Papa Francisco lamenta atitude reaccionária na Igreja dos EUA: “O retrocesso é inútil”

Numa conversa com os jesuítas portugueses à margem da JMJ, divulgada esta semana, Francisco voltou a apelar a uma Igreja aberta a todos e reagiu às críticas do clero norte-americano.

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Papa Francisco lamentou o "retrocesso" de sectores mais conservadores da Igreja Católica nos Estados Unidos Nelson Garrido
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Em reacção às críticas que lhe são dirigidas por parte da Igreja Católica dos Estados Unidos, o Papa Francisco lamentou o "retrocesso" de uma facção mais conservadora no país com "uma atitude reaccionária muito forte e organizada", nomeadamente sobre orientação sexual e identidade de género ou a crise climática.

"Gostava de lembrar a essas pessoas que o retrocesso é inútil", disse no início de Agosto numa conversa com os jesuítas portugueses, à margem da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, divulgada esta semana. "A doutrina também progride, dilata-se com o tempo, consolida-se e torna-se mais firme, mas sempre progredindo. A mudança desenvolve-se da raiz para cima."

Questionado em particular sobre o lugar de pessoas homossexuais na Igreja, e referindo as declarações que fez em Lisboa sobre uma Igreja aberta a todos, o Papa foi incisivo. "Penso que o apelo dirigido a 'todos' não tem discussão. Jesus é muito claro: todos. Jesus diz 'sãos e doentes', 'justos e pecadores', todos, todos, todos."

"O que não me agrada nada, de um modo geral, é que olhemos para o chamado 'pecado da carne' com uma lupa, como fizemos durante tanto tempo em relação ao sexto mandamento [não cometerás adultério]. Se explorávamos os trabalhadores, se mentíamos ou fazíamos batota, não interessava, mas sim os pecados abaixo da cintura", acrescentou o Santo Padre, na conversa agora publicada na íntegra no Ponto SJ e na revista italiana La Civiltà Cattolica.

Durante o encontro, Francisco, jesuíta português homónimo do Papa, confessou algo que o "impressionou muito" durante um ano sabático nos Estados Unidos. "Vi muitos, mesmo bispos, a criticar a maneira de o Papa conduzir a Igreja."

Em resposta, o sucessor de Bento XVI reconheceu uma "atitude reaccionária muito forte e organizada" de algumas facções norte-americanas. "A visão da doutrina da Igreja como um monólito é errada. Mas há quem se ponha de lado, quem ande para trás, são aquilo a que chamo 'retrocedistas'", afirmou, declarações invulgarmente explícitas sobre as críticas dos sectores mais conservadores da Igreja, de forma particular vindas dos Estados Unidos.

"[Ao viver num clima de fechamento], perde-se a verdadeira tradição e recorre-se a ideologias para obter apoio. Por outras palavras, a ideologia substitui a fé, a pertença a um sector da Igreja substitui a pertença à Igreja", lamentou o Papa. "Esses grupos americanos de que falas, tão fechados, estão a isolar-se. Quando se abandona a doutrina na vida para a substituir por uma ideologia, perdeu-se, perdeu-se como na guerra."

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