Desta vez, Gianmarco Tamberi não dividiu o ouro com ninguém

Italiano triunfou no salto em altura nos Mundiais de atletismo em Budapeste. Liliana Cá foi oitava na final do disco que teve uma vencedora inesperada.

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Tamberi no banho da vitória ao lado de Bakkali, vitorioso nos 3000m obstáculos EPA/CHRISTIAN BRUNA
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Gianmarco Tamberi é um daqueles atletas que carrega consigo uma dose muito saudável de loucura. O saltador italiano tem por hábito aparecer em prova com metade da cara barbeada e a outra metade com uma sombra de três dias e é daqueles que gosta de abraçar toda a gente – foi memorável aquele momento em que acabava de ganhar o título olímpico em Tóquio e foi logo o primeiro a abraçar o seu compatriota Marcel Jacobs, triunfante na final dos 100m, e nem Patrícia Mamona lhe escapou naquela tarde na capital japonesa. O seu título olímpico tem um asterisco: foi partilhado com Mutaz Barshim, o seu rival qatari, por acordo mútuo porque nenhum queria ir ao desempate.

Mas nos Mundiais de atletismo que estão a decorrer em Budapeste, Tamberi não teve de partilhar o ouro com ninguém. Foi ele quem venceu a final do salto em altura, ultrapassando a fasquia colocada a 2,36m, naquela que foi a sua primeira medalha em Mundiais – e, tal como nos habituou desde sempre, com metade da cara barbeada e cabelo comprido. Ainda tentou aquele que seria um novo recorde de Itália (a 2,40m), mas passou a correr pelo colchão sem sequer saltar.

Era o último sobrevivente no concurso e já não precisava daquele salto para ganhar. Atrás dele ficaram o norte-americano JuVaughn Harrison (2,36m, com mais derrubes que Tamberi) e Barshim, o qatari com quem o italiano dividira o ouro. E depois ainda foi dar um mergulho na água dos 3000m obstáculos para celebrar ao lado dos medalhados dessa prova. Um "italiano vero" como cantou Toto Cotugno, cuja morte fora anunciada pouco tempo antes do título de Tamberi.

O quarto dia dos Mundiais fechou com duas finais na pista, os 1500m femininos e os 3000m obstáculos masculinos. Na milha métrica, venceu quem se esperava, a queniana Faith Kipyegon, recordista mundial e bicampeã olímpica – foi o seu terceiro título mundial na distância. Nos outros lugares do pódio, ficaram a etíope Diribe Welteji e a neerlandesa Sifan Hassan, que só entrou na luta pelas medalhas na curva final antes da meta.

Nos 3000m obstáculos, foi, como se esperava, uma luta africana. O marroquino Soufiane El Bakkali renovou o seu título na distância, acelerando para o ouro no último obstáculo aquático perante a concorrência do etíope Lamecha Girma, que juntou mais uma medalha de prata à sua colecção – foi a terceira em Mundiais, sem nunca ter chegado ao ouro. Mais atrás, Abraham Kibiwot salvou a honra queniana no evento e segurou o bronze.

Liliana Cá oitava

A presença portuguesa no quarto dia dos Mundiais de Budapeste resumia-se a Liliana Cá, na final feminina do lançamento do disco. Depois de um sexto lugar em Eugene 2022, a experiente atleta portuguesa conseguiu ir até ao final do concurso, mas não melhorou a sua classificação do ano passado, ficando-se pelo oitavo lugar. Cá não começou muito bem, com 58,86m e um nulo nos seus dois primeiros ensaios, mas, ao terceiro, lançou a 63,59m (melhor do que tinha feito na qualificação, 63,34m) e conseguiu aceder aos três lançamentos finais, em que não conseguiu melhorar – dois nulos e um a 62,49m. Ainda assim foi uma boa prestação da atleta portuguesa numa final de nível muito elevado e que teve uma vencedora inesperada.

Laulauga Tausaga estava bem longe das favoritas e durante metade do concurso andou no meio da tabela, mas, ao quinto ensaio, a lançadora nascida no Havai arremessou o disco a 69,49m, ultrapassando por mais de quatro metros o seu antigo recorde pessoal e fixando-se na frente, deixando para trás a sua compatriota Valarie Allman (a melhor dos últimos 30 anos) e a chinesa Bin Feng, campeã em 2022, respectivamente prata e bronze com 69,23m e 68,20m. De fora das medalhas ficou a supercampeã croata Sandra Perkovic, apenas quinta com 66,57m.

Nesta quarta-feira, no quinto dia dos Mundiais de Budapeste, o grande destaque da participação portuguesa será a presença de Isaac Nader na final dos 1500m, uma prova com tradição no atletismo português – Carla Sacramento chegou a ser campeã mundial em Atenas 1997 e bronze em Gotemburgo 1995, e Rui Silva ficou com o bronze em Helsínquia 2005. O fundista de 24 anos vai correr às 20h15 (hora de Lisboa) já com a garantia que vai fazer melhor do que em Eugene (foi 40.º, não passando das eliminatórias), numa prova em que o grande favorito é o norueguês Jakob Ingebrigtsen, campeão olímpico e vice-campeão mundial da distância.

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