Extracção de petróleo na Amazónia vai a votos no Equador

Dez anos depois do início da exploração petrolífera numa das reservas de maior biodiversidade do mundo, indígenas e ambientalistas conseguiram levar a questão a referendo.

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Uma indígena durante um protesto contra o Governo de Guillermo Lasso ADRIANO MACHADO/Reuters
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A violência da campanha eleitoral não permitiu que o tema tivesse muito destaque, mas, para além de votarem nas eleições presidenciais e legislativas, os equatorianos que forem às urnas este domingo devem ainda decidir se o petróleo que existe na floresta amazónica deve ser “mantido indefinidamente no subsolo”, travando assim a sua extracção. Os três campos em causa, conhecidos como Bloco 43, estão no Parque Natural Yasuní, uma das reservas de maior biodiversidade do mundo: uma activista ouvida pelo jornal The Guardian chama à consulta “uma oportunidade única na vida”.

“Lutámos dez anos por este referendo”, disse ao diário Le Monde Antonella Calle, uma das fundadoras do movimento Yasunidos. A confirmarem-se as sondagens que antecipam a vitória do “sim”, a empresa estatal Petroecuador terá um ano para fechar os poços – de onde sai cerca de 12% da produção de petróleo do país – e restaurar a floresta.

O Equador só tem 2% da floresta da Amazónia: “E, no entanto, no meu país existem 52% de todos os blocos de exploração petrolífera na Amazónia. É do Equador que sai 89% de todo o petróleo extraído da Amazónia”, dizia, em Dezembro, Alicia Guzman, co-coordenadora da coligação Amazónia para a Vida, numa conferência de imprensa na Conferência da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica (COP15), citada pelo PÚBLICO.

No Parque Natural Yasuní vivem ainda o povo Waorani e os últimos povos indígenas do país em isolamento voluntário, os Tagaeri e os Taromenane.

Foi em 2013 que o então presidente, Rafael Correa, decidiu avançar com a extracção de petróleo nestes 2000 hectares de floresta. Logo depois, surgia o movimento Yasunidos, que recolheu 750 mil assinaturas em defesa de um referendo. Passados dez anos, o Supremo Tribunal autorizou a realização da consulta.

“Agora a decisão é nossa: podemos mudar o curso da história e dizer ‘sim’, podemos todos ser defensores da Mãe Terra e proteger o nosso futuro”, disse ao Guardian a líder Waorani e activista Nemonte Nenquimo, descrevendo o referendo como “uma oportunidade única na vida”. “A extracção petrolífera não é desenvolvimento”, defendeu. “Basta olharmos para os factos para vermos a verdade: o petróleo causa pobreza, contaminação e morte.”

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