Grandes slogans da publicidade

Este slogan mostra-nos como em 1999 antes se vendia um “computador multimédia por apenas 5900 escudos por mês”. Mas há mais.

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adriano miranda
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Os empresários portugueses tinham problemas muito graves nos anos 90. Uma das campanhas publicitárias que então fizeram parte das páginas do PÚBLICO prometia uma solução “se os telefones eróticos” estivessem “a aumentar as contas da sua empresa”. Para haver um anúncio que prometia acabar com este flagelo nacional é porque este tipo de chamadas se massificou ao ponto de deixar muita gente de cabelos em pé quando recebiam a conta do telefone.

A publicidade da empresa de soluções telefónicas A Beltrónica deixa-me, por isso, com muitas dúvidas, mais de três décadas depois de ter sido publicado. Não querendo maçar com todas as questões que me passaram pela cabeça quando vi o anúncio, pergunto tão-simplesmente: quem é que usava o telefone do trabalho para ligar a linhas telefónicas onde pessoas com voz sensual prometiam o prazer eterno sob forma de onomatopeias variadas e gemidos estridentes?

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Muitas das grandes questões da humanidade estão ainda sem resposta e temo que esta pergunta também vá ficar, mas é certo que um país também se avalia pelos anúncios e pelo que estes denunciam. Até porque houve um tempo em que, nos jornais, a publicidade se vendia como pãezinhos quentes numa tarde fresca de Outono. Tempos esses em que não havia cookies nem pop-ups infinitos e os publicitários andavam inspirados (e com dinheiro para grandes campanhas).

“Futebolista brasileiro usa NIB português para receber dinheiro” foi o slogan utilizado para promover a utilização do, então novo, Número de Identificação Bancário (NIB), “que facilita o vai e vem do seu dinheiro”.

Também a Vodafone queria que o leitor “receba políticos e desportistas ao acordar”, subscrevendo um serviço matutino de notícias por SMS. Não sei quem acharia boa ideia receber políticos e desportistas nas primeiras horas da manhã, mas alguém achou que sim. Os desportistas devem acordar cheios de energia e os políticos talvez dessem sono a muita gente. Dá mesmo para todos.

Por falar em políticos, na era de Cavaco, o Partido Socialista publicou uma campanha em que um jovem aparecia com um ar preocupado em cima de uma mota, mas sem capacete. “O Governo laranja só me dá música!!!” Já do oposto gabava-se a antiga Radiodifusão Portuguesa (RDP), hoje integrada na Rádio e Televisão de Portugal, que prometia estações de rádio com gente a falar de coisas e onde a música não seria a repetição das mesmas canções em modo de ciclo vicioso ao longo do dia. Excepção feita para a actual Antena 2 [antes RDP2 Rádio Cultura] que trazia “o som dos momentos mais belos e elevados produzidos pela civilização a que pertencemos”. A letras garrafais, a RDP escrevia que “os homens não são todos iguais, nem, claro está, as mulheres”, deixando uma mensagem de que “as leis que regem [a oferta de mercado] não podem contemplar o universo humano porque o humano é mais complexo do que ele [o mercado]” e, por isso, a rádio pública “tem por missão chegar aos ouvidos onde as outras rádios não chegam”, defendendo que “a rádio é um direito de todos".

Mas o melhor slogan mostra-nos como antes se vendia um “computador multimédia por apenas 5900 escudos por mês” (cerca de 29 euros) comprado a crédito por 36 meses, com “a oferta de 52 CD-ROM” com “jogos, simuladores e programas educativos”. Se fosse pago a pronto, em 1999, o computador custava perto de mil euros. Nessa altura vendiam-se computadores com a promessa de que “bater na irmã mais nova vai deixar de ser a única diversão do seu filho”. Pouco interessavam a RAM e os bits, desde que o puto ficasse sossegado.

Todas as segundas-feiras, mergulhamos no arquivo do PÚBLICO para recordar histórias de outros tempos.

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