Wallace formaliza demissão e Shapps é o novo ministro da Defesa do Reino Unido
Primeiro-ministro conservador escolhe um aliado próximo para uma das pastas mais importantes do Governo britânico. Coutinho, também próxima de Sunak, assume Ministério da Segurança Energética.
O ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, formalizou esta quinta-feira a sua demissão do Governo liderado por Rishi Sunak, cerca de um mês depois de ter anunciado que queria abandonar o cargo que ocupava há quatro anos, por motivos pessoais e familiares.
Para o seu lugar, o primeiro-ministro conservador nomeou Grant Shapps, um dos seus principais aliados dentro do executivo e do partido, e para o posto que Shapps ocupava – ministro da Segurança Energética –, foi escolhida outra pessoa próxima: Claire Coutinho.
Com o Partido Conservador envolto há vários meses em guerras internas e em lutas entre facções – num processo turbulento que tem raízes nas disputas sobre o “Brexit” e no afastamento de Boris Johnson da chefia do Governo, em Julho do ano passado –, que não param de enfraquecer a liderança de Sunak, as escolhas de Shapps e de Claire Coutinho parecem ser opções estratégicas para proteger o primeiro-ministro e reforçar o seu núcleo duro em Downing Street.
Sam Coates, editor-adjunto da secção de Política da Sky News, diz que Shapps e Coutinho não foram nomeados para os respectivos cargos “apenas por causa das suas competências, mas porque têm estado agarrados a Rishi Sunak”.
O caso de Grant Shapps parece ser prova disso mesmo. Sem antecedentes ou experiência militar, ao contrário, por exemplo, dos seus dois antecessores, Ben Wallace e Penny Mordaunt, Shapps vai para o quinto cargo ministerial em apenas um ano. Três deles (Comércio, Segurança Energética e, agora, Defesa) foram com Sunak ao leme.
Agora herda uma das pastas mais importantes de um dos Estados-membros da NATO que mais tem contribuído, com ajuda financeira e militar, para o esforço de guerra na Ucrânia, e que teve em Wallace uma figura reconhecida e apreciada internacionalmente pelo seu papel no apoio a Kiev.
“É uma honra ser nomeado ministro da Defesa por Rishi Sunak. Gostava de prestar tributo ao enorme contributo que Ben Wallace fez para a defesa do Reino Unido e para segurança global nos últimos quatro anos”, escreveu o novo ministro no X (antigo Twitter).
“Estou entusiasmado por poder trabalhar com os corajosos homens e mulheres das nossas Forças Armadas que defendem a segurança da nossa nação. E por poder prosseguir o apoio do Reino Unido à Ucrânia, na sua luta contra a invasão bárbara de Putin”, acrescentou.
Já Coutinho – que é descendente de emigrantes indianos da antiga colónia portuguesa de Goa – torna-se a primeira deputada eleita pela primeira vez nas últimas eleições (2019) a ser promovida a ministra. Subsecretária de Estado no Ministério da Educação há menos de um ano, foi assessora de Sunak quando este estava no Ministério das Finanças.
A pasta da Segurança Energética também inclui o importante dossier da neutralidade carbónica, um debate que tem marcado a actualidade política britânica nas últimas semanas, em grande medida por causa do alargamento da Zona de Emissões Ultrabaixas (ULEZ, na sigla em inglês) na cidade de Londres, decidido pelo presidente trabalhista da câmara da capital, Sadiq Khan, que implica o pagamento de uma taxa diária para os detentores de veículos mais poluentes.
Claire Coutinho, que já se manifestou, no passado, contra a expansão da ULEZ, também recorreu ao X para dizer que está “encantada” por ter sido nomeada ministra e prometeu “trabalhar com o primeiro-ministro para salvaguardar” a “segurança energética” do Reino Unido e para “reduzir as facturas das famílias e para desenvolver energia limpa, barata e nacional”.
O adeus de Wallace
Em Julho, Wallace, já tinha anunciado a intenção de abandonar o executivo durante a remodelação ministerial seguinte por desejar dedicar mais tempo à família. Na altura, o ministro disse estar na política há 24 anos e afastou a hipótese de poder vir a ser candidato pelo Partido Conservador às próximas eleições legislativas, previstas para 2024.
Esta quinta-feira, a imprensa britânica cita uma carta enviada por Wallace a Sunak na qual a decisão é formalizada. “Quero investir em partes da minha vida que tenho negligenciado e explorar novas oportunidades”, afirma o ex-ministro.
Wallace foi um aliado de Boris Johnson, mas manteve-se fiel a Sunak, rejeitando apoiar as acusações de que o afastamento do ex-primeiro-ministro foi injusto ou concertado. O nome do ex-ministro da Defesa chegou a ser avançado como uma hipótese para ser candidato à sucessão de Johnson e até como sucessor de Jens Stoltenberg na liderança da NATO, mas ambos os cenários caíram rapidamente por terra.
Ben Wallace foi também um dos raros ministros a “sobreviver” no mesmo cargo à sucessão de chefes de Governo tories dos últimos anos, tendo servido com Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak.
Johnson elogiou Wallace no X, referindo-se a ele como “amigo”. “Um bom ministro da Defesa que tomou tantas boas decisões – especialmente em relação à Ucrânia”, escreveu o antigo chefe do Governo tory. com João Ruela Ribeiro