviveu ao sismo e que agora vive em Londres” são os protagonistas. Julia queria incluir pessoas de nacionalidade síria, porém não seria capaz de fazê-lo em tempo útil, sublinha.
“As minhas imagens não pretendem ser chocantes ou trágicas”, esclarece. “Elas evidenciam a vulnerabilidade da espécie humana diante da violência da força da natureza. São teatrais e vivazes, mas mantêm tons marcantes de tragédia e escuridão.”