Falar com vítimas de abusos sexuais na Igreja é “experiência dolorosa”, diz o Papa

Reafirmando que a “Igreja está aberta para todos”, o Papa acrescentou, contudo, que, “depois, há legislações que regulam a vida dentro da Igreja”. Falar com vítimas de abusos é “doloroso”, confessa.

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A "Igreja está aberta para todos", disse o Papa Francisco na conferência de imprensa no avião de regresso a Roma Nelson Garrido

O Papa Francisco confessou que é uma "experiência dolorosa" falar com vítimas de abusos e que a Igreja em Portugal está a enfrentar a situação com serenidade.

"Falar com pessoas abusadas é uma experiência muito dolorosa, que também me faz bem, não porque me dê gozo escutar, mas porque me ajuda a assumir a responsabilidade desse drama", afirmou Francisco, na conferência de imprensa no avião que o transportou de Lisboa, onde presidiu à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), para Roma.

Na quarta-feira, na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, o líder da Igreja Católica recebeu um grupo de pessoas que foram vítimas de abusos, como habitualmente faz, para dialogar sobre o que classificou de "tremenda peste". Segundo o Papa, "o processo na Igreja portuguesa vai bem e com serenidade", frisando que se procura "a seriedade nos casos dos abusados".

"Os números, às vezes, acabam por ser empolados, pelos comentários, e isso custa-nos sempre, mas a realidade é que está a ser bem conduzido e isso dá-me uma certa tranquilidade", declarou, reiterando "tolerância zero" aos abusos. Reafirmando que o processo na Igreja portuguesa "está a ir bem" e que está informado de como avança, o Papa considerou que "as notícias, por aí, empolaram-nas, mas as coisas estão a ir bem".

Igreja aberta aos homossexuais, mas "há legislações" na instituição

O Papa Francisco reiterou no domingo que a Igreja está aberta a todos, recuperando a mensagem que repetiu em Lisboa, e incluiu os homossexuais, embora salientando que "há legislações que regulam" a vida da instituição.

"Não gosto de dizer que venham todos, "mas tu isto, tu aquilo...". Todos. Depois, cada um, na oração, no diálogo interior, no diálogo com os agentes pastorais, procure a forma de seguir em frente. Por isso, uma questão como "porque é que os homossexuais não?", [a resposta é] todos", disse Francisco, na conferência de imprensa no avião de regresso a Roma, após a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.

Reafirmando que a "Igreja está aberta para todos", o Papa acrescentou, contudo, que, "depois, há legislações que regulam a vida dentro da Igreja". Segundo o líder da Igreja católica, "isto não quer dizer que esteja fechada, cada um encontra Deus pelo seu próprio caminho, dentro da Igreja, e a Igreja é Mãe, guia cada um, pela sua estrada".

Para Francisco, "o Senhor é claro, sãos e doentes, jovens e velhos, feios e bonitos, bons e maus, mesmo quem tem uma moral feia e uma boa moral". Todos têm lugar na Igreja. "Há uma espécie de olhar que não entende esta inserção na Igreja como mãe, pensa nela como uma espécie de alfândega, "para entrar deves fazer isto ou fazes desta forma e não de outra"", adiantou.

De acordo com Francisco, "outra coisa é a ministerialidade, que é o modo de levar por diante a Igreja". "Uma das coisas importantes é a paciência na ministerialidade, acompanhar as pessoas, passo a passo, no seu caminho de amadurecimento", adiantou, rejeitando reduções.

Francisco frisou que "isto não é eclesial, é gnóstico, uma heresia gnóstica que hoje está um pouco na moda, que reduz a vida eclesial a ideias". "E isso não ajuda. A Igreja é mãe, recebe todos e cada um faz o seu caminho, dentro da Igreja, sem publicidade. Isto é muito importante", acrescentou.

Na JMJ, em Lisboa, o Papa Francisco repetiu a mensagem, aos jovens e aos fiéis, de que a Igreja deve ter as "portas abertas" e tem espaço para todos. "A todos, todos, todos", disse logo na cerimónia de acolhimento, na quinta-feira, repetindo-o também no sábado, na vigília com os jovens, junto ao rio Tejo.