Papa critica a “terrível guerra mundial” contra o ambiente e anuncia novo texto

Documento será continuação da influente encíclica Laudato Si’, de 2015, em que Francisco se pôs ao lado dos cientistas na questão das alterações climáticas, e será divulgado a 4 de Outubro.

Foto
Papa Francisco na audiência geral no Vaticano, esta quarta-feira REMO CASILLI/REUTERS
Ouça este artigo
00:00
02:49

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Papa Francisco anunciou esta quarta-feira que vai divulgar um novo documento sobre a protecção da Natureza, sublinhando que o vai fazer porque está em curso “uma terrível guerra mundial” contra o ambiente.

O documento será divulgado a 4 de Outubro, dia de São Francisco de Assis, santo padroeiro do Ambiente, disse Francisco nesta quarta-feira, dia da audiência geral no Vaticano. Será a continuação da influente encíclica Laudato Si' (Louvado Sejas), de 2015, que se considera ter influenciado decisões importantes como o Acordo de Paris, com o objectivo de limitar as emissões de gases com efeito de estufa e as alterações climáticas, alcançado no final desse ano.

Na encíclica, a forma mais importante de comunicação papal, Francisco dizia existir “um consenso científico muito consistente que indica que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático”. O clima, diz a encíclica, “é um bem comum, de todos e para todos”. Apelava à necessidade de enfrentar os riscos das alterações climáticas e reduzir o uso dos combustíveis fósseis.

O novo documento pretende actualizar a encíclica Laudato Si' de 2015 em relação a novos problemas, disse o Papa. Será uma exortação apostólica, que transmite um ensinamento do Papa sobre um tema com o objectivo de encorajar uma actividade ou uma virtude particular.

Descrevendo a natureza como “uma dádiva sagrada do criador”, o Papa incentivou as pessoas a tomarem o lado “das vítimas de injustiça ambiental e climática”. Francisco apelou a que se ponha fim “à guerra sem sentido contra a nossa casa comum, é uma terrível guerra mundial”.

O enviado espacial dos Estados Unidos para o Clima e ex-secretário de Estado norte-americano John Kerry disse à Reuters em Junho, depois de se ter encontrado com o Papa, que a encíclica de 2015 tinha tido “um impacto profundo” na Conferência das Alterações Climáticas das Nações Unidas em 2015, onde foram estabelecidas metas para tentar limitar as alterações climáticas (não ultrapassar 1,5 graus de aquecimento global ou, no máximo, dois graus; até agora, a temperatura média do planeta já aumentou 1,2 graus em relação ao que era antes da Revolução Industrial).

Nos oito anos que passaram desde que foi publicada a Laudato Si', o mundo tem assistido a um aumento em fenómenos meteorológicos extremos, como ondas de calor mais intensas e prolongadas, incêndios florestais mais frequentes e furacões fortes.

Francisco disse no mês passado que estes fenómenos extremos demonstram que é necessária acção urgente para lidar com as alterações climáticas, e apelou aos líderes mundiais para que “façam algo de concreto para limitar as emissões [de gases] poluentes”.

Após a publicação da encíclica Laudato Si', alguns católicos conservadores aliaram-se com movimentos políticos conservadores e grupos de interesse económicos, sobretudo nos Estados Unidos, para criticar furiosamente o Papa por ter defendido que o aquecimento global se deve à actividade humana, como é consenso científico e tal como defende a esmagadora maioria dos cientistas em todo o mundo.